Reflexões do Pe. Maia – 1

by Gilson Maia
A fé
A fé é uma realidade que começa a onde termina a total possibilidade de prova. na criação prova o sobrenatural,o menos não produz o mais. Todas as realidades espirituais só são provadas por revelação divina. Só sabemos de Deus o que Ele mesmo revelou. A fé é fria e não pode ser misturada com as realidades históricas, só temos fé porque Deus nos deu como dom a graça de crer. A fé é um grande investimento divino em nossas vidas e ela é a raiz fundante da santidade.
A santidade de vida manifesta o grau de nossa fé. Três coisas salvam as pessoas,a saber: a fé, a ignorância e a loucura. A ignorância e a loucura porque tiram a inteira responsabilidade da pessoa, a fé porque é a expressão da Graça. A liberdade humana não existe nem na ignorância e nem na loucura, portanto isentam as pessoas da responsabilidade histórica. A liberdade é a primeira manifestação da fé, toda fé é fruto da graça e daí a beleza da santidade: só é santo quem é livre e só é livre quem é santo.
A santidade é inseparável da liberdade. A liberdade reside na consciência humana e a fé no todo da existência humana. A liberdade é uma excelente parte da fé. A liberdade existe na exata proporção da consciência saudável e realizar a distinção entre fé e saúde é fundamental. Os cinco sentidos são as portas da vida interior e a fé está no final de cada um, assim sendo a fé não é uma experiência sentimental, mas a sensibilidade do divino (do sobrenatural) na vivência existencial da pessoa histórica. Sendo uma virtude infusa, a fé é o sentido da vida e cessará no exato momento da morte. No céu não existe fé, ela é uma realidade divina só existente na história, dura o espaço da vida material. Zelemos ardorosamente de tão precioso dom e o coloquemos em tudo na dinâmica real da vivência diária, somos pessoas de fé, portanto somos de Deus. Não nos pertencemos.
O máximo, o mínimo
O processo histórico da conversão nunca é um caminho retilíneo, mas tortuoso. Deus tem o costume de fazer alguns momentos de silêncio e até permite que façamos uma certa experiência de abandono. Justamente aqui o Senhor está trabalhando em relação aos diferentes fatos negativos que estão guardados no inconsciente da pessoa, também ali a conversão tem de acontecer. Nosso arquivo morto precisa de superação e só a graça sacramental pode realizar tal tarefa. Neste período, sonhamos sonhos estranhos, é a expressão da saudade que funciona também na inconsciência. Tal período é muito rápido e logo a graça retorna e daí para frente seu grande trabalho é a consciência ofendida pelo pecado. A nossa sensibilidade fica a flor da pele e nos sentimos  expostos e bem frágeis.
A graça sacramental nunca gosta de andar em linha reta, opta sempre pelas curvas, ela (a graça) sabe que nas curvas da história pessoal de cada um existem esconderijos secretos que também necessitam de superação (pecados de estimação). A conversão da pessoa é uma obra de arte da Trindade Santa, ao longo do processo, Ela vai realizando as correções devidas, por isso o caminho é tortuoso. O mistério da iniquidade tenta nos convencer, com sutileza, que tem muita gente pior do que nós e portanto já estamos muito bons, é a expressão real do desânimo tão comum. A Trindade Santa é a mais absoluta perfeição e nos chama a está perfeição, acontece que o maligno nos tenta convencer oferecendo-nos alguma perfeição. O mal nos propõe uma parte, nunca o todo e tenta nos convencer que a parte é o suficiente. O grande processo e também o monumental segredo é este: Deus nos oferece o máximo e o demônio nos oferece o mínimo. Aqui está a síntese do processo da conversão: deixar o mínimo para buscar o máximo, ou seja: trocar o pecado pela Graça.
Corpus Christi
A  eucaristia é a expressão mais plena da nova criação realizada por Cristo, em Cristo e para Cristo. Ele, o Senhor, veio e  restaurou a criação inteira, permaneceu conosco. Fico imaginando a grande ação que a eucaristia realiza no cosmo, também ali acontece a presença do Sagrado. Quando celebramos a eucaristia a natureza toda se põe num solene louvor, a seu modo ela (a natureza) também proclama que Cristo é o Senhor para a glória de Deus Pai.
Tudo foi estragado pelo pecado, portanto tudo foi restaurado em Cristo. A eucaristia precisa ser digerida por nós, alimento verdadeiro. Ela planta e rega na realidade existencial de cada pessoa uma ação de eterna juventude. A eucaristia gera e conserva em nós a plena jovialidade da graça, quem comunga de coração sincero não envelhece espiritualmente. Quem se alimenta da eucaristia nunca ficará saciado, ela provoca uma fome sempre maior e assim gera uma grande dependência que é justamente a simplicidade da liberdade. A liberdade nos faz dependentes de Deus, isso porque é na liberdade humana que ela (a eucaristia) reside por opção.
A liberdade é a casa da eucaristia e somente o pecado mortal impede que ela seja acolhida. O mistério da iniquidade não é inimigo da pessoa e sim da eucaristia, tal mistério sabe que ela é fecunda e sempre diviniza o homem. O pecado deseja ser dono da nossa liberdade e é por isso que a eucaristia ali se estabelece como guardiã da graça. Comungar eucaristicamente significa entregar-se a graça e na vivência existencial diária estar, sempre, livre para o serviço litúrgico do louvor. A Trindade Santa fica muito feliz e até se emociona em cada celebração sacramental da eucaristia, justamente porque assim fascina o homem e toda criação. Deus nos alimenta dando-Se a nós, gosto de dizer que: a eucaristia é uma real experiência celeste, é o céu já aqui enquanto real experiência de fé.
O Pároco
O pároco tem responsabilidades especiais em relação a comunidade. Ele é a extensão do bispo, portanto ele é pastor da comunidade. Te-lo é direito da comunidade paroquial e não tê-lo é prejuízo. O administrador paroquial não é pastor e sim gerente até que chegue o pároco. Somente o pároco tem deveres de pastor (exemplo,aplicar uma missa semanal pelo povo)e assim muito menos o vigário paroquial. Ter pastor é muito importante e também uma santa tradição da Igreja.
Muitos bispos, erroneamente, não gostam de nomear párocos e daí privam a comunidade do seu direito. Sabemos todos que: não é o título e também não é o ofício que dão problemas, mas a pessoa em si .Na Igreja de Jesus, o nazareno, o serviço é o eixo central e ele requer esforço de conversão, isso significa que: do homem podemos esperar tudo inclusive o nada. O poder exige uma grande relação de consciência eclesial.
Hoje o amadurecimento emocional chega mais tarde e muitos padres jovenzinhos ainda trazem muito de adolescentes. Realidade que precisa ser considerada, pois não é justo cobrar de um adolescente atitudes de adultos. A pressa sempre foi uma grande tentação na Igreja, acontece que não basta resolver a questão tal, mas resolvê-la bem.
Uma situação muito importante e profundamente necessária é repensar a questão paróquia, exemplo: a cidade deveria ter uma só paróquia com o seu respectivo pároco e todas os demais templos com o seu padre próprio na qualidade de administradores paroquiais. Aqui reside uma grande riqueza da pastoral de conjunto, um pároco na matriz e os administradores paroquiais espalhados ao longo da comunidade paroquial. Uma cabeça central coordenando (pároco)e os outros padres entregues ao serviço pastoral, aqui uma excelente centralização também do administrativo e econômico. Falta muita criatividade e também por isso não superamos muitos dos nossos desafios. Isso exige uma profunda reforma no modelo de formação, formar pastores e não gerentes eclesiásticos, carreiristas. O futuro não depende da experiência e sim da ousadia, agora nada disso pode acontecer da noite para o dia. Precisa ser um longo processo de abertura e santidade, aliás somente os santos sonham e tal realidade acontece justamente na incansável busca do melhor. Coragem, a Igreja precisa, merece e espera.
Covid 19
A pandemia que assola o mundo está revelando, entre nós brasileiros, uma profunda pobreza intelectual. Já são quase 750 mil afetados com 37312 óbitos. Para os torcedores da direita tudo bem e absolutamente normal. Para os torcedores da esquerda tudo bem anormal. A questão por explícita má fé foi politizada, virou uma disputa ideológica. O bom censo indica que: não é uma questão de ideologia e sim de saúde pública. Assim deve ser enfrentada e seu controle ainda está muito longe. Fico assustado com ambos posicionamentos, pois se uma só pessoa tivesse morrido já seria demais.
De outro lado está a natureza nos perguntando até quando vamos ofende-la e por não conhecer o perdão, sua resposta é por demais dura. A pessoa humana precisa se reconciliar com a natureza estabelecendo com ela um relacionamento respeitoso e educado. A natureza não admite e nem aceita violência alguma e sua lógica é o código de Hamurabi (primeiro código escrito), olho por olho e dente por dente. A pandemia é uma peste generalizada, sem vacina e sem tratamento. A própria pessoa vai ou não reagir. As pandemias são sucedidas por três coisas, a saber: 1) uma grande crise social; 2) uma grande crise econômica e 3) uma grande pesquisa científica. A somatória dos dois primeiros fatos promovem uma grande convulsão na sociedade. Muita gente vai ficar pobre, falir; muita gente vai morrer (milhões) e muita gente vai continuar achando que tudo isso é mera conversa da oposição. O fato real é que precisamos de serenidade e muito juízo para oferecer ao mundo e a história um serviço de reconstrução. Deixemos nossos sentimentos políticos de lado e com vigorosa fé coloquemo-nos no trabalho de ser uma expressão da absoluta vocação cristã: a caridade. Na hora das grandes crises, só existe um valor: a VIDA.
Silêncio
Uma especial realidade na vivência existencial da história é o grande segredo de fazer silêncio. Ter tempos de silêncio reais e verdadeiros. A falta do silêncio em nossas vidas é muito grave. Um cruel e muito perigoso fato é a gente trazer para dentro da vida o barulho externo. Toda pessoa tem necessidade de silêncio existencial, ou seja: dar tempo para você mesmo. Passear pelo seu interior com muita transparência e sendo também honesto (contigo mesmo) para com sabedoria relevar algumas coisas. Falar vale prata, mas calar vale ouro. O barulho externo só adentra a nossa interioridade com a nossa autorização e a primeira vítima é a paz interior, depois causa um grande estrago na liberdade humana.
Um elevado índice da população tem um profundo medo do silêncio (medo de se encontrar), portanto muitos vivem numa sequência ruim de auto engano. As pessoas todas precisam de ser amigas de si mesmas e assim terão melhores condições de superarem as diferentes dificuldades. Esse é um processo histórico que exige de cada um o sereno esforço da lúcida consciência da dinâmica histórica de nossas vidas. Para superar ou para vencer qualquer obstáculo temos de assumi-lo primeiramente. A fuga nos esconde de nós mesmos e gera uma grande insegurança. Um vital segredo é não se comparar nunca com nada e nem com ninguém. Na realidade humana não existe clone e ter consciência das diferenças é absolutamente saudável. Somente as pessoas que estão buscando uma melhor qualidade de vida conseguem conviver com o silêncio. Silêncio e alegria, são expressões de vigorosa santidade. Quando falta o silêncio real vamos para a mediocridade da vida, viver em função do barulho, significa superficialidade. Os cultos são objetivos. Agora quero afirmar que: é impossível viver com dignidade sem uma real experiência com o silêncio, o silêncio é o mais forte grito de Deus e por isso é insuportável por muitos.
Sem pressa
A Trindade Santa não precisa da pressa, tal realidade pertence aos humanos. Também no todo do universo a pressa não acontece. A fadiga humana é inimiga da santidade, pois quer antecipar tudo e por isso vive num permanente conflito.
A pessoa tem o direito de ser bem atendida, se o padre não estiver disposto é melhor que diga não. Um sacramento mal celebrado por falha do padre (?) faz muito mal a pessoa. Aqui quero insistir na boa disciplina paroquial (horários disponíveis)e deve o ministro se preparar. Na pastoral e muito mais na liturgia o improviso faz um grande mal. No sacramento da penitência, não basta fazer tudo conforme o rito, tanto o ministro como a pessoa precisam experimentar a vigorosa expressão da Graça. A nossa salvação (humanamente) reside na calma e na conversão, é um processo histórico que não admite queimar etapas. Portanto, muito zelo.
A Trindade não erra o alvo
A experiência histórica da conversão é um grande processo dialogal entre a graça divina e a liberdade humana. A liberdade humana é muito desconfiada e sempre age querendo ser o centro da vida. A graça divina não precisa de nenhuma pressa, sabe que no final será a vitoriosa. Sua primeira ação na pessoa é despertar uma grande atração em função de algo desejado por ela (a pessoa). A Trindade Santa jamais erra o alvo, sua vocação é amar. Somente depois de algum tempo agindo no silêncio é que a graça divina dá um toque magistral na vida da pessoa. Aparece na tal pessoa uma grande vontade de ser realmente boa e assim acaba por entregar-se ao apelo de Deus. Deus sabe que a surpresa não é sua aliada, então age sempre de modo a nunca ferir a liberdade humana. Quando a liberdade é ferida, nunca mais se recupera e se estabelece uma  grande e profunda indiferença. Fica pior do que antes. Aqui posso afirmar que Deus nunca humilha ninguém, Ele sabe que tal realidade gera na tal pessoa um fechamento cruel. O jeito de Deus agir é suave e forte. Estabelecido esse relacionamento a respectiva pessoa experimenta uma intensa visita de Deus na própria vida. Assim sendo, o processo da conversão dura o exato tempo da racionalidade humana. Feito isso a graça divina coloca no sentimento da pessoa o interesse em crescer nas podas, diminuir para melhorar.
A Trindade Santa nunca age em várias frentes simultaneamente, a conversão não é um tsunami na vida da pessoa e sim uma brisa suave. O barulho não faz bem e o bem não faz barulho. Observem que tenho algumas expressões chaves, nelas existe o sentido da espiritualidade cristã, tudo o mais é moldura. Deus nos convence  partindo de um ponto específico. A segurança de tudo isso é a paz que Ele, o Senhor, nos merece como alimento para prosseguirmos na edificante caminhada pela e na santidade. A nossa santidade é o objetivo de Deus.

