Quando não é possível respirar, quando falta o oxigênio e ficamos sufocados, então percebemos a aproximação da morte. Sem o hálito vital chegamos à compreensão da raiz do termo hebraico “ruah”, que corresponde ao Espírito, à experiência do soprar, o movimento do ar, o vento da vida. A partir desta realidade entendemos o Espírito como uma força vital, uma vitalidade dinâmica e somente Deus pode “controlar” este vento como reza o salmista: “Envias teu espírito, eles são criados e renovas a face da terra.”[1] Caso aconteça uma forte emoção parece-nos faltar “ruah” como aconteceu com a rainha de Saba frente o esplendor da realeza de Salomão – “ficou pasma.”[2]

 

Na sinagoga de Nazaré, Jesus leu o livro de Isaías: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pois ele me ungiu para anunciar o evangelho aos pobres: enviou-me para proclamar a liberdade aos presos e, aos cegos, a visão; para pôr em liberdade…”[3] Segundo os quatro evangelistas, Jesus é movido pelo Espírito Santo de Deus que pousou sobre ele no momento do Batismo: “Logo ao sair da água, viu os céus se rasgarem e o Espírito, como pomba, descer sobre ele. E dos céus veio uma voz: Tu és o meu Filho amado, em ti, eu me agrado.”[4] Jesus é o lugar do Espírito Santo e dele recebemos este dom na manhã de Pentecostes e no sacramento do Batismo / Confirmação.

 

Antes da chegada do Espírito Santo no dia de Pentecostes, não podemos afirmar que já havia uma comunidade cristã – Igreja – no sentido pleno da expressão. Era apenas um grupo de pessoas assustadas, medrosas e inseguras diante dos últimos acontecimentos ocorridos em Jerusalém.[5] Depois da Ascensão de Jesus, o evangelista Lucas observa que os Apóstolos estão todos olhando para o céu esquecendo de continuar a missão evangelizadora. Os mensageiros de Deus alertam os apóstolos dizendo que Jesus foi arrebatado para o céu e caberá a eles tomar o seu lugar na terra para prosseguir a sua obra superando o medo das perseguições e da morte.[6] A missão dos seguidores de Jesus se dá à luz do Espirito Santo de Deus. Eles, como Igreja – povo peregrino de Deus / comunidade de fé – são chamados à responsabilidade de discernir no cotidiano da história e a não apagar a luz do Espírito que sopra para a missão.[7]

 

  1.    Pentecostes, a festa do Espírito Santo

Pentecostes é uma festa judaica celebrada cinquenta dias após a páscoa, quando os judeus recordavam o dom da Lei e da Aliança no Sinai, entre Deus e Israel. Nesta festa, quando vemos a primeira configuração do povo de Deus, os judeus renovavam a Aliança e lembravam a antiga festa da colheita. Segundo o evangelista Lucas o Espírito Santo é o novo dom de Deus, que ocupa o lugar da antiga lei recebida por Moisés no monte Sinai e conduz todos à plenitude da Aliança. No lugar das tábuas de pedra, onde estavam gravados os mandamentos, Lucas apresenta o Espírito Santo, que chega esculpindo no coração a memória de Jesus, enviando-os para a missão.

 

Para Lucas, a efusão do Espírito Santo no quinquagésimo dia após a páscoa, dez dias depois da Ascensão do Senhor, a qual foi precedida por quarenta dias de aparições – encontros – com Jesus ressuscitado, pode ser comparada ao dom da aliança, quando foi entregue o decálogo que garantia vida para todos.[8] Com a chegada do Espírito Santo, o evangelista mostra o nascimento do novo Israel, a Igreja. Nela reconhecemos a ação do Espírito Santo que inspirou as Escrituras, que se manifesta na Tradição e no Magistério, na oração e na liturgia sacramental, nos carismas e ministérios, no testemunho dos santos e na missão.[9] Na comunidade cristã vemos o novo povo de Deus que recebe o dom do Espírito e parte para a missão evangelizadora em saída missionária como recorda o Papa Francisco na Evangelii Gaudium.[10]

 

