O cego Bartimeu é o símbolo de tantas pessoas que estão sentadas à beira do caminho, numa sociedade marcada pelo egoísmo do sistema que exclui. A cena narrada por Marcos se repete com muita frequência na atualidade. Hoje, como ontem, existem muitos homens e mulheres, jovens ou idosos, que esperam o Senhor que passa na pessoa de cada cristão, para libertá-los da mendicância que ameaça a vida e da cegueira que deixa sem luz.
Texto evangélico
“46. Eles chegam a Jericó. Ao sair de Jericó com os seus discípulos e uma grande multidão, estava sentado à beira do caminho, mendigando, o cego Bartimeu, filho de Timeu. 47. Ao saber que era Jesus de Nazaré, pôs-se a gritar: Filho de Davi, Jesus, tem compaixão de mim! 48. Muitos o repreendiam para que se calasse, mas ele gritava ainda mais: Filho de Davi, tem compaixão de mim! 49. Jesus deteve-se e disse: Chamai-o. Chamaram o cego, dizendo-lhe: Coragem, levanta-te, ele te chama. 50. Deixando o seu manto, levantou num salto e foi até Jesus. 51. Dirigindo-se a ele, Jesus disse: Que queres que eu te faça? O cego respondeu: Rabúni, que eu recupere a vista! 52. Jesus lhe disse: Vai, a tua fé te salvou. Imediatamente ele recuperou a vista e foi seguindo Jesus pelo caminho.”[1]
O contexto
A cura do cego Bartimeu nas proximidades de Jericó está presente em todos os sinóticos, com algumas diferenças entre eles.[2] Esta cena é sem dúvida uma das páginas mais vivas do evangelho de Marcos. O evangelho de Mateus fala de dois cegos anônimos, enquanto Lucas, como Marcos, trata apenas de um cego. Mas somente Marcos menciona o nome do cego, chamando-o de Bartimeu, palavra aramaica que etimologicamente significa “filho de Timeu”.
O texto de Bartimeu é o ponto de chegada de uma longa instrução e preparação de Jesus aos discípulos. O Mestre fala sobre a cruz, o Messias servo e a necessidade de conversão. Essa instrução começa com a cura de um outro cego anônimo.[3] Diferente de Bartimeu, que foi curado imediatamente pela força de sua fé,[4] este cego anônimo recupera a vista progressivamente. Depois de curar o cego anônimo fora da aldeia,[5] o evangelista mostra Pedro reconhecendo o messianismo de Jesus.[6] Em seguida Jesus anuncia pela primeira vez a sua paixão – ressurreição e Pedro questiona o Mestre assumindo, segundo o próprio Jesus, o papel de Satanás que deseja desviar o Filho de Deus da sua missão.[7] Pedro e os demais discípulos também são cegos que não conseguem ver e compreender o messianismo de Jesus. Marcos segue apresentando outras instruções de Jesus sobre o Messias servo e sobre a necessidade dos discípulos se converterem e aderirem plenamente ao projeto do Reino.[8] A última cena, antes da narrativa da cura do cego Bartimeu, é o terceiro e último anúncio da cruz e o pedido pretensioso de Tiago e João, que será recusado por Jesus.[9] Após a cura do cego Bartimeu, o evangelho segue narrando a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, onde será acolhido como rei e condenado como subversivo.