 

 

A celebração eucarística

A celebração sacramental da eucaristia produz no ministro que a realiza, duas situações bonitas, desafiadoras e extraordinárias. Tais verdades acontece também na experiência existencial dos participantes da respectiva celebração. 1. Provoca no interior da pessoa uma grande inquietação justamente porque a nossa ordem não é nem divina e nem humana. Acontece um pouco de equivocação nas nossas relações humano-divinas. 2. O efeito da ação redentora da eucaristia em nós não seque os nossos planos, age com absoluta liberdade e assim provoca cuidadosamente uma quebra de rotina e isso nos dificulta muito.

 

O interior de nossa vida não é uma casa que precisa de faxina regularmente. Muitas das grandes complicações não estão na poeira, mas na mão do faxineiro. Quando realizamos uma faxina interior, deixamos muitas coisas fora do lugar comum. Nosso lixo fica tão bem guardado que até temos dificuldades para joga-lo fora. Nesse segundo momento a eucaristia circulando pelo nosso interior vai se indispondo com o referido lixo. Quem explica a presença do lixo, dele não se livra (pecados de estimação). Não podemos censurar a obra da eucaristia em nossas vidas, por isso os dois momentos. Afinal a ação de graças que a eucaristia faz é expressamente com a grande intenção de organizar o  nosso interior. Aqui vou revelar um segredo pessoal: depois de cada missa eu digo assim, Senhor me organize por dentro. Amém.

 

 

O Bispo de Roma

O bispo de Roma é o sucessor do apóstolo Pedro, o primeiro a proclamar a fé lá pelas bandas de Cesaréia de Felipe. Sinal visível da unidade eclesial ,na caridade preside a Igreja. Nossa filial fidelidade ao bispo de Roma é uma excelente característica da qualidade positiva de nossa vivência. Como padre de roça, gosto muito da expressão bispo de Roma. O primeiro entre os iguais. Não é uma teocracia, mas uma grande comunidade de fé, espalhada pelo mundo sob a presidência do respectivo bispo diocesano próprio. Em cada diocese, no santo sentido o bispo exerce o poder total e tem de estar sempre em absoluta comunhão com o bispo de Roma. A Igreja está completamente presente em toda diocese. O bispo na diocese não é um delegado do Papa, mas pastor próprio da respectiva diocese.

 

Em Trento,o concílio normatizou que o bispo só pode ter uma diocese e é obrigado a residir nela. Já no Vaticano Segundo, exigiu a obrigatoriedade de ter um vigário geral (era facultativo), justamente para dar ao bispo um assessor de sua confiança participando assim do poder executivo do mesmo. Quando o vigário geral tem juízo ele faz duas coisas: faz aquilo que o bispo pede e reza. Tem de ser absolutamente discreto e plenamente leal. Quem exerce cargo de confiança não pode nunca fazer oposição. Quem anda na garupa não segura as rédias. O bispo na diocese é como o pai na família, vai cuidando dos filhos e ao mesmo tempo olhando a casa. A fecundidade do bispo está no seu empenho pelas vocações, aqui conhecemos o bispo. O termômetro infalível da boa pastoral é o surgimento de vocações, senão é nada.Nessa madrugada, sem nenhuma inspiração, quero concluir afirmando que:a catequese deve ser uma vigorosa fonte de vocações.

 

 

O fascínio da vida

A fragilidade humana é uma realidade verdadeira. Assumi-la com coragem é o primeiro grande passo para a possível superação. Cada pessoa tem e precisa saber que: não existe ninguém perfeito, pronto; ninguém é um vice deus e tomar consciência de que somos apenas e tão somente humanos. Ser humano é absolutamente normal e a realidade concreta é sempre muito digna. Toda pessoa é chamada ao futuro, no entanto somos do presente e isso nos desafia fortemente. Sei o que quero e devo, mas faço o que não quero. Aqui reside uma fundamental questão: nunca nenhuma comparação com ninguém, a diferença é parte integrante da nossa identidade. Somos também frutos de muitas outras situações que fogem ao nosso domínio.

 

Peço licença para fazer uma extraordinária afirmação: quanto mais espontânea foi a relação sexual que nos gerou, tanto mais humano somos.A concepção que sucedeu ao ato descontraído de nossa origem recebeu da alegria de nossos pais a beleza da existência. Nesse momento da fecundação agiu Deus e sua ação é sempre um ato pleno de amor. Somos fruto do amor de Deus no carinho de nossos pais. A vida é a melhor coisa que existe e viver, mesmo com dificuldades, é fascinante. O sofrimento não impede ninguém de amar, apenas purifica o amor. Por isso gosto de dizer: o leito conjugal de nossos pais é sagrado. As fragilidades não impedem a perfeição, apenas as tornam mais história de vida santa. A gente ama quem sofre com a gente. O amor verdadeiro não impede o sofrimento, mas o transforma em caminho de dignidade. Agora, de madrugada peço a Deus que guarde no amor todos nós. Gostei dessa reflexão.

 

 

O dom da sabedoria

Entre os sete dons do Espírito Santo um é o dom da sabedoria. Tal dom é dado justamente para que a pessoa sinta o sabor divino. Saborear as coisas de Deus, ter gosto pelas coisas sagradas. O presente dom trabalha eficazmente contra a indiferença. As realidades divinas devem despertar nas pessoas uma bonita manifestação de prazer no sentido mesmo de satisfação. Lidar com as coisas divinas é prazeroso e portanto agradável. Todo dom divino é uma graça muito especial e deve ser assumido como obra ou exercício de profunda espiritualidade.

 

A nossa relação com Deus está relacionada com o grau de nossa consciência em relação aos diferentes dons. Cada dom expressa uma excelente característica do sagrado e jamais pode ser considerado um ornamento mas algo de necessário na dinâmica vivencial da fé. Assim sendo, não basta crer em Deus, é-nos pedido sentir o sabor Dele. O dom da sabedoria está ligado ao sentido do prazer e nunca na capacidade do intelectual. A vivência da fé cristã depende intensamente do experimentar o gosto de Deus. A realidade histórica do sagrado passa pelos sentidos,esses são as portas da alma. Educar os sentidos é de vital significação,pois permite ao humano ter com o divino uma excelente relação de prazer (gosto). O dom da sabedoria nos possibilita também sentir uma grande atração pelo transcendente, ele desperta em nós uma grande vontade de ir sempre mais para dentro de Deus. A fé nos coloca dentro de Deus e ao sentir seu gosto somos chamados a santidade, sempre maior. A Trindade Santa é o limite da santidade. Agora, podemos concluir que:a santidade não é uma posse mas uma busca. Coragem.

 

 

A vida em primeiro lugar

Assisto estarrecido, por parte de uma considerável parcela da população, a indiferença diante da tragédia que já mata mais de mil pessoas por dia. Até parece que a vida foi  reduzida ao inconsequente número das estatísticas. A existência humana está perdendo o seu digno valor e virou uma mera servidora do deus dinheiro. Salvar a economia é uma tarefa de nobre patriotismo enquanto a vida é descartável nas valas comuns de nossos cemitérios. Falta seriedade ou seja, dignidade aos que são responsáveis. Com quase 19 mil mortos, a sociedade humana nacional mantém (com raras exceções) a indiferença como se tudo fizesse parte de uma grande tragédia inconsequente. A sociedade civil organizada, tem a responsabilidade histórica de não omitir. Temos de voltar aos fundamentos nobres da sadia convivência social. Ninguém pode ser responsabilizado pelo início da tragédia, mas tem de ser realmente cobrado pela irresponsável condução da mesma. O que está em jogo é a vida, primeiro e maior de todos os dons.

 

A peste negra, a gripe espanhola, a febre amarela, foram cruéis e descartaram milhões de vidas, no entanto foram enfrentadas com firmeza e competência. A peste negra matou 50 milhões de pessoas, foi vencida. Faltam aos nossos líderes a consciência vital da responsabilidade histórica e devem (oportunamente) responder perante o tribunal penal internacional de Haia pelo genocídio. Não podemos ver como normal tão grave situação e muito menos como fatalidade permitida por Deus. Diante do mal, nunca digam: é a vontade de Deus. A Trindade Santa não precisa do mau para fazer o bem. A Igreja tem por dádiva divina a grande tarefa de promover e resguardar a integridade da vida de toda e qualquer pessoa. A ignorância não pode ser responsabilizada, mas a nefasta ideologia do mercado e seus adoradores devem dar perante Deus e a história uma explicação: porque não a vida? Pelo mundo afora, ao longo da história,  as tragédias sociais sempre foram da responsabilidade humana.A vida em primeiro lugar sempre.

 

 

Não existe padre vago

O exercício do sacerdócio ministerial católico só é possível em íntima comunhão com o bispo. Também o presbítero religioso, inserido no trabalho pastoral diocesano, está muito mais ligado ao bispo local do que ao superior religioso próprio. Não existe padre vago, afinal todo sacerdote é um cooperador da ordem episcopal. Nenhuma diocese (normalmente) poderia ficar vacante, diocese sem bispo é corpo sem cabeça. Sabendo que a “emeritude” chega aos 75 anos, deveria toda diocese ganhar um bispo coadjutor quando o titular completasse 74 anos. Assim evitaríamos prolongadas vacâncias e o sucessor já presente no último ano do titular teria condições normais de conhecer a futura diocese.

 

O bispo tem a plenitude do Sacramento da ordem, portanto toda diocese precisa ter padres e diáconos permanentes e assim a plenitude episcopal séria exercida na sua totalidade. O Vaticano II retomou essa ideia ainda não comum entre nós. Naturalmente que a Igreja precisa de bem formar tais diáconos permanentes com esmero e capricho, vão agir em nome da Igreja e sem competência é melhor não tê-los. Nunca esquecendo que o diaconato permanente é parte do sacramento da ordem e sua tarefa central é o serviço social, podendo agir também no serviço litúrgico. Aos poucos vamos caminhando e assim buscando crescer sempre mais na consciência eclesial.

 

 

O Rosto da Trindade

Toda pessoa humana é um grande mistério. Cada um é uma obra prima de Deus. Entre todos os seres criados, somente a pessoa é livre e consciente (tudo o mais é programado), portanto pode e deve evoluir. Sua capacidade de amar é divina e sua sensibilidade é uma expressão de sua dinâmica grandeza. Cada pessoa humana tem o seu jeito absolutamente próprio de ser normal, o único padrão é a misericórdia de Deus. Temos de lidar com cada uma das pessoas como se estivéssemos lidando com a própria divindade. A pessoa humana é um pequeno deus. A realidade mais sagrada nela é a sua dignidade humana e a sua parte mais importante é o seu suor. O suor é o salário da dignidade humana. Assim sendo tudo o que prejudica ou ofende a pessoa fica em absoluto proibido. A única técnica que funciona com e na pessoa é o carinho. A correção fraterna é por excelência uma especial obra de caridade, fazê-la é tarefa de quem ama. Quem me corrige, me ama. O mais nobre tratado feito ao longo de séculos da história é o mandamento novo, o único eficiente. Ao se encarnar como pessoa humana, a Trindade Santa quis dizer: essa é a minha face visível historicamente. Amar é a vocação de todos e quem ama é inocente. Lindo.

