Natal, Deus ao nosso alcance

 

Por Pe. Gilson Luiz Maia, RCI

 

Estamos em ritmo de Advento, Natal e preparação para a virada de mais um ano. No último mês do ano o clima é propício à reflexão e os corações estão mais leves e felizes.

 

Na noite de Belém vemos muitas estrelas, além daquela mais brilhante que é o próprio Cristo Jesus, nascido da Virgem Maria.[1] O menino Jesus, uma criança indefesa acalentada pela Mãe aos olhos do justo José é a maior e principal estrela no meio de muitas outras que cintilam na noite de Belém.[2] Cada uma tem o seu brilho, peso e significado. Dentre as estrelas recordamos aquela do nosso testemunho e transparente adesão ao Evangelho. Na noite escura de nosso tempo marcado pelo materialismo e outras contradições, há de brilhar e iluminar a todos, a estrela do testemunho de uma vida enraizada na mensagem do Verbo que se fez carne e habitou no meio de nós.[3]

 

Com o tempo do Advento, que corresponde às quatro semanas que antecedem e preparam o Natal do Senhor, iniciamos o ano litúrgico. Trata-se de um período de alegria e expectativa onde a Igreja nos convoca a esperar o nascimento do Salvador.[4]

 

A celebração do Advento – palavra de origem latina que significa “chegada / chegar a” –  começou no século IV e se divide em dois momentos. As duas primeiras semanas nos convidam a refletir e a preparar a vinda definitiva e gloriosa de Jesus Cristo. Ele é o Senhor da História e único Salvador. As duas semanas seguintes, de 17 a 24 de dezembro, nos preparam para a celebração do Natal, a primeira vinda de Jesus entre nós. No Advento meditamos a história da salvação, a realidade do Verbo feito carne e o caráter missionário da vinda de Cristo. Com a vinda de Jesus chegamos à plenitude do tempo e o Reino de Deus está próximo.[5] O Advento recorda também o Deus da revelação: “Aquele que é, que era e que vem”, que está sempre realizando a salvação cuja consumação se cumprirá no “dia do Senhor”, no final dos tempos.[6]

 

Neste início do ano litúrgico a Igreja nos lembra alguns valores essenciais da fé: a esperança vigilante,[7] a alegria do coração, a simplicidade e a mudança de vida.[8] O profeta Isaías é um dos personagens deste tempo. Ele anuncia a libertação do povo eleito e desperta uma grande expectativa nos exilados. Para o povo de Israel Isaías é o profeta da esperança, da criação de uma nova Jerusalém e da vinda do Senhor.[9] João Batista, o último dos profetas e o precursor, aquele que prepara o caminho e anuncia a vinda do Senhor,[10] prega a urgência da conversão e aponta para o “Cordeiro de Deus” como presença já concretizada e real no meio do povo.[11] João Batista ocupa um grande espaço na liturgia do terceiro domingo, conhecido como domingo da alegria.

 

O Advento deve ser celebrado com sobriedade e com discreta alegria. Não se canta o Glória nas celebrações, para que na festa do Natal, nos unamos aos anjos e entoemos este hino como algo verdadeiramente novo, dando glória a Deus pela salvação que realiza no meio de nós. Pelo mesmo motivo, as flores e os instrumentos musicais são usados com moderação, para que não seja antecipada a plena alegria do Natal de Jesus. Os paramentos litúrgicos são roxos. A única exceção é o terceiro domingo do Advento cuja cor usada é a rósea para revelar a alegria da vinda do Salvador que está bem próxima.

 

No período do Advento são montados os presépios, as árvores de Natal e as coroas do Advento que normalmente são colocadas ao lado do altar. A coroa é feita de galhos verdes entrelaçados, formando um círculo, no qual vemos 4 grandes velas representando as 4 semanas do Advento. Os detalhes dourados da coroa prefiguram a glória do Reino que virá. O círculo é sinal do amor de Deus que é eterno, sem princípio e nem fim, e também do nosso amor a Deus e ao próximo. Além disso o círculo dá uma ideia de “elo”, de união entre Deus e as pessoas como uma grande “Aliança”. Os ramos ou fitas da coroa são verdes, cor da esperança e da vida. A fita e o laço vermelho simbolizam o Espírito Santo a embalar toda criação que é redimida com a chegada de Jesus. As bolas simbolizam os frutos do Espírito Santo que brotam no coração de cada cristão.

