Entrevista: – Revista Rogate (dezembro 2024)

Com qual propósito a Igreja proclama um Jubileu?

Em 2025 teremos o segundo Jubileu com o Papa Francisco, refletindo o tema “Peregrinos da Esperança”. O primeiro foi o Ano Santo da Misericórdia (08/12/2015 a 20/12/2016), que convidou os fiéis a celebrarem a Reconciliação e marcou a celebração do 50° Aniversário do encerramento do Concílio Vaticano II. O Jubileu é um ano especial de graça, no qual a Igreja nos oferece a possibilidade de receber a indulgência plenária, ou seja, a remissão dos pecados para si próprio ou para familiares falecidos. Podemos compreender o Jubileu também em chave vocacional: Deus nos chama à santidade, à comunhão de vida com ele – Reconciliação. O tema do Jubileu 2025, “Peregrinos da Esperança”, convida-nos a uma releitura da própria vocação e nos inspira na reflexão e programação do serviço de animação vocacional nas comunidades.

Há quatro “sinais” do Jubileu: Peregrinação, Porta Santa, Reconciliação e Oração. O que eles sinalizam?

A celebração do Ano Jubilar encontra sua origem na Sagrada Escritura, e o termo – jubileu / yobel – parece derivar de um instrumento do corno do carneiro, que anuncia o dia do perdão das dívidas, do repouso ou da recuperação das terras alienadas e da expiação (cf. Lv 25,1-17). Na sinagoga de Nazaré, Jesus leu um trecho do rolo de Isaías: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pois ele me ungiu, para anunciar a Boa-Nova aos pobres: enviou-me para proclamar a libertação aos presos e, aos cegos, a recuperação da vista; para dar liberdade aos oprimidos e proclamar um ano aceito da parte do Senhor” (Lc 4,18-19; cf. Is 61,1-2). A partir desta memória do povo de Deus e sua base bíblica, nos aproximamo-nos do Ano Jubilar e de seus sinais. O primeiro sinal é a Peregrinação. O verbo peregrinar nos remete à dinâmica da vocação: Deus nos chama. A vida e a vocação são caminhos que se abrem diante de cada um de nós. Todo vocacionado é um Peregrino de Esperança, chamado a passar pela Porta Santa, a Reconciliar-se e a incrementar a vida de Oração (Rogate), e ser sinal de Esperança no meio do mundo.

Como viver da melhor forma, na prática, o Jubileu, considerando que a imensa maioria das pessoas não poderá peregrinar até Roma?

Peregrinar a Roma – e, neste período, a cidade está como um grande canteiro de obras, em vista da preparação do Ano Jubilar – é um privilégio, e, certamente, a maioria não poderá realizar. Neste Ano Santo, os fiéis são convidados a peregrinar à Basílica de São Pedro no Vaticano, a participar de celebrações, a passar pela Porta Santa e a receber a indulgência plenária para a remissão de todos os pecados. A Porta Santa, que será aberta pelo Papa no próximo dia 24 de dezembro, assinala a misericórdia divina e o amor de Deus que nos chama e nos salva. Pelo mundo afora, nas dioceses, foram indicadas várias igrejas e santuários com suas respectivas Portas Santas e a concessão das indulgências. Importa participar com a igreja local das atividades do Ano Santo. É uma linda experiência eclesial, testemunho de fé e especial oportunidade para nos aproximarmos de Deus, autor de toda vocação! Neste caminho jubilar, parece-me interessante motivar os jovens e participar junto com todos os vocacionados. Quero lembrar ainda que a CNBB publicou um livro muito bem elaborado pelo Dicastério para a Evangelização – “Celebre o Jubileu 2025 em sua comunidade”. Esta obra reúne os formulários litúrgicos para as celebrações de Abertura e as missas ao longo do Ano Jubilar, e o seu encerramento.