 

 

A mesa da Palavra, a mesa do Pão

A espiritualidade cristã é profundamente fundada na relação da Trindade Santa conosco e não o contrário. O grau da nossa vida espiritual expressa o nosso entendimento da beleza divina. Rezar é  descobrir a beleza da plena clemência divina. A consciência do sagrado está fortemente ligada ao grau de nossa humildade. Os orgulhosos não conseguem rezar, recitam bonitas fórmulas vazias. Rezar não é se apresentar diante de Deus, mas percebe-LO presente intensamente na realidade de nossa vida histórica. A vivência existencial da espiritualidade cristã nos põe diante da mais absoluta liberdade, só quem reza é livre para Deus.

 

A pessoa de fé não é aquela que reza muito e sim a que reza bem. A Trindade Santa nos fala fortemente na celebração eucarística, ali nos fala pela palavra sagrada (leituras bíblicas) e pela presença real do Senhor ressuscitado. A palavra bíblica assim como o eucaristia são de iguais dignidade. O Deus que vem pela leitura sagrada é o mesmo que nos alimenta no pão. O pão da palavra tem o mesmo valor do pão eucarístico, são inseparáveis. Seria muito bom e também bonito que o bispo tirasse o solidéu durante a leitura do evangelho (tem precedência) assim como o faz em relação a eucaristia propriamente. São de iguais dignidade. A liturgia ainda não deu a Santa Palavra o seu digno reconhecimento. Chegaremos lá. A mesa da palavra e a mesa do pão formam o pilar sólido da espiritualidade cristã.

 

 

Penitência ou recriação?

O sacramento da penitência é o beijo de Deus no coração humano. Por força de sua graça sacramental específica, voltamos a pureza batismal. Não se trata de uma mera limpeza ou faxina, mas é um grande ato de recriação. Imediatamente a absolvição produz uma excelente ação, toda plena, de vida absolutamente nova. Na dinâmica da fé, diante do criador começamos ali. Não é um renascer e sim um pleno começo. Na absolvição sacramental o Senhor Deus nos cria. Conviver com as recordações ou lembranças do passado (realidade absolutamente normal) se constituí num dos maiores desafios humanos.

 

O mistério da iniquidade usa de tais coisas para plantar em nós o desânimo. O demônio gosta de nos dizer: lembra daquilo? especialmente na linha da sensibilidade afetiva. Recordar nem sempre é viver, às vezes é morrer. O respeito humano é outra ferramenta muito apreciada pelo tentador, gerando em nós uma grande vergonha de nós mesmos. Temos com a graça de Deus de nos preparar para o combate, pois o mal é muito educado e profundamente sábio. Nunca nos ataca pela frente, mas despertando no nosso íntimo vontades gostosas, mas perversas. O demônio é terrivelmente falso e depois de nossa queda zomba de nós. O mistério da iniquidade, depois de nossa queda nos oferece o sentimento de culpa para nos iludir em relação ao santo arrependimento. Na confissão sacramental, a Trindade Santa nos conquista pelo dom do sincero arrependimento e no ombro nos reconduz ao necessário convívio com a comunidade de fé. Deus nos ama e é perito em nós, com coragem aproximemo-nos do trono da graça sobretudo no busca humilde da penitência sacramental, ali a Trindade Santa cochicha ao nosso coração: Eu te amo.

 

 

Só os santos mudam o mundo

Tenho ouvido que o mundo será profundamente outro depois da pandemia do corona vírus. Realmente a história novamente está numa encruzilhada, terá de decidir para que lado seguir. Como estudioso da história devo dizer que na história não tem nenhum improviso, é lógica e sequencial, sabemos todos que a graça divina opera sempre visando o melhor. Acontece que a graça divina não age no vácuo e nem compete com a ignorância. O mundo só será profundamente outro no sentido saudável e positivo se cada pessoa se abrir ao bom propósito da necessária mudança.

 

Na fluência da história nenhuma mudança é automática. Toda e qualquer mudança precisa e deve ser construída pelo digno trabalho das pessoas. A dor pode nos levar ao bem maior, como também ao pior possível. Temos de educar a nossa liberdade no sentido de fazê-la ouvinte atenta das novas exigências, senão iremos, novamente ao pior período da idade média. Toda experiência ensina passado, em relação ao futuro precisamos é de ousadia. Maia ,você sempre fala isso, porque? Se não houver uma verdadeira busca de santidade, tudo acabará numa mera ideologia. Aqui apelo a todos: não tenhais medo da santidade, ela mudará o mundo e a história. Somente os santos exercem uma verdadeira e positiva influência. O restante é nada. A graça portanto, deseja e quer agir e fará a grande celebração da conversão se cada um se dispuser participar da obra que há de começar pela simplicidade de vida. A busca da modéstia vivencial é a grande marca no início de um novo e bonito tempo. Somente os santos mudam o mundo.

 

 

Não somos príncipes

A consciência da eleição divina deve gerar no presbítero a lucidez do serviço litúrgico do ministério. Deus nos escolheu por misericórdia e jamais por qualquer outra coisa. A escolha divina precedeu a nossa existência histórica, portanto é graça pura. Não estamos padres, mas somos padres. A Trindade Santa nunca usa o verbo ter, sempre e tão somente o verbo ser. A graça de qualquer vocação é uma iniciativa divina e assumi-la é a condição fundamental para a própria realização pessoal. Não existe nenhuma possibilidade de realização humana na profissão, mas na vocação é a expressão mais plena da festa da vida. Na vivência da pobreza evangélica se manifesta o grau da consciência vocacional. Aqueles que se enriquecem no ministério são infiéis. Nenhuma vocação é dada em função da riqueza e sim da real pobreza evangélica. A fama, a riqueza, o sucesso e o glamour são expressões vigorosas de um ministério mórbido.

 

O pastor só pode ajuntar ovelhas e essas pertencem ao Eterno Senhor. A figura do pastor não combina com acumulação, pois deve estar sempre livre para melhor servir ao rebanho. Quem acumula precisa de fixar em algum lugar, o rebanho é por natureza nômade. A pobreza evangélica não pode visar o bem do pastor, mas o bem do rebanho. A liberdade do pastor pertence ao rebanho na pessoa do bispo. Na dinâmica da fé cristã, a obediência não pode ser apenas um conselho evangélico,mas uma radical exigência da fidelidade ao serviço da comunidade de fé. O padre não se pertence. Um pastor nunca toma posse, mas é a Igreja. A posse não é do pastor mas da comunidade que tem o direito divino de ser atendida. O ser de quem recebeu a graça sacramental específica da ordenação é um ser que configura o padre ao Cristo Sacerdote (pastor), nunca ao Cristo rei. O ser da essência humana do padre tocado pela força da graça o faz apenas um servidor da Igreja, nunca um príncipe.

 

 

O padre não é um “solto”

O apóstolo São Paulo, num dado momento da vida fez uma vigorosa afirmação: para mim viver é Cristo. Tal expressão significa que na vida dele tudo está em função de Cristo.P ara nós padres a mesma frase é de vital valor. Para o padre a vida é Cristo. A nossa vocação é a nossa salvação. Essa tão grande e profunda consciência do sacerdócio se manifesta, sobremaneira em duas realidades. Primeira: o padre não pode viver sem um profundo e ontológico relacionamento com o seu bispo. Na pessoa do bispo o sacerdote tem seu fundamento existencial e pelo compromisso de obediência colocou nas mãos do bispo a sua liberdade. Não nos pertencemos, somos da Igreja. A onde está o bispo, está a Igreja. Segundo: o padre nunca pode agir separadamente do bispo, a força vigorosa do serviço presbiteral, vem ao padre via bispo. Aqui é bom dizer que a Igreja é toda episcopal formando assim um só corpo presidido pelo bispo de Roma, na caridade. Um presbitério em oposição ao bispo, traí a própria graça sacramental. As diferenças são saudáveis,o pensar diferente é bom e etc. No entanto nunca nada pode ultrapassar a mais vigorosa obediência e tal realidade expressa consciência bem formada. Depois da decisão do bispo, resta a dignidade da obediência. Na minha opinião pessoal a Igreja precisa investir mais na formação da consciência do ser do padre. Vocação não é profissão é consagração oriunda de uma eleição divina. No início do rito da ordenação propriamente, é exclusivamente do bispo o acolhimento do candidato no presbitério. O padre não é um “solto”, mas membro ontológico do presbitério presidido pelo bispo.

 

 

A figura do pastor

Jesus viu ao longo de sua vida oculta diferentes imagens de pessoas trabalhando. O pai na carpintaria, agricultores, pescadores, pastores, comerciantes e etc. Quando assumiu a vida pública, usou das várias imagens para as pregações e outras realidades. No entanto, quando quis escolher uma para se apresentar preferiu prontamente a imagem do pastor. Não de um pastor qualquer, mas um bom pastor. Com tal escolha Ele desejou dizer claramente o que significa ser e viver como Igreja.

 

Porque a imagem do bom pastor? De todas as diferentes imagens é a única que relaciona com a outra parte. Tudo o mais é absolutamente ação individual, o pastor interage com o rebanho, esse conhece a sua voz (seu comando) e atende suas orientações. Acontece também um relacionamento de crescimento por parte do rebanho. O rebanho fareja e aprecia a presença do pastor e no seu instinto acredita na segurança que o pastor oferece. A presença do pastor, protege e ampara o rebanho. O instinto do rebanho é a inteligência existencial e natural do mesmo. De outro lado o pastor conhece e sabe o nome de cada ovelha. Assim são duas realidades extraordinárias e diferentes que se completam. Um existe na relação com o outro. A existência de um, implica na existência do outro. Aqui temos uma excelente e bonita imagem da redenção: a Trindade Santa nos conhece por pleno e puro amor e nós a conhecemos por instinto de liberdade. O homem precisa de Deus para se compreender e na experiência do ateísmo não encontra nem razão e nem sentido para a própria vida. Na relação com o sagrado está o sentido da vida humana.

 

 

Um novo tempo surgirá…

Os governos (federal e estadual) fizeram uma opção profundamente equivocada. Escolheram salvar a economia e louvam solenemente o deus dinheiro. Os edifícios bancários são as catedrais do mencionado ídolo. A vida valor absoluto e sagrado foi posta num plano inferior. Tal escolha colocará milhares de pessoas diante do cruel perigo. Em Minas Gerais, os municípios estão sendo convidados para a celebração de uma parceria e assim vão abrindo tudo conforme o estabelecido no referido protocolo. Assim, em questão de dias teremos a volta a normalidade social.

 

Em Delfinópolis pedi para o município ficar fora mas não consegui, prevaleceu o medo da pressão de alguns oportunistas. Tudo o que é material poderá ser, oportunamente, reconstruído, mas a vida jamais. A Alemanha foi completamente reconstruída duas vezes no século passado, assim o Reino Unido, a Itália e o Japão, entre tantos outros países que participaram e perderam as guerras mundiais. Nenhuma vida em nenhum lugar foi reconstruída. A postura do episcopado nacional é de extrema beleza, resguardar e promover a vida. Materialmente, todos estamos perdendo, mas o absoluto dom sagrado é dignificado. Movidos por interesses miúdos os nossos governantes ainda estão pensando em situações que não existirão depois de superada a questão. O mundo será profundamente diferente. Alguns economistas da rica Holanda estão propondo uma excelente mudança de mentalidade muito na linha do Bispo de Roma. Quando a morte nos visita, ela mexe muito intensamente com o nosso emocional e partindo daí somos chamados ao interior do novo. Um novo tempo surgirá, preparemo-nos.

 

 

A vida e o mundo após a pandemia do Covid-19

Depois que passar o flagelo da pandemia do corona vírus, todas as diferentes pessoas (físicas e jurídicas) estarão bem mais pobres. Muitas chegarão a falência e viveremos um longo tempo de vacas magrissimas. Admito, uma substancial diminuição da riqueza.Acredito em algo ao redor de 50% o que significa uma drástica redução. No geral as pessoas ainda não perceberam o tamanho do problema. Levaremos muitos anos para recompor a situação. Existe também uma outra grave questão que é justamente o empobrecimento da real qualidade de vida. Basta pensar (por exemplo) numa diocese que perder alguns padres. Quantos anos para a necessária reposição?