Quem conduz a Igreja desde os tempos apostólicos é o Espírito de Jesus Cristo ressuscitado. Depois da páscoa, o primeiro dom dado aos discípulos do Senhor foi o Espírito Santo em Pentecostes, que inaugura o tempo da Igreja “até que Ele venha.”[11] O Espírito Santo é quem sopra e guia a Barca de Pedro no oceano da história quer nos períodos de bonança ou nas tempestades que agitam e assustam os navegantes. Nas primeiras comunidades cristãs encontramos testemunhos lapidados que o Espírito é o principal protagonista da vida da Igreja, a qual se espalhava pela face da terra como resposta ao imperativo missionário de Jesus – “Ide pelo mundo inteiro e proclamai o evangelho…”[12] Nos Atos dos Apóstolos as comunidades acolhem as decisões tomadas à luz e segundo o Espírito Santo: “Nós, os apóstolos e os anciãos, vossos irmãos… /…/ pois decidimos, o Espírito Santo e nós, não vos impor nenhum outro peso, além destas coisas…”[13]

 

Desde a manhã de Pentecostes, que para os judeus era memória do dom da lei no Sinai, e para os cristãos marca a chegada do dom do Espírito Santo simbolizado no vento impetuoso e no fogo, os apóstolos unidos na fé em Jesus Cristo ressuscitado, são transformados e formam a Igreja.[14] Da ação do Espírito Santo nasce a Igreja aberta à diversidade das línguas e etnias. A festa de Pentecostes, diferente da confusão das línguas por ocasião da construção da torre de Babel, que foi uma tentativa de construir a história sem fazer referência a Deus, aponta para a unidade na diversidade.[15] A língua dos seguidores de Jesus é o amor derramado na efusão do Espírito Santo, que os empurra para a missão de testemunhar o Ressuscitado e anunciar o seu evangelho sem medo daqueles que ameaçam de morte.[16]

 

2.    A ação do Espírito Santo nas pessoas e nas comunidades

A partir da festa de Pentecostes os discípulos se transformam em autênticas testemunhas do Ressuscitado sem nenhum medo de arriscar a própria vida. O primeiro mártir, depois de Cristo, foi Estevão, um dos diáconos escolhidos pelos apóstolos, por volta do ano 36 d. C., para servir as viúvas da comunidade.[17]

 

2.1.     O testemunho de Estevão

De origem judaica, mas de língua grega, Estevão pertencia ao grupo dos helenistas e seu discurso não foi contra o templo e outros lugares de culto, mas contra todas as modalidades e tentativas religiosas de fechar Deus em um determinado espaço. Estevão, cheio do Espírito Santo, dava testemunho de Cristo ressuscitado. Ele morreu apedrejado pelos judeus, e enquanto olhava para o céu, via a glória de Deus e via também Jesus, à sua direita.[18]

 

Claro que o autor do livro dos Atos dos Apóstolos traça um paralelo entre o martírio de Estevão e aquele de Jesus.[19] As últimas palavras de Estevão – “Senhor Jesus, acolhe o meu espírito. Dobrando os joelhos, gritou com voz forte: Senhor, não lhes atribua este pecado” – recordam as palavras ditas por Jesus na cruz: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito”.[20] Diante dos martírios, que se sucedem desde os primórdios da Igreja, podemos questionar: por que o Espírito Santo não intervém para poupar os discípulos de Jesus das tribulações?

 

2.2.     O Paráclito – defensor

Jesus advertiu os discípulos sobre a realidade das perseguições. Mas também lhes disse que daria um Paráclito defensor.[21] As perseguições e o martírio não escandalizaram as comunidades cristãs, mas as abriram para a missão em outras terras onde também sofreram tribulações. Importa perceber no caminho das comunidades a ação, muitas vezes silenciosa, do Espírito Santo e as intervenções de Deus mediante a terceira pessoa da Trindade. Ele é quem empurra para a missão, inspira os missionários e dirige os passos da Igreja desde a sua origem.[22]

 

O Espírito Santo atua nos cristãos e em toda a Igreja. O próprio Jesus, na última ceia, afirmou que o seu Espírito ajudaria os discípulos a dar testemunho dele até os confins da terra.[23] É o Espírito Santo, desde o sopro de Jesus Cristo ressuscitado em Pentecostes, que ilumina e impulsa os discípulos a continuar a obra evangelizadora. É o mesmo Espírito recebido no sacramento do Batismo, que ajuda os cristãos a celebrar a memória de Jesus Cristo na eucaristia que os sustenta.[24] À luz do Espírito Santo a comunidade e cada um dos discípulos se transformam em memórias vivas e originais de Jesus ressuscitado no meio do mundo. A vitória sobre a morte, o sopro do Espírito Santo no Cenáculo de Jerusalém, se perpetua na Igreja que oferece os sacramentos para todos os seguidores do Profeta da Galileia.

