O Papa Francisco tomou uma decisão corajosa, humilde e incomum. Na sua sabedoria e simplicidade ele convocou a Igreja a voltar-se para os jovens. O Papa não se contentou apenas em continuar com as Jornadas Mundiais da Juventude iniciadas por São João Paulo II, mas convocou um Sínodo dos Bispos para escutar a juventude, questionar-se sobre como acompanhar e anunciar a ela a Boa Nova de Jesus Cristo. Diante desta nova realidade entoamos, antes de tudo, um cântico de louvor ao Espírito Santo que conduz a Igreja pelos caminhos da história.
O Sínodo dos Bispos sobre Os Jovens, a Fé e o Discernimento Vocacional, refletirá a realidade da juventude de todo o mundo nas suas variadas experiências de luzes e sombras, de alegrias e dores, de sonhos e desilusões… Mas não resta dúvida que esta assembleia sinodal será uma oportunidade impar para aprofundar situações e indicar pistas para todos que seguem o Cristo jovem e estão dispostos a “gastar” a vida cientes do amor de Deus pela juventude.
Somos homens e mulheres de fé. Deus é o ponto de partida e chegada de todas as pessoas e, especialmente, dos jovens que buscam um sentido profundo para a própria história. Jesus, “caminho, verdade e vida” (Jo 14,6) quer, mediante cada um de nós, chegar até aos jovens, caminhar com eles, evangelizá-los, partir o pão, fazer arder o coração e abrir os olhos para, como os discípulos de Emaús, transformá-los em missionários do Cristo ressuscitado (Cf. Lc 24, 13-35?).
Diante do acelerado processo de secularização da sociedade, que também alcança as comunidades eclesiais e nossas famílias religiosas, somos chamados como Igreja a dar testemunho do primado de Deus em nossa vida sem ceder aos desvios de um espiritualismo desencarnado ou de uma inserção sem as bases de uma autêntica espiritualidade cristã. Queremos seguir renovando o nosso “sim” cotidiano ao Pai que nos vocaciona para ele. Deus é a nossa vocação e o centro de nossa existência.
Tantos jovens querem encontrar Cristo e trazem no coração um grande desejo de conhecer uma vida consagrada autêntica, uma Igreja verdadeiramente comprometida com o evangelho e capaz de atrair a atenção dos olhos sedentos de algo que dê sentido à existência humana. Cristãos que sejam modelos de fé, inseridos em comunidades onde se vive num clima de amor e fraternidade. Porém, muitas vezes os jovens não encontram na Igreja, e tampouco nas pessoas consagradas, um transparente testemunho de fé, uma comunidade cristã onde se possa tocar com os olhos e com as mãos o Cristo ressuscitado. Os jovens dos smartphones, das redes sociais, da internet.. dos cabelos coloridos, com piercings espalhados pelo corpo, às vezes, cheios de tatuagens bem como aqueles outros empobrecidos e jogados no mundo da violência e das drogas ou aqueles dos grupos de oração, ligados à renovação carismática, ao neo catecumenato dentre outros movimentos eclesiais, das paróquias e ainda nas pastorais sociais, esperam um testemunho atraente dos adultos e, particularmente, de nós consagrados e consagradas. Este testemunho não se concretiza nas palavras e discursos, mas numa vida de simplicidade, serviço, alegria e doação de si mesmo pelo bem do outro. Qual jovem não se sentirá bem numa comunidade acessível, acolhedora, edificante, aberta ao diálogo e pronta para ajudar paciente e honestamente no seu discernimento vocacional?
O primado de Deus, que vivemos desde a nossa condição humana, indica a capacidade que temos de autotranscender-se na direção dos outros e do totalmente Outro. Para nós consagrados e consagradas, o primado de Deus se manifesta na “cotidianidade” da vida como em nossas relações, nas atividades pastorais, e nas opções que realizamos no decorrer do caminho. O Sínodo sobre os jovens certamente produzirá belíssimas e oportunas reflexões e nos ajudará na construção de uma vida consagrada jovem, humana e humanizante. Cremos que chegou a hora da nossa vida consagrada desenvolver a “espiritualidade da simplicidade”, das coisas pequenas da vida… Na verdade são realidades fundamentais que implicam o nosso corpo, os nossos sentimentos, as fragilidades, os limites e os nossos carismas. Não sei se os nossos jovens enxergam em nós, pessoas consagradas, sinais que recordam Deus.
O Sínodo, por mais interessante que seja, por mais participativo que tenha sido sua preparação e por mais iluminados que sejam os nossos bispos, não fará milagres. Mesmo que adotem a mais sábia metodologia… O sínodo não mudará todas as realidades e nem conseguirá esgotar todas as temáticas… Cabe a nós, cristãos leigos e leigas, pessoas consagradas, ministros ordenados, cada um desde a sua realidade, dar testemunho de ternura, de comunhão – “um só coração e uma só alma” – e liberdade. Partilhar as alegrias e sofrimentos dos jovens, seus sucessos e suas fadigas, seus sonhos e seus medos, com respeito à diversidade para que cada um viva com intensidade sua vida compreendida como vocação, dom e missão.
É dentro e fora de nossas comunidades, com alegria e esperança ativa, que somos chamados a ser sinais de Deus. Somos homens e mulheres, na incansável busca de uma vida coerente com a fé e profundamente apaixonados por Jesus. Na gratuidade, na disponibilidade, no serviço, na coragem de sonhar e ousar com a Igreja, pelos caminhos da eclesialidade sinodal, juntos com toda a humanidade de boa vontade, queremos superar os problemas e desafios, e manifestar o rosto jovem de Deus. Trazemos nas veias a esperança dinâmica na certeza que a juventude encontre espaço em todos os corações, principalmente em nosso coração de pessoas consagradas que deixaram tudo e seguiram o Senhor – o eternamente jovem – com “palavras de vida eterna”.
Para concluir esta meditação queremos citar um breve trecho de um diálogo do Papa Francisco com o jornalista e escritor Thomas Leoncini: Deus é jovem.
“Deus é Aquele que sempre renova, porque Ele é sempre novo: Deus é jovem!
Deus é o Eterno que não tem tempo, mas é capaz de renovar, rejuvenescer-se continuamente e rejuvenescer tudo. As características mais peculiares dos jovens são também as Suas. É jovem porque “faz novas todas as coisas” e gosta de novidades; porque surpreende e ama o estupor; porque sabe sonhar e deseja os nossos sonhos; porque ele é forte e entusiasmado; porque constrói relacionamentos e nos pede para fazermos o mesmo, é social.”
Pe. Gilson Luiz Maia, RCI
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