 

Nessa madrugada escrevo tudo isso com o coração partido, temos de nos preparar para um novo tempo e jeito de ser Igreja. A história nos ensina que depois da peste negra houve um grande processo de desfalque no clero e isso provocou uma grande carência. Responderam a questão do modo mais equivocado possível, facilitaram bastante as ordenações para dar uma resposta imediata ao problema. Aconteceu uma tragédia pastoral, a ignorância não tem nada para oferecer. Pouco tempo depois, quando veio a reforma protestante, o clero reduzido e muito mal formado ajudou no desastre. Na vida não podemos nunca dar sorte ao azar.

 

Em nome de Deus e do homem quero fazer um vigoroso apelo: não brinquem de formar padres,ao contrário sejam severos(no bom sentido) é melhor faltar padres bem formados do que ter padres mal formados. A Igreja nossa mãe não merece tão grande aflição. Toda solução imediata é muito complicada e depois teremos de pegar bastante caro. A presente pandemia exigirá, de todos uma nova visão da própria igreja e também da realidade da vida, mas olhando o futuro com os olhos da história escrevo tudo isso. A pobreza material será cruel,no entanto a pobreza humana será muito maior.Rezemos.

 

A graça da absolvição

Quando uma pessoa qualquer procura um padre para ser atendida em confissão, ela (a tal pessoa) foi trazida pela Graça. A mesma Graça também silenciosamente atua no padre, portanto a celebração sacramental da penitência é o encontro litúrgico de duas graças. A graça do arrependimento e a graça da absolvição. O padre precisa ser atento o suficiente para discernir se a pessoa veio por arrependimento (Graça) ou por sentimento de culpa (emoção). Sendo a motivação o arrependimento vamos celebrar um ato real de santidade. Se a motivação for o distúrbio, a própria graça vai nos ajudar ao encaminhamento clínico necessário. Jamais achar que a graça vai resolver a questão do distúrbio. Quando o padre tem consciência profunda da vigorosa expressão da Graça, será humilde o suficiente para fazer o devido aconselhamento. Não podemos misturar distúrbio emocional com pecado, são realidades diferentes e daí a necessidade de fazer bom e inteligente uso da rica e valiosa psicologia.

 

Tudo isso também se aplica a direção espiritual. Quando o padre confunde as coisas, acaba por provocar na tal pessoa um dolorido processo de apego (a pessoa se apega ao padre) e isso não é uma coisa boa. Não podemos ter dó de ninguém nunca e sim compaixão. A dó também é distúrbio e se somar o sentimento de culpa da pessoa com a dó do padre, teremos um resultado doentio (aqui muitos padres deixam o ministério). Atender sempre com a porta aberta e nunca num cômodo reservado. O atendimento pastoral não pode ser confundido com atendimento clínico. Distúrbio não é pecado, é sim uma doença que precisa do respectivo tratamento. Quando a mesma pessoa começa a voltar com os mesmos pecados, é bom que abramos bem os olhos. Tudo o que a ciência pode fazer que faça, a ação pastoral da Igreja não é obra científica. A psicologia no seu todo nos ajuda profundamente e é (no seu campo de ação) uma excelente e bonita graça divina.

 

 

Rei ou Bom Pastor?

No interior da Trindade Santa existe um conteúdo pleno. Tal realidade é a fonte de tudo o mais. Usando uma imagem muito humana, esse conteúdo é a motivação divina. Misericórdia, eis o interior de Deus. Tudo o que a Trindade Santa faz, o realiza por misericórdia. A caridade é a face visível da identidade divina. A Trindade Santa faz tudo por misericórdia visando a caridade. Em Deus, a misericórdia é a causa e a caridade é a consequência. A Igreja nasceu do lado de Cristo rasgado pela lança para ser, na história, uma excelente expressão do infinito amor de Deus posto a serviço dos homens.

 

O ano litúrgico, deveria terminar tendo como grande solenidade não o Cristo Rei e sim uma grande solenidade do Cristo Bom Pastor. Essa foi biblicamente a auto imagem do Cristo. A imagem do Cristo rei é um equívoco da reflexão teológica, fruto de uma associação indevida com o imperador Constantino. A Igreja como corpo de Cristo é manifestação clara da eclesialidade fraterna, os diferentes membros são orientandos pela cabeça que é Cristo. Todos os membros dependem de todos. Por isso a hierarquia deve ser uma expressão concreta e profunda de autêntico serviço. A relação entre os diferentes membros é uma solene liturgia presidida pelo Cristo cabeça. Cada membro deve contribuir com o máximo e assim não haverá necessitados entre nós. O corpo de Cristo (a Igreja) é frágil, mas na dependência da cabeça (Cristo) então é forte. Todos os membros são diferentes, mas iguais no serviço. Na Igreja de Jesus os diferentes serviços são plenamente valiosos e a tarefa de um precisa e depende dos demais. A graça realiza essa coordenação de modo que uma bonita harmonia revela a humanização de Deus.

 

 

O modelo online

Quando terminar o tempo da pandemia que assola o mundo, nós teremos de voltar prontamente ao santo costume da fé presencial. Agora estamos vivendo um período histórico de excepcionalidade. As celebrações online, só podem ser realizadas justamente por uma profunda necessidade pastoral. Voltando a normalidade da vida, as celebrações online devem ser suspensas prontamente.

 

A fé cristã, exige a presença pessoal das pessoas, o extraordinário não pode ser a normalidade. A vivência virtual da fé cristã é absolutamente contrária a necessária sobrevivência da comunidade real. Passada a pandemia, nada de virtual, mas presencial. Na Igreja de Jesus, nunca nada substitui a presença física das pessoas. Somente a celebração sacramental da eucaristia, por excepcionalidade, pode ser realizada virtualmente, o Senhor Jesus fundou a Igreja para ser uma expressão concreta e real da experiência histórica de vida presencial. Tenho celebrado online três vezes por semana, estou com saudades da comunidade participando ativamente da celebração eucarística. Passado o tempo sofrido da pandemia, nenhum padre pode continuar com as celebrações virtuais. A exceção não pode ser a regra, tais celebrações online só podem acontecer justamente porque a grave pandemia impede, em nome da vida, que a comunidade se reúna.

 

Não nos acostumemos com a celebração sacramental online e voltando o tempo da normalidade retomemos prontamente ao santo costume da comunidade presencial. Quero também lembrar que somente a eucaristia pode (provisoriamente) ser realizada online, todos os outros sacramentos, não. A comunidade de fé não sobrevive com o modelo online, estamos num processo profundo de purificação. Sem o calor humano, a Igreja esfria.

 

 

Uma gravidez de alto risco

Jesus ressuscitou, é páscoa e o mundo ajoelhou. A industria, o comércio, as grandes empresas, as companhias, o agronegócio, o mercado financeiro, enfim o mundo todo está ajoelhado. Nunca tinha tempo e se a oportunidade chegasse, não podia parar. A economia precisa de movimento senão provocará uma imensa desorganização mundo a fora, também parou. Sim, não diante do ressuscitado e nem diante do Senhor Deus. Parou sim,  sem data para recomeçar foi diante de um vírus invisível.

 

O tempo foi redescoberto, um grande retiro foi imposto e o mundo, outra vez, tem a singular oportunidade de se auto repensar. Temos, apesar da tragédia cruel, uma excelente ocasião para remodelar a sociedade humana e a totalidade de sua estrutura tão insensível diante da vida e da história. Para mim, o isolamento social está sendo muito importante e profundamente difícil. Percebo uma dor coletiva e desejo que, depois de tudo, sejamos melhores.

 

Realmente precisamos de muito pouco para viver muito bem. O atual momento histórico, da pandemia do corona vírus é uma gravidez de grande e alto risco, mas a Trindade Santa fará o parto e nascerá um grande e profundo jeito, absolutamente novo e bonito de ser e estar. Que tenhamos, todos a coragem e a valentia da lúcida participação nesse extraordinário processo. Aqui quero como padre da roça fazer ao coração de cada um, o vigoroso apelo: aos mortos a dignidade da sepultura e aos que restarem, depois de tudo,a coragem da santidade.

 

 

A espiritualidade cristã

A espiritualidade cristã é um ato de grande inteligência, pois coloca a criatura livremente diante do criador, somente a pessoa verdadeiramente livre reza com dignidade. Quanto maior for a consciência da real liberdade, mais intensamente ficamos serenos para dialogar com o absoluto de Deus. A humildade é a única realidade que emociona o Senhor Deus, afinal ser humilde é ter profunda consciência da real condição de nossa humanidade. Temos de nos  aproximar de Deus, sempre nus,ou seja: plenamente abertos e sem nenhuma pré condição.

 

Quero escutar de Deus o que Ele tem para me dizer e jamais o que  eu gostaria de ouvir. A espiritualidade cristã não é uma tarefa de regras diárias, mas uma radical experiência de sentir-se amado pelo Amor. Na medida em que vamos crescendo na nossa relação com a Trindade Santa, vamos nos esvaziando de nós mesmos e daí para frente é a vida divina que conta sempre mais.

 

São Paulo, perito em cristologia afirma que viver é Cristo. Acontece que existe uma realidade muito importante, a qualidade de nossa espiritualidade depende diretamente da qualidade de nossa relação com os irmãos. Ninguém nunca chega sozinho perto de Deus, sempre temos alguma companhia. Rezar é mergulhar na intimidade profunda de Deus, ninguém mergulha na rasoura. Mergulhar significa entrar totalmente, estar dentro. Os nossos pecados precisam nos acompanhar na vivência existencial da oração. Ninquém chega puro diante de Deus, ali ganhamos condições para a pureza. Rezar bem significa enamorar-se de Deus. Sem afetividade é impossível rezar bem.

 

 

A Divina Celebração

A ressurreição de Cristo é a mais absoluta manifestação da solene liturgia que acontece, sempre no interior da Trindade Santa. Realmente é uma plena ação de graças que o Pai e o Espírito Santo oferecem ao Filho. A comunidade de fé, precisa crescer mais e mais na real experiência da divina celebração. Ao ressuscitar o Filho,  Trindade Santa rende a Ele um perene tributo de imensa gratidão. No agir de uma pessoa da Trindade Santa, age a Trindade Santa. A obediência de Cristo foi total e radical, chegou ao ponto máximo de morrer na cruz, abandonado.

 

A comunidade de fé precisa aprofundar mais a sua consciência em relação ao Cristo Senhor. O povo,no geral, está muito mais ligado ao Jesus histórico do que ao Cristo da fé. A experiência da morte ainda é muito forte, pois todos a conhecemos, enquanto a experiência da ressurreição é uma realidade ainda bem distante. Sabemos da morte por experiência histórica e da ressurreição enquanto verdade de fé. O povo ainda não deu esse passo tão grande e vital. sso porque a nossa catequese é muito frágil. O Cristo ressuscitado é a expressão mais plena da ação de graças feita solenemente para validar, em absoluto, a definitiva vitória da vida. Viver é Cristo, Ele é a vida. Vivamo-la.

 

Madalena, João e Pedro

Naquele primeiro dia da semana, muitos e bonitos fatos aconteceram. Três pessoas foram ao túmulo de Jesus. Madalena, símbolo dos leigos. Chegou primeiro e viu a pedra mexida, vai falar com os responsáveis, precisam e dependem deles. São João, o colégio episcopal chegou e olhou, mas não entrou. Era jovem e andou mais rápido. São Pedro, o papa, chegou viu e entrou. Aqui está uma bonita manifestação da Igreja. O gesto de Madalena nos mostra que deve haver uma profunda configuração entre leigos e hierarquia. A atitude de São João, manifesta que o colégio episcopal tem de esperar por Pedro e em absoluta comunhão ser e estar. A atitude de São Pedro (bispo de Roma), o primeiro entre os iguais é justamente confirmar a verdade. Todos em plena comunhão.

 

Em cada diocese, o bispo é o pastor próprio, é o primeiro responsável pela unidade. Os leigos (bem formados na doutrina da fé) são testemunhas vitais dentro da sociedade humana. Os leigos precisam estar mais envolvidos com as realidades da vida social. A igreja, acontece inteiramente em cada jurisdição eclesiástica. O povo, os bispos e o papa, saem do túmulo vazio e vão testemunhar, nunca mais podem parar, nós vimos e partindo da real experiência com o ressuscitado passam a viver nos caminhos e nas encruzilhadas da história chamando a todos para a grande celebração matrimonial, festa permanente e plena da nova vida em Cristo.