 

3.     Ações ordinárias e prodigiosas do Espírito, mas sempre livres

O Espírito Santo age de modo “ordinário” e n’outras ocasiões de modo prodigioso e sempre em prol da vida e do bem da comunidade. Nos Atos dos Apóstolos vemos alguns milagres operados por meio dos apóstolos e outros cristãos. Tais prodígios são sinais da ação do Espírito Santo mediante os membros da Igreja e suscitam a fé das pessoas. De outra parte, não faltaram situações e tentativas de manipulação do Espírito como foi o episódio de certo Simão que praticava magia e foi reprovado por Pedro.[25] O apóstolo sabe que o Espírito Santo não se deixa manipular e muito menos se coloca a serviço de pessoas com interesses estranhos ao evangelho.[26]

 

A ação do Espírito Santo na Igreja não se manifesta apenas nos milagres e prodígios, mas também no interior dos corações animados pela fé, que se expressa na alegria de testemunhar o evangelho e na luta constante contra o Mal. Consideram-se ainda os diversos carismas e ministérios suscitados pelo Espírito nas comunidades que acolhiam as orientações dos apóstolos. O próprio Paulo escrevendo à comunidade dos Tessalonicenses, pouco tempo após sua viagem missionária àquela região, agradece porque suas palavras como também as palavras de Silvano e Timóteo foram acolhidas não como de homens, mas como verdadeira “palavra de Deus.”[27] A comunidade reconhece a autoridade e a ação do Espírito Santo nos apóstolos e nos seus líderes.

 

4.     As Escrituras inspiradas

Nas comunidades começaram a aparecer muitos escritos sobre Jesus. Destes primeiros textos destacam-se as cartas de Paulo, que pouco a pouco foram transmitidas às comunidades – Igreja.[28] No espaço de algumas décadas o testemunho do Ressuscitado passou da forma oral à escrita. No chão das comunidades, à luz do Espírito Santo surgiram os evangelhos, bem como alguns textos semelhantes às homilias como é o caso da Carta aos Hebreus. Elaboraram também os ensinamentos catequéticos e pastorais que começaram a circular nas comunidades e se espalharam nas diferentes áreas geográficas e culturais, com particular expansão no interior do império romano, a ponto de mais tarde a sede da Igreja se estabelecer na cidade de Roma, o que justifica o título de Igreja Católica, Apostólica e Romana. É Católica porque Cristo está presente na Igreja – “Ela é o Corpo de Cristo / Cabeça” – que superou as fronteiras do império romano e abraçou a inteira humanidade na fraternidade universal cumprindo o mandato missionário do Salvador. Apostólica porque seu alicerce se fundamenta nos Apóstolos, escolhidos por Jesus para continuar a sua obra, guardar e transmitir a sua mensagem, em comunhão com Pedro, à luz do Espírito Santo, até a sua volta gloriosa.[29]

 

Foi o Espírito que inspirou e suscitou os textos que os cristãos reconheceram como Escrituras Sagradas – hoje chamadas de Novo Testamento – junto àquelas do povo de Israel – o Antigo Testamento.[30] Assim como as antigas Escrituras dos judeus foram elaboradas à luz do Espírito de Deus, também os novos textos foram acolhidos como Palavra de Deus. Sem mudar o jeito de inspirar e guiar o povo de Israel, o Espírito Santo mantém o seu estilo e conduz a Igreja compreendida como novo povo de Deus / novo Israel. A Igreja, finca suas raízes na lei e nos profetas e acolhe Jesus de Nazaré como o Messias prometido. Jesus veio dar pleno cumprimento às Escrituras que são inspiradas por Deus.[31]

 

Um dos grandes desafios das primeiras comunidades cristãs foi sem dúvida aquele de escrever a sua fé na pessoa de Jesus e escolher entre tantos escritos aqueles que deveriam ser considerados sagrados e normativos para todos os seguidores do Ressuscitado. O próprio evangelista Lucas nos conta esta realidade: “Visto que muitos já tentaram compor uma narração dos fatos que se cumpriram entre nós – conforme no-los transmitiram os que, desde o princípio, foram testemunhas oculares e ministros da Palavra – a mim também pareceu conveniente, após acurada investigação de tudo desde o princípio, escrever-te de modo ordenado, ilustre Teófilo”.[32]