O evangelizador itinerante
Se consideramos Jesus, que chama e prepara as pessoas para o serviço do Reino, percebemos a partir deste texto de Marcos que ele está sempre caminhando com seus discípulos e é seguido pela multidão.[10]
O texto começa com o verbo indicativo presente “chegam”. Deste modo, o evangelista mostra Jesus passando por Jericó com destino a Jerusalém, onde será recebido como rei e depois crucificado como malfeitor. Jericó, que é considerada uma das cidades mais baixas do mundo (está a 300 metros abaixo do nível do mar), foi palco de alguns episódios relatados nos evangelhos, e seu nome aparece em quase toda a história bíblica. O encontro de Jesus com Bartimeu acontece, segundo Mateus[11] e Marcos,[12] na saída da cidade, enquanto que Lucas o coloca quando Jesus se aproximava de Jericó.[13]
De qualquer maneira, Jesus é um evangelizador itinerante, que está sempre em movimento para cumprir a missão recebida do Pai. Ele frequenta as cidades, aldeias e povoados e quase sempre se deixa acompanhar por seus vocacionados, instruindo-os e preparando-os progressivamente para a futura missão.[14]
A dimensão comunitária do serviço evangelizador e vocacional
A atividade evangelizadora de Jesus, pelo menos segundo esse texto, é realizada comunitariamente, uma vez que seus seguidores participam de alguma maneira de sua missão. Serão os discípulos, ou alguns da multidão, que conduzirão o cego Bartimeu até Jesus: “Chamai-o. Chamaram o cego, dizendo-lhe: Coragem, levanta-te, ele te chama”.[15] Jesus ensina a trabalhar comunitariamente, inserindo outras pessoas no serviço vocacional de chamar – “chamaram”. Esses agentes vocacionais anônimos estão conscientes de que chamam cumprindo um pedido de Jesus: “chamai-o”. A missão deles consiste em levar as pessoas até Jesus. A animação vocacional deve ser um trabalho de mutirão, onde todos colocam seus dons a serviço das vocações e ministérios.
Jesus chama o excluído
Seguindo Jesus, a multidão é convidada a assumir uma postura diferente. Porque no primeiro momento a atitude dos seguidores era de repreender e exigir silêncio do cego mendigo, que gritava pela compaixão de Jesus: “Ao saber que era Jesus de Nazaré, pôs-se a gritar: Filho de Davi, Jesus, tem compaixão de mim! Muitos o repreendiam para que se calasse, mas ele gritava ainda mais: Filho de Davi, tem compaixão de mim!”.[16] Acompanhando Jesus pelas estradas da Palestina, seus seguidores aprendem uma nova maneira de tratar os mendigos e cegos que estão à beira do caminho. A multidão viu Bartimeu apenas como um mendigo a mais que incomodava com seus gritos. Bartimeu era um cego à beira do caminho que sabia enxergar com o coração e a fé, enquanto aqueles que tentam abafá-lo não percebiam que Jesus trazia a todos uma visão nova.
Jesus ouve e reconhece naquele excluído um vocacionado do Pai, capaz de assumir atitudes de discípulo e seguí-lo pelo caminho.[17] Os evangelizadores aprendem com Jesus a reconhecer naqueles que estão à beira do caminho, pessoas que também são chamadas pelo Pai a participar da construção e habitar no Reino. Por outro lado, eles assumem a missão evangelizadora convidando, como Jesus, a multidão a ter uma postura diferente com os excluídos que sofrem à beira da estrada.
Os gritos do vocacionado
Ao saber que era Jesus de Nazaré que passava pelo caminho, Bartimeu começou a gritar.[18] Esses gritos resumem toda a esperança de Israel na ajuda divina e expressam as aspirações do cego. Os gritos e as aspirações dos pobres sempre incomodaram e por isso a multidão o repreende, exigindo que se cale. Mas Bartimeu é teimoso e continua a gritar porque sabe que Deus escuta o clamor dos pobres.[19] Seus gritos eram mais que um pedido de ajuda e compaixão. Bartimeu grita para superar o barulho da multidão e pedir a Jesus uma nova vida. Os gritos e as aspirações insistentes de Bartimeu se repetem ainda hoje no clamor de muitos jovens e dos excluídos que estão mendigando à beira do caminho.
Bartimeu não grita à multidão porque sabe que ela não se preocupa com sua vida. A multidão pode até lhe dar uma esmola, mas não é capaz de restituir a visão e a dignidade. Seus gritos eram também expressão de sua fé e até mesmo uma oração que chegou aos ouvidos de Jesus.[20] Ele, como a maioria dos excluídos, traz no coração a força da fé e deposita em Jesus a sua esperança de ter uma visão nova.