 

 

A ressurreição do Senhor

A ressurreição do Senhor é o farol iluminador da vida e da história. Ali começou o período histórico da consumação. Realmente em Cristo Senhor a Trindade Santa recriou tudo em absoluto. A lei e os profetas cessaram, agora Cristo é a lei escrita no coração humano. A própria Igreja antes de ser uma instituição é sim uma comunidade de fé. Cristo nos libertou para a liberdade. A Igreja, nasceu para ser uma expressão concreta da misericórdia e sua sublime tarefa é justamente estar de joelhos para servir. A profunda simplicidade de vida deve ser  o real e verdadeiro sinal de absoluta fidelidade. A morte não ressuscitou, de fato morreu na cruz com Cristo. Naquele primeiro dia da semana, tudo aconteceu, portanto outra vez e agora em definitivo tudo foi restaurado sob o poder de Cristo.

 

O ressuscitado é o pleno modelo de toda a criação. O mistério da iniquidade fracassou na sua vontade de ser um instrumento da vida. Não existe mau que seja bom. Agora tudo tende, naturalmente para o Cristo Senhor. No interior da Trindade Santa, o ressuscitado é o liturgo e com o testemunho das duas outras pessoas divinas, celebra o rito absoluto do mandamento novo. Ao dar o mandamento novo como regra absoluta, Ele deixou para nós, o mesmo regime existente no íntimo da Trindade Santa. Portanto, a nossa regra é a mesma existente em Deus. A Trindade Santa quer que entre nós humanos o relacionamento seja conforme o mesmo que acontece entre as pessoas da Divindade. No coração de Deus, acabou a distância entre a eternidade e a história. Aqui também sobressai a beleza da eucaristia, a história se alimenta do eterno.

 

 

Desceu à mansão dos mortos…

Entrando na mansão dos mortos, Cristo vai ao último reduto da morte e o destrói por dentro. O reinado da morte morreu e ressuscitando, Ele o Senhor, restaura em definitivo a obra inteira da criação. Tudo começa novamente, agora com a marca absoluta da Trindade Santa, tudo pertence a Cristo. O apóstolo São Paulo (o maior perito em cristologia) já afirmara a posse de Cristo em relação ao todo da criação. Também o pecado não tem mais poder e o mistério da iniquidade foi aprisionado pela força vigorosa da ação de Cristo. Estamos (desde o pentecoste) no reinado pleno da Graça, assim o mundo todo está grávido de Deus. A liberdade em Cristo foi convencida a se colocar ao dispor do serviço litúrgico da fraternidade.

 

Em Cristo, tudo é plenamente liturgia a assim ecoa história a fora, também por parte do cosmo, um grande hino de louvor ao Eterno Senhor. O poente avermelhado de cada dia, lembra no silêncio da maturidade litúrgica da natureza o sacrifício de Cristo. Todo o universo canta um hino de louvor ao Deus vivo e verdadeiro  e proclama a beleza da nova e definitiva criação. A Graça é a vida da vida e seu lugar preferido é o coração humano. O homem é o paraíso da Trindade Santa e nele (no homem) Deus estabeleceu o lugar privilegiado do encontro. Sábado Santo,no silêncio do sepulcro a plena e definitiva grandeza da autêntica vida nova fruto bonito da  liturgia de Cristo. A história da morte, acabou em Cristo e para sempre o cosmo todo canta alegre que: Jesus Cristo é o Senhor para a glória de Deus Pai.

 

 

Cristo quis a Igreja

Madrugada de sexta feira da paixão, um grande silêncio manifesta a grande celebração sacramental da redenção. Jesus, o Cristo de Deus, espera pela nossa companhia, é noite e sozinho se prepara para ser imolado, outra vez, no altar da história. Sua paixão continua na paixão do mundo, em cada pessoa que sofre ele está sendo oferecido em sacrifício e assim o sofrimento humano quando associado ao de Cristo adquire por graça especial um valor redentor.

 

A cruz saiu do calvário e foi percorrer o mundo e a história revelando com ousadia divina que a Trindade Santa já decretou, em definitivo, a derrota da morte e do pecado. Assim foi estabelecido o tempo da Graça. Na cruz a derrota plena e a vitória absoluta. Cristo sem cruz é ideologia e a cruz sem Cristo é loucura. Na memória de hoje a consciência vigorosa da ação redentora que continua, aqui e agora, restaurando a criação inteira. A redenção é realidade inteiramente presente no hoje de cada celebração eucarística.

 

Os padres devem ser homens eucarísticos, justamente porque pela força da Graça sacramental estão vigorosamente unidos ao Cristo Sacerdote no altar da cruz. Em Cristo, ontem hoje e sempre, a redenção está acontecendo. Na eucaristia não celebramos um fato histórico, mas uma realidade atual. A paixão, a cruz e a ressurreição são situações diferentes e inseparáveis. A paixão de Cristo é realidade inteiramente presente na vida da Igreja. A Igreja não existe sem o tríduo pascal, pois ela é na história sua continuação .Onde está Cristo, está a Igreja e onde está a Igreja, está Cristo. Portanto afirmo solenemente que: Cristo quis e desejou a Igreja.

 

 

Matéria e formula

Todo sacramento tem duas realidades extraordinárias, matéria e formula. A matéria é o gesto externo feito para realizar o conteúdo do respectivo sacramento. A formula é a expressão oral da matéria. São realidades distintas e inseparáveis. A graça é o conteúdo de todo sacramento e se manifesta tanto na matéria quanto na fórmula. A realidade sacramental só acontece quando realizamos as duas situações, a matéria e a fórmula. A matéria é a parte simbólica do rito e a fórmula é a parte que relata a ação da graça sacramental específica. Assim, a Trindade Santa opera com metodologia para nos educar na vivência da fé .Deus é por excelência o educador do seu povo.

 

O matrimônio é o único sacramento que tem dois ministros (o noivo e a noiva), os demais apenas um ministro, aquele que preside. Aquele que recebe a graça sacramental é por força da mesma configurado ao  Cristo. Todo sacramento nos cristifica, portanto somos chamados ao interior da Trindade Santa.

 

O concílio de Trento trabalhou com grande eficiência a questão sacramental.Na celebração sacramental,a presença do mistério é de grande valor e necessidade, fazer com dignidade. O ministro celebrante não é dono da liturgia e sim servidor, operando pelo e no ministério da Igreja. Ali toda a comunidade de fé está presente na pessoa do ministro. O ministro age em nome de Deus e da comunidade de fé, nunca sozinho como se fosse um mágico. Exemplo: numa concelebração eucarística, acontece uma única missa e não tantas conforme o número de padres concelebrantes, é uma realidade eclesial. O sacrifício de Cristo é único, pleno e definitivo. Assim sendo, temos de aprender sempre mais a conviver com as belezas do mistério sacramental.

 

O bom padre, prepara para a celebração de todo sacramento, daí a especial necessidade de uma boa organização paroquial. A questão é também de capricho litúrgico, fazer bem feito.Os paramentos ajudam na consciência do mistério e o atendimento não  é na sala de um consultório clínico, mas no ambiente eclesial. Ali, naquela celebração sacramental específica a Igreja toda participa na pessoa do ministro. O padre age na pessoa de Cristo e na pessoa da comunidade de fé, simultaneamente. Ao celebrar um sacramento, o ministro tem de tomar consciência  de que é pontífice e nele se realiza o encontro do divino com o humano, portanto o ministro deve viver ao máximo possível numa experiência mística. Deve ser, na dinâmica da fé o humano para o divino e o divino para o humano.

 

 

O Bispo e o padre

A graça sacramental da ordenação presbiteral, realiza uma plena mudança ontológica no ser pessoal do neo sacerdote. Em definitivo fica marcado. Tal realidade une o padre ao bispo de modo profundo. A ação total do padre vive sempre em absoluta dependência do bispo. O sacerdote nunca pode agir em oposição ao bispo, as diferenças são saudáveis e fazem parte da normalidade histórica. A ação do padre é uma extensão do serviço episcopal. Nunca nada sem o bispo.

 

Em cada diocese o presbitério forma um grande corpo do qual o bispo é a cabeça e o preside na caridade. Na Igreja de Jesus, o Cristo de Deus, a colegialidade é questão de fidelidade ao Mestre. Quando assume uma paróquia, é o presbitério que a assume na realidade existencial daquele padre específico. O vínculo sacramental do padre com o bispo é indissolúvel e sua fidelidade é uma excelente expressão de autenticidade ao Mestre de Nazaré. A obediência é um grande processo de fé e deve significar um serviço a comunidade Igreja. O colégio episcopal é presidido pelo bispo de Roma,o primeiro entre os iguais. A doentia mentalidade de carreirismo é uma imensa manifestação de ateísmo religioso e prático. Devemos querer o que o bispo quer, pois ele possui a graça de estado para o bom desempenho da missão episcopal.

 

Na Igreja de Jesus,todas as decisões devem ser tomadas depois de um longo período de oração diante do sacrário. O que conta é o bem da Igreja. Toda precipitação é perigosa e devemos evita-la sempre. Na precipitação decidimos olhando o interesse imediato, acontece que assim agindo nós queimamos etapas importantes e necessárias. Na vida, tudo deve ser decidido com um claro olhar no futuro. O futuro é experiente, justamente porque é o tempo sem paixão e a paixão é péssima companhia. Precisa parecer bem ao Espírito Santo e a nós, nunca o contrário. Em cada diocese a Igreja acontece no seu todo e o presbitério deve ser a mais vigorosa e profunda preocupação do bispo. Os dois mais santos investimentos que um bispo consegue fazer são:a formação presbiteral e a catequese, o restante pode ficar para depois. Se conhece um padre é justamente pela sua relação com o bispo.Aqui está o segredo da consciência sacerdotal.

 

 

As amizades especiais de Jesus

Jesus tinha amizades especiais e apreciava tais encontros. Mesmo em relação ao colégio apostólico, manifestava algumas preferências. Judas, o traidor, era o tesoureiro do grupo. Tal cargo só é confiado a pessoas de extrema confiança. Na última ceia, poucas horas antes da cruz, Jesus se colocou diante dele e lavou-lhe os pés, foi o grande diálogo entre a Graça e a liberdade. Judas, continuou firme no seu mal propósito. Ali diante de judas, Jesus experimenta a profunda derrota: um amigo especial vai traí-LO.

 

Na vida é assim, a gente machuca é com a faca da cozinha. Pedro, outro íntimo o nega. Jesus o acolhe arrependido e o confirma na missão.  Vejam bem:na noite da ordenação dos 12 primeiros bispos, dois traem, já ordenados. Aqui outra vez a Graça e a liberdade, Pedro volta e Judas se afasta. Assim é a história da Igreja. A Graça deve ter sempre regalia em relação a liberdade. Todos nós fomos chamados e precisamos buscar sempre uma profunda configuração com o Senhor. Aqui está o segredo da fidelidade: não se afastar nunca da intimidade do Mestre, sobretudo na vivência sacramental.

 

A perseverança é uma excelente Graça e eu tenho medo da Graça que passa. Somos dependentes de Deus e a nossa liberdade deve ser educada para nunca resistir ao generoso apelo da Graça. A liberdade do padre só tem sentido na obediência, senão é carreirismo mórbido. Muitos caem justamente porque querem reduzir Deus a um anjo da guarda (está por perto), Ele deseja e quer é estar dentro de nós. Assim somos chamados ao interior da Trindade Santa e aí seremos formados na experiência existencial da dinâmica familiar com o sagrado. Abandonemo-nos em Deus e a nossa vida será Graça sobre Graça. Que bonito.

 

 

Lázaro, chamado à vida e à liberdade

Os gestos e as atitudes de Jesus são caminhos de uma bonita espiritualidade. Exemplo: na passagem de Lázaro, já sepultado, o mais fascinante foi o que Jesus disse aos presentes quando Lázaro já estava de fora da sepultura. Desamarem-NO. Imagem real e profunda da espiritualidade cristã. Não basta que a pessoa esteja viva, é preciso que a comunidade de fé assuma a permanente tarefa de garantir a liberdade. Lázaro enfaixado é o demonstrativo do pecado, está vivo mas não pode agir. Toda comunidade de fé é chamada ao serviço da liberdade, ninguém pode estar amarrado. Não basta estar vivo, é preciso ter liberdade e aí a Igreja é expressão de autenticidade e fidelidade. Quando um só membro está enfaixado,Ia igreja é chamada para livrá-lo das amarras. O pecado nos escraviza e não permite que andemos na direção do Cristo. Para chamar Lázaro para fora da sepultura, o Senhor agiu sozinho (só Deus dá a vida), para fazê-lo livre pede a comunidade de fé que trabalhe. Assim a espiritualidade cristã, a Trindade Santa faz a obra da vida (Graça sacramental) e a Igreja a distribui (desamarra).