 

A Igreja sempre zelou por este testemunho que recebemos dos primeiros seguidores de Jesus. Hoje, como naquele tempo, estes Escritos são alimentos saboreados por nossas comunidades que caminham renovando sua esperança e fé em Jesus Cristo. Considera-se que os evangelhos tiveram sua origem dentro das comunidades, que há vários anos vinham cultivando a fé no Cristo ressuscitado. Os primeiros cristãos viviam e celebravam a memória de Jesus conforme informa o evangelista.[33]

 

As primeiras comunidades escreveram outros evangelhos e muitos livros que não fazem parte do Novo Testamento. Estes escritos não foram considerados inspirados por Deus ou sagrados. Eles eram lidos pelos fieis das comunidades, mas não podiam ser usados nas celebrações e nem serviam à catequese. Dentre estes antigos textos podemos destacar: o evangelho de Pedro, o evangelho de Tomé, os Atos de Paulo, as Cartas de Barnabé e o Apocalipse de Paulo. A Igreja, por muitos séculos considerou estes textos como perigosos e heréticos, porque eles poderiam levar a concepções confusas da religião cristã. Hoje percebemos que estes escritos apócrifos nos ajudam a conhecer a diversidade de meditações e informações que circulavam nas primeiras comunidades.

 

5.     Os ministérios e carismas, dons do Espírito

O Espírito Santo suscita carismas e ministérios nas comunidades. Dele procedem os dons e nele cada pessoa encontra forças para renovar sua adesão a Deus e à Igreja. O Pai chama, pela mediação de Cristo, o Filho, que nos comunica o Espírito Santo, que dá a força para correspondermos plenamente ao convite divino. Deus, que se revela como “comunhão de pessoas” nos chama ao seguimento do Filho à luz do Espírito Santo, fonte de todas as vocações. É o Espírito Santo que garante a comunhão dos vocacionados, dos ministérios e carismas que ele suscita no meio do povo de Deus.[34]

 

No decorrer dos séculos o Espírito Santo suscitou uma grande quantidade de ministérios e carismas na comunidade eclesial. Houve momentos de muito florescimento e outros em que os ministérios se reduziram àqueles ordenados: bispos, padres e diáconos. A partir do Concílio Vaticano II a Igreja recuperou o dinamismo das comunidades do Novo Testamento e incrementou a concepção de uma Igreja ministerial na diversidade de vocações, ministérios, carismas e funções para atender o povo de Deus. Desde as primeiras comunidades cristãs percebemos a ação do Espírito Santo, que prolonga historicamente a missão de Jesus Cristo na multiplicidade de dons e carismas edificando a Igreja.[35]

 

6.    Os sinais do Espírito Santo: ruído, vento e fogo

Ao descrever os sinais que indicam a chegada do Espírito Santo – ruído, vento e fogo – Lucas afirma que eles vieram do céu.[36] O evangelista deixa claro que não se trata de produções humanas, mas são dons que vem de Deus, conforme Jesus havia prometido.[37] As manifestações do Espírito Santo descritas pelo evangelista são típicas no Antigo Testamento.[38] A imagem do vento, que provoca movimento e rumor, recorda o livro do Gênesis, quando o Espírito de Deus pairava sobre as águas na criação. No evangelho de João, Jesus, dialogando com o fariseu Nicodemos, também relaciona a imagem do vento ao Espírito.[39]

 

As línguas de fogo recordam uma antiga tradição, segundo a qual no monte Sinai, a voz de Deus foi pronunciada em setenta línguas, para que todas as nações relacionadas no Gênesis pudessem entender e testemunhar a salvação de Israel.[40] As línguas de fogo indicam também o dom profético, conforme aparece em Isaías. Todos, a partir de Pentecostes, começaram a pregar o Evangelho e a agirem como autênticos profetas do Reino.[41]

 