A mensagem central do Jubileu, diz a Bula de proclamação, é a esperança, uma das três virtudes teologais, talvez aquela que canalize a fé para a caridade… A meta é a caridade?

O Papa nos dá o tom do Jubileu 2025: A Esperança. As três virtudes teologais são dons que recebemos da bondade do Senhor; são sinais que marcam a vida dos seguidores de Jesus. Somos testemunhas da Esperança, isto é, chamados a assinalar no caminho da vida o amor de Deus nosso Pai. A Esperança aponta para o sentido profundo das coisas e nos convida a amar até às últimas consequências. Nós cremos que Deus nos ama, chama e envia (fé). Nós sabemos que todas as coisas têm um sentido (esperança) e sabemos que somos capazes de amar como o Cristo nos amou (caridade). A força da fé, do amor e da esperança nos move, nos ajuda a viver de maneira intensa a nossa vocação. As inseparáveis virtudes teologais dão significado à nossa existência e qualificam a missão evangelizadora e sempre vocacional.

A paciência é, simultaneamente, filha e suporte da esperança, diz o Papa Francisco na Bula. Este Jubileu quer nos exortar a cultivar também a virtude da paciência, talvez um pouco esquecida quando vivemos sempre com pressa?

Em nossas comunidades e nas famílias, encontramos tantos exemplos de paciência! Quantas pessoas nos oferecem um belo testemunho de paciência, de resistência na esperança! O Jubileu nos recorda que Deus também é paciente. O Pai tem muita paciência com os seus filhos. São as pessoas pacientes que levam adiante as nossas comunidades, com tanta fé, amor e esperança. A paciência é um dos traços dos santos de Deus. No caminho vocacional, exercitamos a paciência, tão diferente da ansiedade, da intolerância e da pressa. O coração paciente reconhece com mais clareza e profundidade os pensamentos de Deus e busca responder generosamente o chamado Dele. Juntos aos jovens vocacionados, somos convidados a cultivar a paciência, estratégia do coração chamado a construir e habitar o Reino. Ser paciente não significa abaixar a cabeça, mas dar “razão de esperança” (cf. 1Pd 3,15), principalmente quando a vida está ferida e ameaçada.

Nesse sentido, o jubileu pode ser uma oportunidade para renovar ou reavivar o espírito de pacificação?

Claro. Somos Peregrinos da Esperança e operários da paz. Há tantas guerras no mundo. O Jubileu é um chamado à pacificação. O Papa insiste no tema da paz, da pacificação. É bom recordar que a paz que almejamos não é sinônimo de sossego e tranquilidade ou harmonia com as forças da natureza, mas é a paz de Cristo. Ele é o Príncipe da Paz (cf. Is 9,6). A paz de Cristo passa pela experiência da cruz; é a paz do Ressuscitado oferecida como dom aos discípulos reunidos no cenáculo (cf. Jo 20,19ss). A paz que almejamos, este gradual processo de pacificação, acontece quando vivemos plenamente a nossa vocação ao amor. Rezemos com Francisco: “Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz”. Amém.

No contexto dos jubileus, assim como, eventualmente, em outros momentos na Igreja, está a indulgência jubilar. O povo de Deus se apropria plenamente do sacramento da Reconciliação, bem como dessas “oportunidades” de indulgência?

O Ano Jubilar nos chama à Esperança e nos convida a buscar refúgio em Deus. Mas somos filhos rebeldes e, muitas vezes, nos distanciamos do Pai. O sacramento da Reconciliação e as indulgências indicam o nosso retorno a Deus, pelos caminhos do perdão e da paz. Recordo as sábias palavras de São Paulo à comunidade de Corinto. O Apóstolo nos exorta: “reconciliai-vos com Deus” (cf. 2Cor 5,20). No âmbito da animação vocacional e da pastoral da juventude, o sacramento da Reconciliação ganha cores especiais. Os jovens buscam a autenticidade e, com a nossa ajuda, podem reagir a uma sociedade que vitimiza, desresponsabiliza ou atira a culpa sobre os outros ou, ainda, nas estruturas. O Ano Santo ou Jubilar é também uma excelente oportunidade para resgatar os valores e a saudável moral cristã no meio do povo de Deus e, de modo particular, no meio dos jovens.