Ao gritar “Filho de Davi, Jesus, tem compaixão de mim”, Bartimeu reconhece a realeza de Jesus descendente do grande rei Davi. Esse título, pouco adequado à pessoa de Jesus, aparece apenas nesta página do evangelho de Marcos. Mas, mesmo assim, foi suficiente para parar Jesus que passava pelo caminho. Aqueles que estão à beira da estrada numa situação de mendicância sabem que só Jesus pode libertá-los desta realidade. Mas Jesus inseriu seus seguidores neste processo de libertação, mandando-os chamar o “filho de Timeu”.
O evangelizador, cumprindo plenamente a sua missão, não apenas diz às pessoas “Coragem, levanta-te, ele te chama”, mas ajuda Jesus a libertá-las restituindo a visão e a dignidade, tornando-se assim “pescadores de homens”.[21]
A mendicância e a cegueira de Bartimeu
A situação social de Bartimeu, equivale à realidade da grande maioria da população dos países empobrecidos. Bartimeu vive numa situação de mendicância que o deixa fora da sociedade de Jericó e sentado à beira do caminho.[22] O evangelista faz questão de dizer que ele está sentado, isto é, imóvel e sem condições de progredir no caminho. Sentado, Bartimeu está numa posição de inferioridade em relação à multidão que passa e por isso o seu grito também pode ser considerado como uma forma de protestar contra a realidade que ameaça e exclui.
A mendicância de Bartimeu aponta para a pobreza e exclusão de milhões de pessoas que estão à beira da sociedade, gritando e esperando um gesto de compaixão. Se a cegueira é uma realidade física, que no evangelho assinala a cegueira espiritual, a mendicância é uma realidade social na qual se encontram os “filhos de Timeu”. Jesus liberta Bartimeu de ambas as realidades, tanto da mendicância como da cegueira. Deste modo, pode-se dizer que a ação evangelizadora e vocacional deve antes de tudo ajudar a pessoa no processo de libertação e promovê-la a uma nova realidade, sem a mendicância que ameaça e a cegueira que fere a vida e assinala o pecado. Recuperando a visão, Bartimeu pode agora compreender a grandeza e a amplitude do dom que recebeu ao ser chamado por Jesus.
A compaixão do evangelizador e animador vocacional
Na saída de Jericó, e dirigindo-se para Jerusalém que mata os profetas,[23] Jesus ouve os gritos de Bartimeu que está à beira do caminho. Os gritos repetidos do cego mendigo fizeram Jesus interromper a viagem e parar.[24] Aqui Jesus se comporta como o bom samaritano que não deixa a pessoa caída no caminho.[25] Detendo-se, Jesus testemunha seu amor e sua solidariedade para com o cego Bartimeu. Ao ouvir os gritos do cego, Jesus interrompe a caminhada e para. É sinal de que a súplica de Bartimeu foi atendida e despertou compaixão em Jesus. Aquele que teve compaixão da multidão, porque era como “ovelhas sem pastor”,[26] agora se compadece do cego mendigo que grita ao “Filho de Davi”. Jesus ensina a estar atento para ouvir, em meio ao barulho da multidão, os gritos daqueles que estão à margem do caminho e da sociedade. Eles esperam um gesto de compaixão e gritam manifestando a sua esperança. Sentir compaixão é sensibilizar-se com a situação dos excluídos e chamá-los para uma nova realidade. O coração que sente compaixão é o mesmo que dá a vida e se entrega à causa do Pai.[27]
E chamaram Bartimeu
O texto não esclarece quem é que chamou Bartimeu. Mas o evangelista apresenta o verbo no plural: “chamaram”.[28] Alguns seguidores de Jesus vão até Bartimeu cumprindo o imperativo do Mestre que manda chamar. Aqueles que chamam, chamam em nome de Jesus. Eles não tiveram a iniciativa nem chamaram em nome próprio. Chamam por causa da ordem de Jesus, que não quis ir até Bartimeu, mas preferiu contar com a mediação de seus seguidores.