 

O evangelho é por excelência o fundamento da nossa espiritualidade. A reflexão tem de ser realmente criativa e partindo daí promove uma agradável paz interior. Lázaro é a humanidade toda esperando o chamado e na liberdade vai realizar a obra da caridade, expressão maior da espiritualidade. Toda vivência da fé cristã, visa a liberdade e sem tal consciência a dignidade humana fica ofuscada. A história do pecado é uma realidade triste e não oferece nada em reparação, Cristo não dialoga com o pecado e nem com a morte. Chega ao túmulo (monumento da morte) e ordena: Lázaro vem para fora. A Graça não depende da autorização de ninguém para agir. Não tenhamos medo da Graça, pois ela realiza sempre a nosso favor. Dois pontos centrais na vivência da espiritualidade cristã: a Graça e a comunidade de fé.

 

Razão – Coração

Uma viagem muito necessária e importante é justamente ir da razão ao coração e vice versa. A razão gosta da especulação e é sedenta de novas realidades. Tudo procura explicar, sempre à luz de alguma outra novidade. Curiosa por excelência, vaga em todas as diferentes direções. A razão é andeja e pouco pára em casa. áa o coração é bem mais emoção, não refletindo tem grande sensibilidade. Quando a razão chega ao coração ela é humanizada e adquire a positiva capacidade de dialogar. Só cede ao argumento da verdade existencial e se emociona com a beleza da realidade histórica. Quando o coração chega a razão, alcança maturidade e cria juízo.

 

As duas realidades são vitais na vivência da espiritualidade cristã. Do contrário a fé é reduzida ao inconsequente fanatismo e em seguida a verdade existencial em fundamentalismo. Existe uma excelente característica que é justamente a visita constante da razão ao coração e do coração a razão. Eis o equilíbrio tão necessário. Esse é na vivência da espiritualidade cristã o espaço mais importante e frequentado pela Graça. O equilíbrio reside nessa busca constante. Sem emoção, a vida fica reduzida ao inconsequente vazio, pois a Graça gosta muito da emoção para gerar o fundamental prazer em viver. A serena emoção precisa da ação divina para se manter livre e saudável.

 

A vida humana depende da Graça para se auto realizar. A Graça é o infinito amor de Deus. Ao sentirmos amados pelo Amor, nos equilibramos na dinâmica existencial da vocação e daí para frente é uma questão de responsabilidade pessoal. O coração depende da razão e essa precisa do coração. Assim opera em nós a convicção da Graça.

 

 

O Jardim e o Jardineiro 

Um grande desafio no processo da conversão é justamente não romper com a história. Vejamos bem: num jardim o homem, orgulhosamente, rompeu com Deus. Na madrugada daquele primeiro dia da semana, uma mulher recebe a extraordinária manifestação do Senhor. A ressurreição. Ao se apresentar Ressuscitado num jardim o Senhor reata a história de modo que não existe mais o espaço entre o jardim do pecado e o jardim da ressurreição. Ao se apresentar como jardineiro, Ele revela que o jardim será cuidado por Ele mesmo, portanto não haverá mais lugar para a serpente. O pecado morreu e não ressuscitou. Ali o pecado é vencido pela Graça.

 

A Madalena que foi de madrugada ao túmulo (é o pecado), a Madalena que volta é a Graça. Assim convertida anuncia que mexeram no local do sepultamento e o jardineiro (agora identificado) é o novo Adão agora Senhor. Sem o tratamento do  passado vai existir um grande espaço de morte. Toda pessoa precisa se perdoar também, senão haverá um conflito entre o homem novo e o homem velho.

 

Meu caro leitor, não te leve muito a sério e nem exija muito de você. Somos apenas humanos. Sabemos que do humano se espera tudo, inclusive o nada. Quem não assumir a sua humanidade real jamais fará a experiência da verdadeira felicidade. Cristo, anulou o espaço que existia entre o Éden e a ressurreição. Resgatou o passado e o santificou. Ninguém tem poder sobre o passado, ninguém muda o passado e ninguém pode não perdoa-lo. A Trindade Santa não tem arquivo, Madalena era a única pessoa que por primeiro podia experimentar a ressurreição: quem viveu com o pecado, agora anuncia a Graça. Deus gosta de falar pelos contrários. Reatemos com a história e faremos por Graça, pura e plena,a fantástica experiência  do absoluto amor de Deus. Num jardim o pecado,num outro jardim a redenção. Assim é Deus.

 

 

 

O serviço da autoridade

Quando você quiser conhecer profunda e verdadeiramente uma pessoa, a técnica é por demais simples. Basta dar a ela o poder. No exercício do poder as pessoas se revelam com grande eficiência. Partindo dessa observação podemos entender e até mesmo concluir muitas coisas. Poucas pessoas passam pelo poder mantendo sempre a mesma dignidade. Somente as pessoas que compreendem o poder, seja ele qual for, como especial celebração de serviço vai continuar digna depois de tê-lo exercido. Arrogância e prepotência são características claras do uso deturpado do mesmo.

 

A luz da fé cristã,o poder é serviço ao bem comum e mais especialmente ao irmão pobre. Nada de honra ou de glória,mas de simplicidade e verdadeira alegria. Na vida temos de saber a hora de chegar e a hora de sair. O poder passa por nós e nós continuamos depois dele. Nunca diga o que você já foi e nunca atrapalhe o sucessor. Depois de ter exercido algum poder (serviço) seja o mais discreto possível. Deixe que a história contará e não você.

 

A fama, o sucesso ou outra coisa análoga com grande facilidade nos ilude. Ocupe sempre com a maior dignidade possível todos os serviços que a providência divina colocar no seu caminho, nunca se apegue a nada, tudo é muito passageiro. O nosso fundador dizia: somos servos inúteis. O sucessor é sempre muito melhor. De outro lado, nunca ocupe o mesmo cargo duas vezes. Isso faz muito mal as instituições que precisam sempre de permanente renovação.

 

 

O Silêncio

Um dos principais fundamentos da espiritualidade cristã é o silêncio. A santidade de vida requer um bom tempo de recolhimento. Não existe espiritualidade sem a real experiência do silêncio. Dentro de um mundo barulhento, somos chamados a uma profunda dispersão. Todos em qualquer lugar e tarefa precisam da reflexão. Para os padres, de um jeito muito especial é condição fundamental para a fidelidade. A pessoa vulgar é sempre muito barulhenta. Normalmente são vazias e não centradas.

 

Toda pessoa precisa ter um tempo específico para o crescimento interior. Sem a experiência do silêncio acontece uma vulgarização, muito especialmente no relacionamento humano. Com o silêncio temos de fato e verdadeiramente a chance lúcida do amadurecimento. Ouvir o som da natureza, do vento, do ar e sobretudo a sensibilidade diante dos desafios da história. Quando o contrário prevalece, manifesta-se o que significa não ter conhecido a grandeza educadora da dureza imposta pelo tempo.

 

Diante do homem de fé, até Deus silencia. Tal realidade é absolutamente verdadeira e nos coloca dentro do mistério divino. O barulho não faz bem e o bem não faz barulho. Toda pessoa comprometida com o reinado de Deus tem de fazer ao menos 30 minutos de silêncio, por dia, do contrário a dispersão vai prevalecer. O demônio não tolera o silêncio e sempre provoca muito barulho. Isso gera tristeza e grande distração.

 

Fazer silêncio é Graça e não faremos nunca a bonita experiência da paz interior sem correspondente silêncio. O fruto mais imediato do silêncio é a alegria interior e logo em sequência a paz no coração.ãNao existe Fidelidade sem a consciência do silêncio como situação e estado de vida. O silêncio nos educa para os grandes embates da vivência. Fugir do silêncio é se por em oposição ao fundamento sólido da maturidade cristã. O silêncio é uma excelente ferramenta que o Eterno Senhor usa para nos revelar sua presença e portanto, seu amor.

 

 

Ao redor da mesa

Tomar as refeições em todas as culturas é uma excelente característica do bem maior. A celebração da vida e da história. Assentados no chão ou ao redor de uma mesa, todos partilham até mesmo a fome. A eucaristia é ceia, é refeição. Em nenhuma cultura ceiam ajoelhados. Diante dos alimentos uma alegria se apresenta. A mesa é o lugar da festa e do perdão. Já no Egito a ceia indicava a iminente libertação. A liberdade é resultado querido pela eucaristia.

 

Receber a comunhão eucarística de joelhos é de uma pobreza profunda. Contradiz todas as diferentes culturas e empobrece a beleza da celebração. Como pastores temos de educar a própria comunidade de fé, assim superando deficiências possíveis. Não é justo em nome da liberdade pessoal deixar que o equívoco permaneça. Eucaristia não é lugar e nem momento de penitência corporal. Eucaristia é alimento do peregrino, é a presença do Senhor vivo e real. Eduquemos nossas comunidades e assim celebraremos com santidade o que é santo. A ignorância não é virtude e sim carência de serena formação. Eucaristia não é objeto de devoção e sim ápice e cume da realidade celebrada. Reduzi-La a um sacramental é sacrilégio. Não pode haver celebração sacramental sem a consciência do mistério.

 

A mesa da Eucaristia e a mesa da Palavra

A mesa da palavra é distinta e inseparável da mesa eucarística. Uma alimenta da outra. Não pode haver celebração da palavra sem a distribuição da eucaristia. Se tal fato acontecer, então é culto protestante. A Igreja comunidade de fé, tem o direito na celebração sacramental, precisa e depende dela. O mesmo valor que dispensamos a eucaristia, temos igualmente de dispensar a palavra.

 

Toda comunidade de fé, Igreja povo possui o santo direito de ter a presença do ministro ordenado. O texto do evangelho tem precedência sobre os demais escritos bíblicos. Ninguém pode retirar ou suprir os textos sagrados de nenhuma celebração. A palavra de Deus é a presença de Deus no rito específico de cada função litúrgica. Somos chamados ao zelo pela liturgia e não reduzi-la a um espetáculo vazio.

 

Palavra de Deus e Eucaristia, patrimônios que o Sumo Sacerdote confiou a Igreja. A celebração não é propriedade do celebrante, dela ele é servidor. Zelemos do conteúdo que nos foi confiado com capricho e carinho. Formemos,em nossos seminários pastores dedicados ao serviço do Reino.

 

 

 

Deus pobre

Deus é o mais pobre de todos os pobres. Tão pobre que não tem nem nome. A pobreza é uma excelente característica da Trindade Santa. Ao apresentar-Se a Moisés, usando a primeira pessoa do verbo ser no presente do indicativo, demonstra a presença como sendo o seu nome. O amor é presença.

 

Na liturgia da Trindade Santa, a pobreza é a expressão mais plena do serviço. Em Deus uma pessoa está plenamente em função da outra. O Pai se entrega ao Filho e Este ao Pai. A relação entre o ser Pai e o ser Filho é o Espírito Santo. O amor é o conteúdo máximo das relações no interior da Trindade Santa. Agora podemos afirmar que: Deus é amor. Assim sendo, temos aqui o sentido absoluto da pobreza divina, ser e estar inteiramente para o outro. A pobreza significa que somos para os outros. A pobreza humana significa uma abertura total para o outro. Eis aqui a fonte máxima da liberdade. No mistério da Trindade Santa, as pessoas são pobres justamente porque estão completamente abertas num trabalho de liturgia constante: uma é para a outra.Pobreza é abertura generosa e riqueza é o fechamento egoísta.

 

 

Paulo

A maior obra do Apóstolo Paulo, não foram suas viagens, seu empenho missionário e nem suas cartas. Foi sua decisão central: aceitou ser trabalhado pela Graça. Tudo o mais é consequência da coragem de sua generosa abertura. No deserto do Arabá refez de modo profundo sua convicção de fé. Como missionário foi ousado e viveu intensamente a experiência radical da fé. Percebeu que em Cristo, a lei e os profetas cessaram. A partir daí Cristo é tudo em todos. Sua evolução no caminho existencial da dinâmica histórica o fez um homem universal, superou o reducionismo judaico pela catolicidade da revelação cristã. Profundamente disponível aceitou ser humilde e viveu convencido da bonita verdade: basta a Graça. A mesma realidade também é suficiente para nós.

 

 

A arrogância do pecado

O pecado é uma expressão da arrogância humana. Sua opção é pela escravidão. Por ele, a morte continua entrando na vida e na história. O pecado oferece tudo, mas não entrega nada. Ele nos remete ao passado e rouba a esperança. Busquemos a conversão.

 

A natureza humana não aceita nenhuma agressão e para piorar ainda mais, aparece graças ao mistério da iniquidade, o sentimento de culpa. Tal realidade impede o arrependimento, justamente porque visa reduzir somente ao plano emocional o que realmente fere a totalidade da dignidade humana. Nenhum pecado é bom. O pecado parece muito com os fogos de artifícios: depois da explosão não sobra nada.