O dom do Espírito Santo, possibilitando a comunicação em diversas línguas, não significa privilégio pessoal de alguns, mas compromisso de comunicar e espalhar a Boa Notícia do Evangelho por todo o mundo. Observa-se também que não se tratava de línguas estranhas e desconhecidas, uma vez que “cada um os ouvia falar na sua própria língua“. A língua favorece a comunicação e as relações humanas, permitindo a justiça, a comunhão, a fraternidade e a partilha que são os grandes valores do Evangelho.[42]

 

Nas primitivas comunidades cristãs, existia o fenômeno da “glossolalia”, que consistia em falar em línguas, utilizando-se de palavras estrangeiras de alguns idiomas conhecidos da época, para comunicar e cantar louvores a Deus.[43] A preocupação de Lucas não é mostrar pessoas pronunciando palavras de idiomas desconhecidos. O evangelista quer ressaltar o dom de falar em línguas como sinal da presença iluminadora do Espírito Santo àqueles que foram chamados a anunciar o Evangelho. Portanto, o dom de falar em línguas provoca alegria e humildade no coração agraciado por Deus, para realizar a missão de comunicar a verdade libertadora.[44]

 

A lista das doze nações mencionadas por Lucas no dia de Pentecostes, simboliza todo o mundo habitado da época. Elas representam a humanidade chamada a um novo tempo à luz do Espírito Santo. A lista segue uma ordem geográfica, que vai do leste ao oeste e do norte ao sul, colocando a Judéia no centro. O evangelista imagina todas as nações presentes em Jerusalém na festa de Pentecostes. Esta multidão de peregrinos foi testemunha da efusão do Espírito Santo e recebeu a mensagem do Evangelho, mediante o discurso inflamado de Pedro, o qual provoca numerosas conversões.[45] A presença dos peregrinos das doze nações, em Jerusalém, assinala a universalidade da missão – sinal da catolicidade da Igreja – que deve alcançar todos os povos da terra.

 

Conclusão

Nos Atos dos Apóstolos vemos a chegada do Espírito Santo e o impulso missionário dos Doze. Graças à ação do Paráclito, os Apóstolos – sob a liderança de Pedro – e dos seus sucessores, podem desenvolver a missão recebida do Cristo ressuscitado. É o Espírito que consagra e envia os discípulos missionários do Evangelho do qual eles são guardiões. O Espírito é o “mestre interior” dos cristãos. Ele garante a missão da Igreja que caminha em permanente busca de conversão. Como no tempo de Jesus e dos apóstolos, o Espírito Santo trabalha em nosso interior e no meio de nós, atua de maneira que possamos seguir com alegria e confiança em Deus, que não nos desampara, mas ajuda e nos enriquece com os seus dons.

 

A Igreja é a assembleia dos chamados e sua missão é evangelizar à luz do Espírito Santo de Deus. Ela é missão e existe para a missão. O Espírito é quem garante a presença ativa da Igreja na história e sustenta a sua missão ao longo dos séculos. Graças ao Espírito Santo, a experiência de Jesus Cristo Ressuscitado, feita pela comunidade apostólica nas origens da Igreja, a fé é transmitida e atualizada na “Fração do Pão” e na comunhão do povo peregrino de Deus. A Igreja surgiu do testemunho dos Apóstolos e sob a guia do Espírito Santo continua a sua missão de pregar o Evangelho até as extremidades da terra.

 

Na hora das decisões importantes para a vida da Igreja, o Espírito está presente para iluminar e conduzir. Ele é a presença e o guia nos momentos decisivos como no Concílio de Jerusalém e em cada esquina da história.[46] Observa-se também, por exemplo, o influxo do mesmo Espírito nos conclaves, nos Concílios e Sínodos da Igreja. Ao longo da história vemos a ação do Espírito Santo que conduz a Barca de Pedro, de Paulo… de Bento XVI, de Francisco e seus sucessores. Esta convicção é explicitada na primeira frase da Constituição Dogmática Lumen Gentium: “A luz dos povos é Cristo: por isso, este sagrado Concílio, reunido no Espírito Santo, deseja ardentemente iluminar com a Sua luz, que resplandece no rosto da Igreja, todos os homens…” [47]

 

