A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi, pois,

ao Senhor da colheita que envie trabalhadores para sua colheita! (Mt 9,37-38)

Nos evangelhos de Mateus e Lucas, em um contexto missionário, Jesus contempla a messe e ensina o Rogate (cf. Mt 9,35-38; Lc 10,2). Nestes versículos temos a metáfora da messe que ora indica a presença e a ação de Deus, ora o papel e o serviço evangelizador da Igreja em saída missionária.

No Antigo Testamento

O termo colheita/messe, no Antigo Testamento é sinal das bênçãos de Deus (cf. Lv 26,5). No livro do Êxodo, encontramos a festa litúrgica da messe e os israelitas oferecerem a Iahweh as primícias da safra (cf. Ex 23,16). Para os profetas, a colheita é sinal da bondade de Deus que faz render a cada um conforme o fruto de suas obras (cf. Jr 17,10; Os 10,12). O profeta Joel relaciona o tema da messe ao juízo divino: “Lançai a foice, porque a messe está madura; vinde, pisai, porque o lagar está cheio, as tinas transbordam, pois grande é a sua malícia” (Jl 4,13). O livro dos Provérbios nos recorda que sem fadiga não há messe (cf. Pr 20,4). O salmista canta: “Os que semeiam com lágrimas, ceifam em meio a canções. Vão andando e chorando ao levar a semente. Ao regressar, voltam cantando, trazendo seus feixes” (Sl 126,5-6).

A messe é a conclusão, é o término da obra do Divino agricultor, que começou o seu trabalho com a semeadura. Ela é abundante e seria estranho pensar numa messe minguada. O simbolismo da messe indica a bondade de Deus, o Senhor da messe. Ela é propriedade, pertence a Deus. Se os operários e operárias trabalham na messe é porque o dono os chamou e enviou.

O Reino de Deus

A messe simboliza o Reino de Deus no meio da humanidade. Em qualidade de Messias, Jesus inaugurou a época da venturosa colheita, da fartura, com a messe já madura (cf. Jo 4,35). O Reino, tema central da pregação de Jesus Cristo, portanto, anterior ao ministério e a atividade missionária dos seguidores do Profeta da Galileia, traz a força da semente que forma e amadure nas espigas. Esta força vital da semente é dom de Deus, é ação do Espírito Santo que atua nas pessoas e comunidades. Assim, a metáfora da messe também aponta para a alegria da colheira e assinala o desenvolvimento humano: somos chamados à maturidade, ao crescimento e aos frutos da fé, à plenitude da vida.

Jesus, operário na messe do Pai

Jesus, o Verbo que se fez carne (cf. Jo 1,14), é o operário que nos precedeu e nos inseriu na obra do Pai (cf. Jo 4,35-38). Desta maneira, a messe recebe uma acentuada tonalidade cristológica com suas consequências pastorais. Há ainda a dimensão escatológica que indica o juízo definitivo, a colheita da messe madura: “Mete tua foice e ceifa, pois chegou a hora da colheita: a seara da terra está madura” (Ap 14,15).

O trabalho na messe realizado pelos discípulos possui a força de uma revelação. Os operários da messe revelam o amor de Deus mediante a própria missão. O árduo trabalho dos discípulos missionários, convidados por Jesus a ceifar na messe do Pai, é um prolongamento da missão e da obediência do Filho. O Pai é quem envia o Operário para ceifar a messe (cf. Jo 15,1). O serviço dos operários nos campos do Pai atualiza a ação de Jesus que veio para dar vida (cf. Jo 10,10). Assim, os discípulos repetem, a seu modo e com criatividade, o mesmo movimento de Jesus: de Deus para os homens – a messe, e dos homens para Deus, o Pai (cf. Jo 17,18).

Um serviço comunitário: missão de todos

O Mestre envia os seus discípulos para um serviço comunitário. A ceifa não é um trabalho individual, mas deve ser concretizada por todos. O evangelista nos mostra um grupo de operários que agem comunitariamente conforme indica a metáfora da messe pronta para a colheita. Na messe, lugar de fadiga e de alegria (cf. Jo 4,36; 15,20-21), o ceifador testemunha seu amor e vive a intimidade com o Pai que nos envia para a colheita onde outros afadigaram. O Rogate, a oração ao Senhor da messe, é para que Ele envie operários e operárias e, na sua colheita, nada se perca. A messe é grande, os operários são poucos. Pedi, pois…

Pe. Gilson Luiz Maia, RCI