 

As quatro velas da coroa simbolizam, cada uma delas, uma das quatro semanas do Advento. No início vemos a coroa apagada, sem luz e sem brilho. Nos recorda a experiência da escuridão do pecado. A cada domingo uma vela é acesa de modo que vamos ganhando mais luz na medida em que nos aproximamos da noite santa do Natal, quando Cristo – Luz do Mundo – brilhará para toda a humanidade.[12] As velas também representam nossa fé e alegria pelo Menino Deus que vem.

 

A primeira vela – na cor roxa – nos lembra o perdão concedido a Adão e Eva que indicam toda a humanidade. A cor roxa nos convida a purificar nossos corações para acolher o Cristo. A segunda vela – na cor verde – simboliza a fé de Abraão e dos outros Patriarcas. A terceira vela – na cor rosa – nos chama à alegria, pois o Senhor está próximo. Ela nos recorda a alegria do rei Davi que recebeu de Deus a promessa de uma aliança eterna. A quarta vela – na cor branca – nos recorda os Profetas que anunciaram a chegada do Salvador. Desta maneira, ao acender cada uma destas velas ricas de simbolismo, vamos seguindo os passos do povo de Deus e dos grandes personagens da antiga aliança.

 

Há ainda outras maneiras de compreender as velas da coroa do Advento onde a luz representa a nossa fé e a oração. Cito aquela que aponta para as quatro manifestações de Cristo. A primeira vela seria uma recordação do Jesus histórico, a encarnação do Verbo. A segunda indica a presença de Jesus nos pobres e excluídos.[13] A terceira vela assinala os sacramentos enquanto que a quarta e última nos lembra a futura vinda de Jesus na sua glória.[14]

 

Mas não basta acender as velas, montar os presépios e participar das celebrações. Natal também é ocasião de estreitar laços, aproximar as pessoas e expressar o nosso afeto e estima. Bem no meio do presépio está Jesus, o centro da vida de todas as pessoas chamadas e enviadas para dar testemunho do Cristo ressuscitado.[15] Pois não podemos esquecer que o Menino da gruta é o Homem da cruz. O mesmo que passou pelo mundo fazendo o bem, foi traído, injustamente condenado e morto na cruz.[16] Ele é o Ressuscitado que deixou para trás o túmulo vazio e nos deu o imperativo da missão.[17] Sabemos pela fé que o Natal tem sabor de Páscoa: vida nova! Da manjedoura se chegará ao Calvário. Jesus não nasceu para morrer, mas para redimir e salvar. Ao longo do novo ano litúrgico que se inicia vamos percorrer este caminho, pois foi nesta perspectiva de fé que as nascentes comunidades cristãs meditavam, escreviam e celebravam o nascimento do Senhor. Por isso, confessamos com a Igreja: Ele é o Emanuel: Deus está conosco.[18] Sempre. Vivamos com a intensidade da fé o tempo do Advento e preparemos no coração o Natal de Jesus, o Cristo Senhor. Amém.

 

[1] Cf. Is 7,14

[2] Cf. Mt 2,9

[3] Cf. Jo 1,14

[4] Cf. Lc 2,11

[5] Cf. Gl 4,4 ; Mc 1,15

[6] Cf. Ap 1,4-8

[7] Cf. 1Tm 1,1

[8] Cf. Lc 2,10-14

[9] Cf. Is 65,17

[10] Cf. Lc 7,26-28

[11] Cf. Jo 1,29

[12] Cf. Jo 8,12

[13] Cf. Mt 25,35-45

[14] Cf.Cl 3,4 ; Ap 1,7

[15] Cf 1Cor 1,6

[16] Cf. At 10,38

[17] Cf. Mt 28,19-20

[18] Cf. Mt 1,23