 

A experiência mística ensina que a luta contra o mal, precisa ser uma resposta ao apelo divino.  A iniciativa humana, sem a consciência da Graça fracassa justamente aí acontece o sentimento de revolta, ou seja: o desânimo. De nossa parte a humildade, este é o caminho. O argumento principal do mistério da iniquidade é a mentira e sua proposta é uma absoluta fantasia. Tal mistério é tão danoso que desperta na pessoa um falso arrependimento e está realidade coloca o fracasso diante de tudo e assim nos abate. Sem o humilde e sincero esforço pessoal, a Graça não trabalha. Ela não precisa do mal. Abramo-nos e a Trindade Santa fará o restante.

 

 

Liberdade – Obediência

A mais vigorosa expressão de liberdade está na obediência. Somente o livre obedece. A obediência produz fidelidade. Obedecer, não significa uma inconsequência e sim um ato de fé. A liberdade quando verdadeira expressa uma extraordinária manifestação que nos configura ao Cristo Servo. A liberdade humana depende da obediência, tal experiência é expressão de grande paz interior.

 

A Graça trabalha usando a dinâmica da presença amorosa para realizar, historicamente a  grandeza da abertura interior, necessidade vital para celebrar o rito litúrgico da liberdade interior: o sim diante do mistério divino. Liberdade e obediência são expressões da maturidade humana.

 

 

A iniquidade

 

Liturgia e rito

A celebração de cada sacramento é, sempre um todo. No rito específico de cada um deles, tudo é importante. A ritualidade favorece a boa participação dos fiéis. O rito é sequencial e lógico. Sempre meio e nunca um fim em si mesmo.

 

A celebração sacramental, nos põe diante e depois dentro do mistério. O ápice da celebração é a forma sacramental, uma vez que esta explícita a matéria do celebrado. O zelo do ministro é uma excelente expressão da fidelidade (do ministro) ao Senhor. A criatividade, não pode ser uma vulgarização do rito específico de cada celebração. Todo sacramento expressa uma extraordinária manifestação do Senhor a favor do seu povo. O mistério é parte integrante do rito. Não é uma realidade, somente humana e histórica, mas presença do Eterno operando na realidade dinâmica da vida real. Toda celebração sacramental é uma realidade do mistério. Liturgia sem transcendência é magia.

 

 

A misericórdia divina

Toda ação divina é uma excelente expressão da misericórdia. Tal realidade é o meio mais eficiente e humano que a Trindade Santa usa para atrair cada uma das pessoas. Deus, nunca age no atacado. Sua ação é personificada. Na plenitude dos tempos, o Senhor fez duas vitais revelações: a paternidade divina e o mandamento novo.

 

A vivência do amor é a indicação do próprio íntimo da Trindade Santa. Somos chamados ao interior de Deus e daí marcar uma presença bonita dentro da sociedade humana. A obra da Graça, nos conduz a fidelidade. Não existe Fidelidade sem a serena experiência de Deus.

 

A liberdade…

A liberdade é o maior desafio da vida humana. Precisa, ser realmente educada para a serena vivência. Ao longo do Êxodo, a Trindade foi, a modo de mãe, formando o povo de Israel. Não basta dá-la é necessário que a pessoa seja preparada para tê-la. Entre o Egito da escravidão e a terra prometida tem o deserto. Ali, a Trindade Santa educa o povo. O deserto da história, é o lugar, privilegiado para o amadurecimento da consciência humana.

 

A liberdade existe em função do outro, pois é na relação da vida social que ela se faz valiosa. A natureza humana, não gosta de pressões e a elas responde com dureza. O carinho é o meio mais eficiente de formação. Formar uma pessoa, significa educar a sua liberdade. Obra fundamental e permanente. A pessoa que foi formada para a liberdade,vive com dignidade a arte da existência humana. A liberdade, requer limites que só na dinâmica do carinho encontram sentido, razão e significado. O fruto do limite é, justamente,a segurança para a vivência digna.

 

 

Santa Maria da Paz

No primeiro dia do ano civil, a Igreja nos põe diante da Virgem Maria. A mulher da paz, justamente porque mulher cheia de Deus. Fazia parte do resto de Israel e como tal vivia a esperança da esperança: Deus é fiel. Hoje, podemos falar num resto de Igreja. Pessoas que vivem na mais absoluta busca do Eterno. Fieis e livres na experiência da Graça como certeza do reinado da presença amorosa do Cristo de Deus.

 

A Virgem Maria, a mulher toda cheia de Graça é a serva mais livre. Tal realidade é fruto da paz que nos chama a fraternidade universal. Uma, muito especial, ação divina é o trabalho hodierno dedicado a construção da paz. Sem os valores do evangelho, a paz será reduzida ao estéril vazio. A fraternidade universal, deve ser expressão da liberdade a serviço da humanidade, ou seja, ter e viver em paz é um direito divino.

 

Graça e pecado

Nossa fidelidade, depende também da positiva vigilância. Assim como a prática da virtude é um processo, também o contrário é verdadeiro. A opção pecaminosa é da liberdade mau educada. Sabemos que o pecado estraga a personalidade humana. A pessoa perde a capacidade de assumir a devida responsabilidade. A culpa é sempre do outro (Adão acusa Eva e esta culpa a serpente).

 

A Graça, restaura a dignidade perdida. Tudo aquilo que não é assumido não tem como ser redimido. A conversão exige, de nossa parte, a humanização. Isto posto, podemos afirmar que: não existe pecado de improviso. A vigilância é fundamental na edificação da santidade. A santidade não é uma posse e sim uma busca permanente. O pecado nos ilude e a Graça nos leva a uma profunda consciência. Não existe mal bom.

 

Graça e Liberdade

Imediatamente depois do pecado, começou um diálogo entre a Graça e a Liberdade. Foi iniciativa divina para educar a liberdade. Sem a constante ação da Graça, a liberdade se transforma numa perigosa realidade. Sem a presença do Eterno, a liberdade vira escravidão.

 

Com a experiência dos anjos rebeldes, Deus tomou a iniciativa de tudo restaurar e foi o que aconteceu na plenitude dos tempos. A Graça é o infinito amor de Deus devotado ao amado. Queremos afirmar que: a Graça é a vida da vida. Assim, “o homem morre não é quando deixa de viver e sim quando deixa de amar.” Uma vez educada, a liberdade passa a ser, instrumento do serviço, especialmente fraterno.

 

O diálogo entre a Graça e a liberdade é a perene liturgia no seio da Trindade. Tal celebração nos ensina que: “foi para a liberdade que o Senhor Deus nos libertou.” (Gl 5,1)

 

 

A Nova Criação

O homem é a síntese da criação. Nele, existe a presença de todos os elementos da natureza. Realmente, o homem é um pequeno mundo. Ao se fazer homem, pela encarnação do Verbo eterno, o Senhor Deus, assume e realiza a plena restauração do cosmos.

 

A redenção realizada em Cristo não é uma exclusividade dos humanos e sim uma recriação total. Em Cristo, tudo foi restaurado plena e definitivamente. Também, a natureza sofreu os estragos oriundos do pecado. Assim, o Salvador estabeleceu o seu reinado. Realmente, o coração humano é o paraíso de Deus. Ao restaurado, o homem alcançou a sua dignidade plena e para dar-lhe consciência honesta, o Cristo de Deus estabelece nele a sua tenda.

 

“Vem, Senhor Jesus”

 

A cena do presépio é a mais vigorosa descrição da Páscoa. Deus se põe ao nosso alcance e se revela, absolutamente humano. Vencendo, a morte e o pecado Ele estabelece o reinado da Graça. O menino Deus está no centro da cena, coloca um ponto final no velho e manifesta o pleno novo.

 

Jesus, o Cristo de Deus, nos chama a santidade, justamente porque é plenamente homem. Veio e estabeleceu sua tenda entre nós. Não é o homem que vai é Deus que vem. Só na dinâmica da realidade histórica é possível construir uma saudável santidade. O tempo físico é o laboratório divino para realizar a obra da caridade plena, ou seja: a tarefa redentora. Assim, Deus nos dá a maís profunda e verdadeira definição de amor. Amor é presença, liturgia da salvação.

 

 

Deus ao nosso alcance

A celebração eucarística é o grande momento da vida, especialmente litúrgica, da Igreja. Ali, o ministro alcança o clímax do serviço sacerdotal. Para o padre é impossível algo maior. A presença viva e real do Senhor,realiza, atualizado, o mistério pascoal em sua totalidade. Portanto, podemos concluir que: a eucaristia tem valor redentor.

 

Atualizar, não significa repetir e sim fazer agora. Novíssimo pleno da Igreja. A eucaristia é a vida dos demais sacramentos, sem Ela ou fora d’Ela, o rito vira magia. Que o natal, nos eduque, mais ainda, na dinâmica da presença de Deus. Jesus, o Cristo é Deus ao nosso alcance.

 

 

A manjedoura de Belém

 

A manjedoura é por excelência, uma mesa eucarística. Ali, na plenitude dos tempos, o Senhor Deus colocou o alimento do peregrino: pão vivo e verdadeiro. A eucaristia foi instituída não para o sacrário e sim para ser, verdadeira comida,de todos aqueles que caminham construindo um mundo melhor.

 

Depois da missa, a missão que vai nos remeter, outra vez ao altar. Na manjedoura, a eucaristia significa de fato a dinâmica presença do Senhor que deseja chegar aos confins do mundo. O coração humano é o limite do mundo. Temos de digerir a comunhão recebida e então Ela produzirá em nós frutos para a vida eterna.

 

A presença ativa do cristão, dentro e no meio do mundo é fermento. A eucaristia é levedo dentro da história. Digerido, por nós, o Senhor estará, atuando eficientemente na realidade da vida e da história. O pão vivo e verdadeiro,da manjedoura aos confins, através das pessoas. O amor é presença.

 

O dom da vocação sacerdotal

 

O sacramento da ordem, em todos os seus graus é um especial dom de Deus. O padre é ordenado por causa de uma eleição divina e em função de duas grandes realidades: celebrar a eucaristia e a cooperação com a ordem episcopal.

 

Ser padre é Dom e não direito. Na vivência sacerdotal, não existe espaço para o carreirismo. Este é um grande mal que corrói a Igreja por dentro. A melhor maneira de responder ao grande presente é a busca, permanente, da santidade. Ser um padre santo por gratidão ao Eterno Senhor.

 

A busca da santidade supõe uma vigorosa devoção a Virgem Maria, fator de equilíbrio, sobretudo emocional. Zelar pelo dom recebido é sinal de fidelidade. O zelo pastoral do sacerdote,pode com eficiência ser medido pelo surgimento de ministérios. A pastoral que não desperta ministérios é vazia e sem frutos. O dom sacerdotal, para nós padres é expressão do afeto divino.

 

 

Sentir com a Igreja

 

Uma das expressões, de fidelidade, mais profundas é justamente o sentir com a Igreja. Aquele que é chamado ao sacerdócio, precisa tomar sempre mais, consciência tudo aquilo que a Graça sacramental realizou em seu ser. O caráter impresso pelo sacramento da ordem, realiza uma radical transformação no ser da pessoa ordenada.

 

O ser do padre, pela Graça da ordenação, passou a ter uma profunda configuração ao Único e Eterno sacerdote. O grau, do sentir com a Igreja, revela o nível da consciência que o padre possuí do dom sacramental. Deus, não faz nada mais ou menos e sim de modo completo. Podemos, então afirmar que: a historicidade do sentir com a Igreja é expressão de fidelidade ao chamado divino.

 

Imaculada Virgem Maria

 

Na vida de cada pessoa, a Graça realiza dois movimentos: esvaziamento e abastecimento. Num primeiro momento,a Graça nos leva ao nada da experiência humana. Sabemos, que o nada é a matéria prima preferida por Deus. Chegando, ao limite extremo da consciência humana, Ele, o Senhor começa, livremente, o segundo movimento, o abastecimento. Então,o Senhor,passa a realizar maravilhas.

 

A pedagogia divina, por Excelência, trabalha com a liberdade de cada pessoa para fazê-la entender que: sem a consciência do nada não temos como perceber a beleza das maravilhas divinas. Foi, o que aconteceu com a Virgem Maria. Esvaziou-se para entregar tudo e daí para frente, toda cheia de Graça. Assim, concluindo podemos dizer: a Igreja é o que a Virgem Maria foi e, oportunamente, será o que a Virgem Maria é.

 

Não nos pertencemos

 

São João da Cruz, num texto monumental, deixou para nós uma segura e consoladora orientação. Ei-la: no final da vida todos serão julgados pelo amor.