O chamado é feito comunitariamente, isto é, por um grupo que vai até Bartimeu mandado por Jesus. É Jesus que manda chamar o cego mendigo, reconhecendo nele um vocacionado. Este grupo que chama, certamente assinala à comunidade inteira que é convocada por Jesus para assumir a missão de chamar. Por isso, hoje, em vez de falar de Pastoral Vocacional, seria mais evangélico falar da dimensão vocacional das pastorais ou movimentos da Igreja. Todos são convocados para participar do mutirão, cuja missão é chamar. Mais do que Pastoral Vocacional, precisa-se acentuar a dimensão vocacional de todas as pastorais e da inteira comunidade. Que cada seguidor de Jesus tenha a capacidade de escutar, deter-se, chamar e promover.
A proposta feita ao mendigo cego
As palavras pronunciadas por aqueles que foram até Bartimeu – “Coragem, levanta-te, ele te chama” – soam bem em qualquer ouvido, principalmente naqueles que estão sentados à beira do caminho, na sofrida experiência da exclusão. Aprendemos com esses anônimos animadores vocacionais a fazer uma proposta direta, objetiva e cheia de ternura. Na frase dita a Bartimeu não falta nem sobra nada. O convite começa estimulando o vocacionado cego e mendigo a ter coragem para enfrentar a realidade e caminhar até Jesus. Bartimeu já mostrou antes, por meio de seus gritos, que coragem não lhe faltava. Enfrentou a multidão que repreendia e exigia que se calasse.[29] O “filho de Timeu” é chamado a continuar, tendo uma atitude de coragem que certamente brota da fé, que não dá espaço para o medo. Dizendo para Bartimeu ter coragem, eles estão ajudando o vocacionado a superar as inseguranças e as incertezas. Bartimeu precisa ter coragem de levantar-se, de ir ao encontro de Jesus que, ouvindo seus gritos, deteve-se e mandou chamá-lo.
Usando o imperativo presente “levanta-te”, aquelas pessoas estão convocando Bartimeu para assumir uma nova postura. Ele não pode mais continuar sentado e mendigando à beira do caminho. Bartimeu é convidado a mudar de situação, a buscar uma nova vida, a ter autoconfiança e a valorizar os dons. O vocacionado cego precisa ter coragem não apenas para gritar, mas também para levantar-se e caminhar ao encontro de Jesus que mandou chamá-lo. Não basta ficar gritando à beira do caminho pedindo compaixão, mas é preciso assumir uma atitude concreta. Levantar-se, verbo que às vezes é traduzido por ressuscitar,[30] significa deixar o velho e ir ao encontro do novo, buscar uma nova postura, recuperar a dignidade e a vida. É uma atitude de coragem, que ganha ainda mais força quando é completada com a expressão “ele te chama”.
Bartimeu se levanta não apenas porque tem coragem, mas porque foi dito a ele: “Jesus está chamando”. Ao levantar-se, ele já está respondendo ao convite de Jesus que o chama, contando com a mediação daquelas pessoas. Levantando, Bartimeu articula um gesto de fé e expressa sua confiança naquele que chama. Por outro lado, vale observar que as pessoas que foram até Bartimeu têm consciência de que quem chama é Jesus, e eles são apenas mediadores deste chamado – “ele te chama”.
A reação do vocacionado Bartimeu, quando ouviu esta animadora expressão: “coragem, levanta-te, ele te chama”, foi imediata: “Deixando o seu manto, levantou num salto e foi até Jesus”.[31] O evangelista faz questão de dizer que Bartimeu não apenas se levantou, mas saltou – “o salto da fé”. Deste modo, Bartimeu novamente dá testemunho de sua fé corajosa e manifesta sua vontade de se encontrar logo com Jesus, que lhe restituirá a visão e a dignidade sem as quais ele não poderá seguir o Mestre pelo caminho.[32]
Bartimeu deixa o manto
Para um cego mendigo, que está à beira do caminho, o manto pode representar tudo aquilo que ele tem. Talvez esse manto seja a única propriedade de Bartimeu. O gesto do cego mendigo que deixa o manto é justamente o contrário do jovem rico, cena narrada um pouco antes pelo evangelista Marcos. Este jovem foi convidado por Jesus para dar seus bens aos pobres, renunciar e depois segui-lo. Mas ele foi embora com tristeza.[33] Parece que o vocacionado pobre tem mais facilidade de “deixar o manto” e ir até Jesus. De qualquer maneira, a pessoa que realmente deseja seguir Jesus precisa estar disposta a deixa alguma coisa. Bartimeu deixou o manto, que simbolizava toda a sua vida de mendicância e cegueira.
