Teologia – Liturgia – Usanças

 

Advento é uma palavra que nos remete aos cultos da antiga Grécia – “parousía / presença” – onde o termo indicava a vinda anual da divindade ao templo para visitar os fieis. Portanto a sua origem nos remete a uma tradição pagã da Europa. No Latim – adventus – aponta para a vinda de Jesus. É um tempo litúrgico da Igreja que antecede o Natal do Senhor e corresponde às quatro semanas que nos preparam para acolher o Verbo que se fez carne, o nascimento de Jesus em Belém (Lc 1-2; Jo 1,14).

 

Com o advento começa um novo ano litúrgico atestado pela primeira vez em Roma pelo Papa e Doutor da Igreja, São Gregório Magno (+ 604). É importante observar que não se trata de um tempo penitencial como aquele da quaresma que nos prepara para a Páscoa da ressurreição do Senhor. Mas é a alegre expectativa para celebrar a Encarnação do Verbo. O advento começa no primeiro domingo após a Solenidade de Cristo Rei. São quatro semanas divididas em duas partes:

 

I – Começa com o domingo entre 27 de novembro aos 3 de dezembro e se estende até o dia 16. Neste período meditamos sobre a segunda, última e definitiva vinda de Cristo no final dos tempos. É a parusia, a vinda do Senhor da história.

 

II – Nas duas semanas sucessivas, isto é, na terceira e quarta semana (do dia 17 ao dia 24), refletimos a chegada do Menino Jesus, o Emanuel – Deus conosco – o Filho nascido da Virgem Maria (Mt 1,23). Aliás, no início do advento, dia 8 de dezembro, celebramos a Festa da Imaculada Conceição que aponta para a maternidade divina profetizada ao povo de Israel e meditamos a anunciação do anjo a Virgem de Nazaré. Outro traço do Advento são as leituras dos textos proféticos – Isaías – que assinalam para o nascimento do Messias, as cartas apostólicas com anúncios e exortações próprias para este tempo litúrgico e as páginas dos evangelhos com um destaque especial para a figura e missão de João Batista, o precursor.

 

Nas celebrações do Advento não se recita o Glória que soará forte na missa da noite Santa do Natal quando nos uniremos aos anjos para entoar este hino e dar glória a Deus pelo dom do seu Filho Unigênito e a Salvação. Neste tempo as flores e os instrumentos são usados com moderação para que não seja antecipada a plena alegria do Natal de Jesus.

 

As cores dos paramentos litúrgicos é a roxa. Mas no terceiro domingo –  domingo da alegria – se pode usar, facultativo, a cor rosada que indica a alegria pela proximidade da vinda do Salvador. Com a vinda de Jesus chegamos à plenitude do tempo (cf. Gl 4,4) e o Reino de Deus está próximo (cf. Mc 1,15). O Advento recorda também o Deus da revelação: “Aquele que é, que era e que vem” (Ap 1,4-8), que está realizando a salvação cuja consumação se cumprirá no “dia do Senhor”, no final dos tempos.

 

Neste primeiro tempo do ano litúrgico a Igreja nos lembra alguns valores essenciais da fé: a esperança vigilante (cf. 1Tm 1,1), a alegria do coração (cf. Lc 2,10-14), a simplicidade e a mudança de vida. O profeta Isaías anuncia a libertação do povo eleito despertando expectativa nos exilados. Para o povo de Israel Isaías é o profeta da esperança, da criação de uma nova Jerusalém e da vinda do Senhor. João Batista, o último dos profetas, aquele que prepara o caminho e anuncia a vinda do Senhor (Lc 7,26-28), prega a urgência da conversão e aponta para o “Cordeiro de Deus” como presença já estabelecida no meio do povo (cf. Jo 1,29).

 

No começo ou alguns dias antes do Advento são montados o presépio e a árvore de Natal. No decorrer dos quatro domingos do Advento também colocamos ao lado do altar a tradicional coroa de velas que serão acesas nas suas variadas cores. A coroa é feita de galhos sempre verdes entrelaçados formando um círculo, no qual são colocadas 4 grandes velas representando as 4 semanas do Advento. O círculo da coroa, figura geométrica sem princípio e fim, é sinal do amor de Deus que é eterno, sem princípio e nem fim, e também do nosso amor a Deus e ao próximo. Além disso o círculo dá uma ideia de “elo”, de união entre Deus e as pessoas como uma grande “Aliança”. As ramas ou fitas são verdes, cor da esperança e da vida. A fita e o laço vermelho simbolizam o Amor de Deus ou o próprio Espírito Santo a embalar toda criação que é remida com a chegada de Jesus. As bolas simbolizam os frutos do Espírito Santo que brotam no coração de cada cristão. Os detalhes dourados prefiguram a glória do Reino que virá.

 

A cada domingo uma vela da coroa é acesa dissipando as trevas. Na antiga tradição pagã as velas representavam o deus sol, sua luz e calor. Para nós a luz nascente indica a proximidade do Natal, quando Cristo Luz do Mundo, brilhará para toda a humanidade e representa, também, nossa fé e alegria pelo Deus que vem. A cor roxa das velas nos convida a purificar nossos corações para acolher o Cristo. As quatro velas da coroa simbolizam, cada uma delas, uma das quatro semanas do Advento. No início vemos nossa coroa sem luz e sem brilho. Recorda-nos a experiência da escuridão do pecado. À medida que se vai aproximando o Natal vamos, ao passo das semanas do Advento, acendendo uma a uma. A primeira vela lembra o perdão concedido a Adão e Eva. A segunda simboliza a fé de Abraão e dos outros Patriarcas. A terceira vela de cor rosa nos chama à alegria, pois o Senhor está próximo. Ela nos recorda a alegria do rei Davi que recebeu de Deus a promessa de uma aliança eterna. A quarta recorda os Profetas que anunciaram a chegada do Salvador. Vivamos com a intensidade da fé o tempo do Advento e preparemos de coração o Natal do Senhor.  Ele é nossa luz, é Filho de Deus nascido da Virgem Maria… É o único Salvador. Amém.

 

Textos litúrgicos do advento – Ano A (Evangelho de Mateus)

 

I Domingo 

Roxo

II Domingo

Branco

III Domingo 

Rosa

IV Domingo

Roxo

Is 2,1-5

Sl 121 (122)

Rm 13,11-14a

Mt 24,37-44

 

 

 

Gn 3,9-15.20

Sl 97 (98)

Ef 1,3-6.11-12

Lc 1,26-38

Imaculada Conceição

 

Is 35,1-6a.10

Sl 145 (146)

Tg 5,7-10

Mt 11,2-11

 

 

 

Is 7,10-14

Sl 23 (24)

Rm 1,1-7

Mt 1,18-24