 

Acontece, que existe uma exceção, os padres. Estes serão julgados pela simplicidade de vida, ou seja, pela pratica tranquila da humildade. Cristo, não quis ter sucessores e sim seguidores. Na vida e no ministério dos padres, tudo é Graça. Dom e mistérios, são realidades presentes em nossas vidas e historicamente sinais de presentes a serviço da comunidade. Ninguém é padre para si mesmo. Não nos pertencemos.

 

Depois,de tais considerações podemos concluir que: a simplicidade de vida ou a humildade é de fato o sinal,por excelência da fidelidade ao chamado divino.

 

Sinal de misericórdia

 

Do peito de Cristo, rasgado pela lança, nasceu a Igreja. Ela nasceu para ser historicamente um sinal verdadeiro da misericórdia. O mandato de Cristo é um serviço de bondade, no significado mais vigoroso de restauração.

 

O Eterno, quando nos perdoa, realmente está fazendo um grande e solene investimento em nós. Ele, nos perdoa em função do futuro. Acreditando na conversão, o Senhor nos oferece a chance real para um novo começo. Era, fortemente viva em Cristo, a consciência litúrgica do yon kipur, justamente porque não fala do passado e sim do futuro (ide).

 

A absolvição sacramental é um grande ato de plena restauração. O Eterno, perdoa o passado e propõe o futuro, única possibilidade real. A Igreja, comunidade de fé, é chamada para ser o lugar do perdão e da festa. O mais digno serviço, historicamente, Igreja é ser expressão verdadeira de ternura e vigor. Em outras palavras: misericórdia.

 

Cenáculo e Calvário

 

Existem dois lugares que precisam ser visitados, com frequência, pela Igreja. O cenáculo e o calvário.

 

Visitando o cenáculo, a Igreja é fortemente chamada a uma consciência, sempre mais perene da missão. Ide aos confins do mundo, significa ir ao íntimo de cada pessoa e oferece-la, sobretudo a sua presença de serva e discípula. Ser missionária é da essência da Igreja.

Ao calvário para trazer sempre viva a tarefa do martírio. Sem missão e sem martírio, a Igreja não tem nenhum fundamento e nem futuro. O mundo, carece de santos e de santas. Assim sendo, martírio e missão vão, pela força vigorosa da Graça, realizando a vocação, por excelência, da Igreja = ser sinal.

 

A Igreja só é fiel, quando aponta para Cristo. Todo sinal, indica futuro, ou seja, para frente. Realmente o Espírito Santo sopra a onde quer, menos para traz. Sem o calvário e sem o cenáculo, a Igreja se reduz a uma comunidade de ateus.

 

A obra da caridade

 

A obra da caridade é a mais plena e digna ação de um cristão. Investimento no coração de Deus. Acontece que: deixa de ser realmente caridade se é usada para qualquer outro fim. A principal obra de caridade é justamente a promoção da dignidade humana. Melhorar, sempre mais, a qualidade de vida dos outros.

 

Materialmente falando é a melhor realidade política possível. A política feita com transparência e dignidade é uma excelente característica da verdade e portanto, especial obra de caridade. Cristo é a caridade da Trindade. Nele, o Eterno realiza para todos a plenitude do serviço, especialmente, litúrgico. A realização da caridade é liturgia, portanto ao realizá-la o homem é de fato enobrecido. Ao partilhar os bens materiais, ninguém fica um pouco mais pobre. Acontece uma excelente transferência do mundo histórico para o eterno.

 

A pratica da caridade, requer honestidade e a mais plena ou absoluta descrição. A realização de um novo mundo, depende do grau de simplicidade de todos.

 

Graça e Liberdade

 

Existe um diálogo, constante e profundo entre a Graça e a Liberdade. Tudo o que a Graça deseja é, justamente, educar a Liberdade. Tal, real e verdadeiro fato acontece no coração da história. De tudo o que foi criado, somente o homem é livre e portanto responsável.

 

Cristo é a última e definitiva palavra de Deus. Ele,o Senhor é Deus ao nosso alcance. A liberdade humana é, por excelência, o lugar onde a Graça mais trabalha. O argumento, mais usado pela Graça é a misericórdia, ou seja: Deus não julga e sim compreende. Ao agir de tal modo, a Graça, realiza  na história da vida de cada um, uma obra redentora. Exemplo: a maior obra do Apóstolo Paulo, foi justamente deixar que a Graça trabalhasse sua vida de tal modo a fazê-la, plenamente nova e despertando nele a consciência da vida em Cristo.

 

A liberdade é um grande processo em permanente construção e para ser verdadeira, tem de ser modelada pela Graça. Liberdade sem Graça é escravidão e tal realidade ilude o homem. Estejamos atentos aos movimentos da generosa ação divina e na liberdade dos filhos vivamos.

 

 

Ser Padre é fascinante

O Senhor fez em mim maravilhas. Realmente,tal realidade é, absolutamente, verdadeira em minha vida. Completando, hoje 35 anos de padre, percebo que tudo é Graça sobre Graça. Como Paulo Apóstolo, posso dizer que: tenho ainda um longo caminho a percorrer. No entanto, sei que vivo entre dois limites, o Dom e o Mistério.

 

A Graça sacramental da Ordem, nos configura ao Cristo, por excelência pastor. Se eu não fosse padre,eu seria padre. Para mim, a data da ordenação, é muito mais significativa do que a do natalício. Hoje, diante de Deus digo duas palavras: obrigado e misericórdia. Diante da história digo: firmeza e coragem e diante de mim mesmo digo: prossigamos. Sou muito agradecido e reconheço que o Senhor Deus me trouxe até aqui e agora me conduzirá pelos caminhos da Igreja para que eu possa, continuar querendo o que Ele quer.

 

Ser padre é fascinante. Obrigado Senhor.

 

 

Fazer a diferença

 

O materialismo reinante, induz a um grande mal. Já que tudo é aqui e agora então os valores vitais de sociedade humana ficam num plano muito inferior. Querer levar vantagem em tudo sempre é um grande sinal de distúrbio do caráter. O lucro de qualquer jeito, demonstra  a falta de ética (grave doença moral) e expõe perante os demais a fragilidade real do indivíduo. Agir com esperteza, não é honesto.

 

A riqueza construída na base do pervertido comportamento significa a postura corrupta do indivíduo. Quem é malandro no pouco, será também no muito. O pássaro quando voa, não deixa sinal. Assim o peixe quando nada. Em relação ao homem, a realidade é muito grave e diferente: por onde o homem passa, um sinal fica. A honra é nossa mais importante propriedade. Sejamos pessoas de bem e façamos sempre a diferença positiva.

 

 

Fanáticos e fanatismos

 

O fanatismo, seja ele qual for, é sempre um grande mal. Não existe fanatismo bom e ou positivo. Ele, o fanatismo, é a expressão profunda de duas cruéis doenças: a social e a emocional. Ambas manifestam distúrbios incuráveis. Quando revela no campo do emocional destrói a possibilidade do diálogo e se estabelece a ditadura do eu absoluto.

 

Honestamente, é muito difícil distinguir alguma diferença qualquer entre um membro do talibã que explode o próprio corpo e um cristão fanático que espalha feke news. Ambos já perderam de muito a liberdade e na escravidão mórbida julgam louvar o Senhor Deus com as extremadas violências. São, as primeiras vítimas. Tenhamos a coragem de fazer uma inteligente oposição a tudo isso.

 

Fanáticos, são aqueles que domesticaram o Senhor Deus, reduzindo-O a um mero assessor da loucura humana. Na essência, todos os fanáticos são absolutamente iguais. A diferença fundamental, está apenas no como e no quando loucamente agir.

 

A ditadura do lucro, tem no fanatismo um de seus fundamentais pilares. Carentes de uma reflexão teológica: serena, profunda e madura se revelam: doentes, superficiais e imaturos. Todos os fanáticos são ateus e a violência os troféus das diferentes mortes que promovem. O fanatismo, especialmente o religioso precisa ser enfrentado com ternura e vigor, ou seja: com firmeza e coragem.

 

A escalada ideológica

 

Todos nós, estamos atônitos assistindo mundo a fora uma grande escalada ideológica. Sobretudo na América Latina, tal situação é vigorosamente forte. A racionalidade perdendo espaço para o fanatismo e assim aparece a intolerância geral. Diferentes grupos se colocam em frontal oposição sem a consciência do porque de tal realidade.

 

A radicalização crescente, manifesta a nefasta resposta do vazio ao nada. O fanatismo rouba da dignidade humana a bonita visão, serena e saudável, da responsabilidade coletiva. Não existe estrelismo positivo ou bom. A radicalidade agressiva, fruto predileto do fechamento, favorece a doentia divisão da sociedade em grupos inocentes que são úteis ao interesse daqueles que buscam a glória sem a renúncia necessária. Não existe acordo ideal e sim viável.

 

No tempo presente da história, somos chamados ao desafiador ambiente da tolerância. O mistério da iniquidade, sempre atuante e presente, precisa da mentira para sobreviver e com o grande progresso atual isso fica muito fácil. O fenômeno da Fake News revela a pobreza dos argumentos e a riqueza do nada. Tenhamos pois, a profética coragem de buscar a verdade e de tê-la como único e definitivo argumento.

 

O fanatismo e a intolerância dependem da mentira e dela sobrevivem. O mau, nunca é positivo e seu fruto é a escravidão. Atentai bem, homens e mulheres que somente o bem é bom. Não tenhamos medo do certo e sejamos aliados da santidade.

 

 

Liturgias e posturas

 

Toda pessoa no exercício de sua responsabilidade, deve com naturalidade e transparência ter e praticar a liturgia correspondente. Todo serviço, tem sua liturgia específica. Assim sendo, existe um modo próprio e naturalmente bonito de exercer as diferentes realidades.

 

O imaginário coletivo, ao longo dos tempos, modelou as diversas posturas. Sabemos, que a liturgia de cada trabalho é específica. Posturas próprias que identificam a beleza do serviço, especialmente público. Pois, daí podemos concluir que:posturas de médicos, juízes, funcionários, padres, trabalhadores braçais, alunos e etc.

 

Quando falta a consciência da correspondente liturgia, as pessoas se expõem inadequadamente e vulgarizam o direito da outra pessoa que, sempre merece um atendimento digno. Como é muito salutar ser bem atendido. Ser popular, não significa ser vulgar. Ter uma postura correta é dever de todos nós e direito de todos os outros. Tal comportamento, significa e revela o grau da imaturidade e muitas vezes a fraca educação. Na universidade,os alunos devem demonstrar, com naturalidade, a dignidade da liberdade e do ser um consciente formando. Para todo e qualquer ofício ou tarefa, temos a responsabilidade de praticar a liturgia correta.

 

Realidade de vital importância é a boa postura sempre. Lamentamos que,a sociedade humana esteja passando por um, rigoroso processo de empobrecimento social. As relações humanas, devem expressar o profundo respeito de um para com o outro. Isto é liturgia, é dignidade e enfim um sinal do pessoal amadurecimento emocional. Salvemos a cultura das maléficas futilidades de um vazio cruel.

 

 

Consciência histórica

 

Ter consciência histórica é de grande importância para a devida responsabilidade com a cidadania. Tal realidade, implica não na versão simplória dos acontecimentos e sim na transparência da verdade objetiva. Quando falta tal consciência, a melosa ingenuidade se nos impõe como sendo o absoluto.

 

Todo líder, em qualquer dimensão da vida, precisa buscar, incansavelmente,a profundidade da realidade autenticamente genuína. Para o ingênuo e vulgar, basta a conveniente versão. Expressão do interesse pífio. Não nos iludamos com a verdade fácil, busquemos a consciência da realidade. A corrupção, aprecia o opaco e nele julga ter achado a razão última. A causa real dos acontecimentos, está na junção,clara e objetiva que só o tempo nos permitirá encontrar.

 

A verdade, realmente histórica, gera a certeza moral que sustentará a beleza da sentença. A imagem da justiça é cega não para expressar uma lentidão e sim para provocar a reflexão mais intensa e profunda. Os homens de hoje,escutam com os olhos e também daí frutifica a grandeza da consciência histórica. A presa, fadiga dos maus, favorece a imaturidade e ao mesmo tempo manifesta o descompromisso com a lealdade dos fatos. A pessoa que possuí, consciência histórica,convive com a profundidade da esperança, justamente porque a história é lógica e sequencial. Na história, verdade realmente objetiva, não existe improviso. Sem consciência histórica, somos vítimas dos interesses inconfessáveis daqueles que sonham como se fossem os peritos da mentira. Realmente é como dizia Decart: para bem saber, é preciso antes bem duvidar.

 

 

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