O diálogo de Jesus com o cego
Depois que o cego Bartimeu foi conduzido até Jesus, que mandou chamá-lo, o Mestre começa um diálogo: “Que queres que eu te faça?”.[34] A pergunta parece um pouco inadequada, pois era óbvio que Bartimeu queria ser libertado de sua cegueira e mendicância. Mas Jesus quer ouvir e saber de Bartimeu qual é o seu desejo. Aquele que foi chamado precisa dizer o “que queres” e manifestar a sua vontade de recuperar a visão e a vida.
A resposta de Bartimeu é imediata, direta e sem rodeios: “Rabúni, que eu recupere a vista!”. Bartimeu é uma pessoa que sabe o que quer. Ele não gritava apenas para chamar a atenção, mas tem plena consciência de suas necessidades e fé em Jesus, que poderá ajudá-lo. Dialogando com Jesus, ele expressa claramente seu desejo e reconhece nele o Mestre (Rabúni). Bartimeu quer um sentido novo para a sua vida, deseja ver qual é a sua missão. A partir do contato pessoal com o Senhor, o mendigo cego descobre que Jesus não é apenas o “Filho de Davi”,[35] mas é antes de tudo o Mestre de Israel, cheio de sabedoria e autoridade. Reconhecendo e chamando Jesus de Rabúni, Bartimeu já assume uma atitude de discípulo. É a partir do contato pessoal e do diálogo aberto com Jesus que o vocacionado começa a sentir-se discípulo.
A fé de Bartimeu
O evangelista Marcos, que dá um colorido especial ao narrar a cura deste mendigo cego, chamando-o pelo nome e dizendo até que ele é filho de Timeu,[36] mostra Jesus reconhecendo e elogiando a fé do ex-cego Bartimeu. A fé é o combustível que empurra Bartimeu até a presença de Jesus. Sem fé não existe milagre nem vocação. O próprio Jesus dirá: “A tua fé te salvou”.[37] No contato pessoal com Jesus, Bartimeu amadurece e cresce em sua fé. Graças à fé do mendigo e cego, o milagre aconteceu e ele começou a ver novamente.
A fé de Bartimeu em Jesus lhe dá uma nova visão e lhe permite assumir uma atitude de discípulo, seguindo o Senhor pelo caminho. O milagre da cura da cegueira e libertação da mendicância é expressão da fé de Bartimeu na Boa Notícia de Jesus. Na ausência da fé o milagre perde o sentido e Jesus fica impossibilitado de realizá-lo. O milagre experimentado por Bartimeu, e testemunhado pelos discípulos e por toda a multidão, assinala a realidade do Reino do qual o “filho de Timeu”, vocacionado de Deus, já participa.
Marcos acrescenta que o milagre aconteceu imediatamente. Deste modo Marcos manifesta o poder de Jesus e a grandeza da fé de Bartimeu. O termo “imediatamente” ocorre 42 vezes no evangelho de Marcos, quase sempre depois de um imperativo de Jesus.[38]
Ao recuperar imediatamente a visão, Bartimeu vive um momento maravilhoso de alegria e fé na presença de Jesus. Daqui para frente tudo será novo na vida de Bartimeu. Jesus ouviu seus gritos, ele foi chamado a sair da beira do caminho e agora tem uma nova visão. Não foram apenas os olhos que foram curados. Ele é uma nova pessoa a quem foi restituída a visão, a dignidade e a vida. Ele fez a passagem das trevas da mendicância e da cegueira para a luz da vida. Bartimeu, graças à sua fé, aos seus gritos e à mediação de algumas pessoas, que o chamaram cumprindo o imperativo de Jesus, tem agora todas as condições de se tornar discípulo e operário do Reino.