Na Bula está escrito que “o amor é posto à prova quando aumentam as dificuldades e a esperança parece desmoronar-se diante do sofrimento”. Como edificar e promover a esperança diante de tudo o que estamos vivendo e assistindo?

Recordo o lema episcopal do saudoso Cardeal arcebispo de São Paulo, D. Paulo Evaristo Arns: “De esperança em esperança”. O Jubileu renova a esperança e nos recorda que somos Peregrinos de Esperança. Sabemos que, na situação de crise, em tempos de sofrimentos e dificuldades, a primeira coisa que o coração humano tende a fazer é fechar-se, interromper as relações e ficar no escuro. Claro que o tempo presente é difícil, pós pandemia, guerras… A Igreja, mãe e mestra, convida-nos a perseverar na fé e a renovar a esperança. Vale recordar que a nossa esperança é o próprio Cristo. Então, o Ano Jubilar nos ajuda a caminhar na esperança de dias melhores; a ser sinais de esperança e a seguir com muita esperança. Sem esperança, a vocação perde a sua essência, a sua força e sentido. Por isso, na celebração do Ano Santo, vamos invocar Maria, Nossa Senhora da Esperança, Mãe de todos os vocacionados, Peregrinos de Esperança na messe do Senhor. Convém recordar uma frase que sintetiza o anúncio, anima o testemunho e a esperança cristã: “Eis que faço novas todas as coisas” (cf. Ap 21,5).

No “caminho de peregrinação do Jubileu dentro de Roma”, constam algumas Igrejas relacionadas às mulheres, proclamadas pela Igreja, Padroeiras da Europa e Doutoras da Igreja. Como o senhor/a interpreta esse destaque?

O Papa é muito atento a esta realidade. As mulheres marcaram de maneira significativa a história do povo de Deus e, de modo particular, a caminhada da Igreja. Aqui recordo, além das profetisas do Antigo Testamento – Débora, Miriam, Hulda – algumas figuras como Maria de Nazaré, Maria Madalena e outras tantas, sem esquecer as doutoras da Igreja como Santa Catarina de Siena, Teresa d’Ávila, ou ainda, santa Dulce dos pobres, na Bahia, e a Beata Nhá Chica, em Minas Gerais. Penso ainda na grande multidão de mulheres anônimas que atuam nas comunidades, com dedicação e amor. A Igreja é uma mulher-mãe, é a comunidade esposa que clama e aguarda a volta de seu Esposo (cf. Ap 21,9). O Ano Santo nos oferece a oportunidade de pensar e repensar as relações, o lugar e o papel de cada um de nós na Igreja e na sociedade.

Por gentileza, deixe a sua mensagem aos animadores e animadoras vocacionais.

O Ano Jubilar é um tempo de graça. Não podemos deixar escapar esta oportunidade eclesial para um profundo e renovado encontro com Jesus Cristo. Nós, que servimos na animação vocacional, cultivamos a consciência de que todos somos peregrinos na messe do Senhor. Cristo é a nossa esperança. Portanto, o Jubileu é o tempo propício, forte, para oferecermos ao mundo o nosso testemunho humilde de adesão e compromisso com o Evangelho. Temos o privilégio e a chance de vivenciar este Ano da Graça junto aos jovens vocacionados, no interior das comunidades. Não vale perder esta ocasião, acomodar-se e não viver intensamente a proposta do Ano Jubilar 2025. Nós, da família carismática do Rogate, estamos organizando o I Encontro Internacional da Juventude do Rogate, que se realizará no mês de julho de 2025, em Roma, quando, na mesma ocasião, o Papa Francisco encontrará os jovens de todo o mundo para a celebração Jubilar.