Quarta-feira de cinzas começa a quaresma. A liturgia nos convida ao silêncio, à prece e à conversão. Talvez, muitos rejeitam este apelo de fé e não manifestam nenhum interesse de trilhar esse caminho que nos prepara para celebrar o mistério pascal. A Igreja nos convida à revisão, reconhecer as fragilidades, pedir perdão e crescer na comunhão. Somos chamados a intensificar a vida de fé, a viver com mais fidelidade a caridade e o amor fraterno, que o Evangelho propõe para cada um de nós.
As cinzas sinalizam as fraquezas humanas e indicam a penitência e o luto diante das situações de morte. Ao recebê-las em nossa fronte reconhecemos que somos pecadores e contamos com a misericórdia do Pai para recomeçar a vida. Como povo de Deus seguimos o caminho da quaresma, aproximando-nos de Jesus Cristo, para partilhar o mistério da sua paixão, morte e ressurreição. É tempo de retornar ao Senhor “com todo o coração”, conforme escreveu o profeta (cf. Jo 2,12). Trata-se de um itinerário espiritual que parte do lugar mais íntimo do coração humano e nos conduz ao encontro dos irmãos. Aliás, nas relações com o próximo temos a oportunidade de testemunhar nossa opção pelo Evangelho, não apenas com as belas palavras, mas especialmente pelas atitudes e a começar de nossa própria casa e ambiente familiar.
A quaresma é um movimento interior que não se reduz à esfera da individualidade, mas alcança a inteira comunidade de fé. Todos são chamados a avaliar, repensar, pedir perdão e recomeçar. O Pai é misericordioso e abraça o coração que admite suas limitações e retorna ao seu aconchego. Deus nos quer junto dele e nos oferece a graça da reconciliação (cf. 2Cor 5,20). Claro que há um esforço da parte de cada coração sedento do carinho de Deus. Mas tudo é graça que nos movimenta e atrai para a intimidade com o Pai. Ele enviou o Primogênito para nos encontrar e salvar. Toca a cada um de nós, acolher a graça e deixar o Espírito trabalhar para que possamos frutificar em meio a este combate espiritual travado no cotidiano da vida.
A imposição das cinzas sobre a nossa cabeça seguida com a frase do celebrante tomadas do livro do Gênesis – “Recorda-te que és pó e ao pó retornarás” (Gn 3,19), ou da exortação de Jesus: “Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15) apontam para a verdade da nossa existência humana: somos frágeis, limitados, pecadores que na misericórdia do Pai encontra salvação. Importa escutar, acolher e abrir o coração com todo o povo de Deus que celebra na intensidade da fé o tempo da quaresma, cuja meta é o encontro com o Cristo ressuscitado. Neste peregrinar quaresmal não dispensamos a humildade, a abertura interior com a coragem de rever posturas, avaliar comportamentos e atitudes, superar conflitos, construir pontes, pedir e dar perdões. Somos chamados a intensificar o processo de conversão pessoal e comunitária. Precisamos ficar atentos para não ceder à tentação de justificar os pecados e continuar iguais sem chegar a uma verdadeira páscoa, passagem para uma vida nova à luz da ressurreição do Senhor. Temos a liberdade de realizar ou não a verdadeira páscoa: fazer a passagem da morte para a vida, do pecado para a graça. Reconciliação. Podemos buscar a mudança de vida ou simplesmente justificar e nos habituar com os pecados e nada transformar. O risco é permanecer na superficialidade e não aprofundar na vida o que celebraremos na liturgia. Que Deus, Pai misericordioso, nos ajude a viver este tempo de amor, de fé e de esperança. Vamos todos participar das celebrações, incrementando o nosso processo de conversão e plena adesão ao Evangelho. Deus nos abençoe nesta peregrinação rumo à Páscoa, início de uma nova estação na vida de todos nós. Amém.
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