O mendigo cego vira discípulo missionário de Jesus
O excluído que estava sentado à beira do caminho agora segue Jesus. Todos os que passavam pela saída de Jericó viam apenas um cego mendigando. Jesus reconhece em Bartimeu um excluído vocacionado por Deus. Como animador vocacional itinerante, ele percebe e ajuda todos a desenvolverem sua vocação, que é antes de tudo um chamado à vida. Enquanto cego e mendigo, Bartimeu fazia uma experiência de sofrimento quase equiparada à realidade da morte. Jesus lhe dá a oportunidade de ver novamente, de sair da mendicância e tornar-se operário do Reino. Diferente dos discípulos e da multidão, o evangelizador vê o excluído como uma pessoa que também traz a graça de uma vocação. Bartimeu agora é alguém que serve ao Evangelho, na estrada que liga Jericó a Jerusalém. Seguindo Jesus com os demais pela estrada que leva até Jerusalém, lugar da morte e ressurreição, Bartimeu é o protótipo do discípulo que amadureceu na fé e se coloca a caminho com o Mestre. Somos todos Bartimeu. Com ele queremos ver de novo e acompanhar Jesus a Jerusalém, plataforma da qual os discípulos partirão com a missão de testemunhar e anunciar o Ressuscitado.
Jesus chama com muita liberdade e nos diferentes níveis sociais. Ele chama o desprezado cobrador de impostos,[39] mas chama também os pescadores,[40] o jovem rico[41] e tantos outros. Todavia, os menos favorecidos são mais generosos e prontos para corresponderem ao chamado do Senhor.
A cura do cego e mendigo Bartimeu e a observação do ministério de Jesus, abrem novos horizontes para cada seguidor do Senhor, que assume um serviço em prol das vocações e ministérios. Bartimeu é modelo de pessoa que, iluminada pela fé, passa da cegueira ao discipulado. Diferente de Pedro, que não compreende o messianismo de Jesus,[42] e dos irmãos Tiago e João, que sonham com um reino político de poder e força,[43] Bartimeu é um vocacionado que fez a experiência amarga da mendicância e tem mais facilidade de entender Jesus, que ouviu seus gritos e mandou chamá-lo. A mesma frase que acariciou os ouvidos do cego Bartimeu, queremos repetir a todos, e até a nós mesmos: “Coragem, levanta-te, ele te chama”.[44]
Para meditar:
- Quais são as cegueiras e mendicâncias que impedem responder ao chamado de Jesus?
- Quais são os “mantos” que hoje precisam ser deixados para seguir Jesus?
- Será que as nossas comunidades reconhecem e valorizam a vocação e o ministério dos pequenos?
[1] Mc 10,46-52
[2] cf. Mt 20,29-34; Mc 10,46-52; Lc 18,35-43
[3] cf. Mc 8,22-36
[4] cf. Mc 10,52
[5] cf. Mc 8,23
[6] cf. Mc 8,27-30
[7] cf. Mc 8,31-33
[8] cf. Mc 9,1-10,31
[9] cf. Mc 10,32-45
[10] cf. Mc 10,46
[11] cf. Mt 20,29
[12] Cf. Mc 10,46
[13] cf. Lc 18,35
[14] cf. Mc 16,15-20
[15] Mc 10,49
[16] Mc 10,47-48
[17] cf. Mc 10,52
[18] cf. Mc 10,47-48
[19] cf. Ex 2,24; 3,7-8; 6,5
[20] cf. Mc 10,49
[21] Mc 1,17
[22] cf. Mc 10,46
[23] cf. Lc 13,34
[24] cf. Mc 10,49
[25] cf. Lc 10,29-37
[26] Mc 6,34; Mt 9,36
[27] cf. Mc 14,36
[28] Mc 10,49
[29] cf. Mc 10,48
[30] cf. Mc 16,6
[31] Mc 10,50
[32] cf. Mc 10,52
[33] cf. Mc 10,17-22
[34] Mc 10,51
[35] Mc 10,47
[36] cf. Mc 10,46
[37] Mc 10,52
[38] cf. Mc 1,12; 18.20.21.29
[39] cf. Mc 2,13-14
[40] cf. Mc 1,16-20
[41] cf. Mt 19,16-30
[42] cf. Mc 8,31-33
[43] cf. Mc 10,35-45
[44] Mc 10,49
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