Pentecostes não foi um evento isolado em determinado momento da história, mas se repete na vida dos cristãos e da Igreja. Recordamos o discurso corajoso de Pedro em Jerusalém. Ele, que era eloquente nas palavras e medroso nos fatos, renovado no Espírito professa a sua fé no crucificado Ressuscitado para todo o povo de Israel. Na sua primeira carta, Pedro recomenda à comunidade: “Santificai o Senhor Jesus Cristo em vossos corações e estai sempre prontos a dar a razão da vossa esperança a todo aquele que a pedir.” [48] Esta presença ativa e permanente do Espírito se expressa através do ministério Apostólico e na comunhão fraterna em torno à figura de Pedro, que recebeu de Jesus as chaves do Reino – “Tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja…”[49]

 

Na comunhão do Povo de Deus junto aos Pastores e ao Bispo de Roma, a Igreja se alimenta da Palavra e da Eucaristia para levar adiante a sua missão evangelizadora. Sobre o alicerce dos Apóstolos, cuja pedra angular é o próprio Cristo, navega a “Barca de Pedro” enfrentando ventos contrários, no fiel testemunho e anúncio do Evangelho. No timão está Pedro, hoje com o nome de Francisco, sinal de nossa comunhão e modelo de fé. Com o Papa recordamos as palavras do Senhor: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos”.[50] Tudo na presença da Trindade.

Pe. Gilson Luiz Maia, RCI

 

Bibliografia

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[1] Sl 104,30.

[2] Cf. 1Re 10,1-5.

[3] Lc 4,18-19.

[4] Mc 1,10-11; Mt 3,16; Lc 3,22; Jo 1,32.

[5] Cf. Lc 24,18-24.

[6] Cf. At 1,6ss.

[7] Cf. Rm 12,2; 14,22; 1Ts 5,19-22.

[8] Cf. At 1,6.3.6-11.

[9] Cf. Catecismo, 688.

[10] Cf. Evangelii Gaudium, 20.

[11] Cf. Catecismo, 1076.

[12] Mc 16,15ss.

[13] At 15,23-30.

[14] Cf. At 2,1-13.

[15] Cf. MARTINI, C. M., Effatá “Abrete”, San Pablo, Bogotá, 1999, pp. 37-44.

[16] Cf. Mt 10,28-33.

[17] Cf. At 6,1-7.

[18] Cf. At 7,54-60.

[19] Cf. LAVORATTI, A. J. – RICHARD, P. – TAMEZ, E., Nuovo Commentario Biblico – Atti degli Apostoli, Lettere – Apocalisse, Borla, Roma, 2006, pp. 46-48.

[20] At 7,59-60; Lc 23,46.

[21] Cf. Jo 14,16.25; 15,20.26; 16,7.

[22] Cf. BENEDETTO XVI, Omelie di Joseph Ratzinger, papa, Libri Scheiwiller, Milano 2010, p. 390.

[23] Cf. Jo 15,26-27; At 1,8.

[24] Cf. Catecismo, 1226.

[25] Cf. At 8,5-24.

[26] Cf. MANZI, F., Come soffia lo Spirito nella Chiesa? La visione credente della storia negli Atti degli Apostoli, in La Rivista del Clero Italiano, Febbraio, 2020, Vita e Pensiero, Milano, pp. 134-146.

[27] 1Ts 2,13.

[28] Cf. 2Pd 3,15-16.

[29] Cf. Catecismo, 830. 857.

[30] Cf. Dei Verbum, 11.

[31] Cf. 2Tm 3,16.

[32] Lc 1,1-3.

[33] Cf. At 2,42.

[34] Cf. OLIVEIRA, J. L. M. DE, Teologia da vocação, IPV-Loyola, São Paulo, 1999, pp. 26-42.

[35] Cf. 1Cor 12,4-13.

[36] Cf. At 2,2.

[37] Sobre o evento de Pentecostes e seus símbolos, confira: STORNIOLO, I., Como ler os Atos dos Apóstolos, Paulus, São Paulo, 2008.

[38] Cf. Is 66,15; Sl 50,3.

[39] Cf. Jo 3,6-8.

[40] Cf. Gn 10.

[41] Cf. Gn 10; Is 32,15; At 4,31.

[42] Cf. At 2,6.

[43] Cf. 1Cor 12-14.

[44] Cf. BORN A. VAN DEN, Dicionário Enciclopédico da Bíblia, Vozes, Petrópolis, 1971, Glossolalia.

[45] Cf. At 2,14-41.

[46] Cf. At 15,28.

[47] LG 1.

[48] 1Pd 3,15.

[49] Mt 16,13-20.

[50] Mt 28,20.