Meditação – Assembleia capitular da Província São Lucas

Sorocaba, 19 de setembro de 2018

 

O Senhor nos deu a graça de poder servir à grande família Rogacionista na função temporária de conselheiro geral. Nas reuniões do Conselho ou nas nossas andanças em visita às comunidades espalhadas pelos 28 países / vamos conhecendo / e em alguns casos / “descobrindo” a Congregação e seus religiosos, a família do Rogate e seu universo / com suas luzes e sombras / desafios e horizontes de esperanças. Na semana passada participamos da assembleia da delegação de Nossa Senhora de Guadalupe em Tonalá, Guadalajara, México. Fomos em nome do Governo Geral e tivemos a oportunidade de conhecer melhor a caminhada daqueles co-irmãos Rogacionistas. Todos querem falar / contar sonhos / manifestar desafios / ou até mesmo desabafar. Nossa missão: escutar / animar / consolar / refletir e celebrar juntos.

 

No Governo Geral / desde a sua internacionalidade / na atual configuração temos Italianos, filipino, indiano e brasileiro) a gente aprende a pensar na totalidade. Olhar para a Igreja e para a Congregação. Sabemos de uma certa limitação que tínhamos, quando éramos pároco / de concentrar a visão e a missão ao circulo da comunidade paroquial. Com o passar do tempo vamos / sem perceber / reduzindo o alcance de nossa missão e acabamos por achar que a congregação / a província é a paróquia… ou aquela obra que nos foi confiada. Pouco a pouco, nas sutilezas do caminho, vamos construindo alguns muros ou fronteiras no lugar onde estamos inseridos. Vamos fincando raízes, perdendo a mobilidade, talvez até criando manias / sentindo-se proprietários / e ali / envelhecemos. Corremos o risco de não acompanhar mais o Cristo do Rogate, itinerante na messe de Deus, nos povoados e cidades. Se não abrirmos os olhos vamos nos afastando de Jesus, vamos nos “desconsagrando” e até mesmo “descristianizando.”

 

A nossa Província / graças ao esforço dos superiores e seus conselhos que a serviram nestes 68 anos (1950-2018), mas também graças ao contributo de cada um que a compõe, é uma boa referência para as outras circunscrições Rogacionistas. Vemos / por exemplo / o tema dos religiosos idosos. Olha a atenção que a comunidade religiosa e leiga de Bauru dispensa ao Pe. Alberto. E os exemplos poderiam ir se multiplicando e variando de setores e comunidades… Em muitos casos e aspectos a Província São Lucas / da qual tenho orgulho de pertencer / é um bom espelho.

 

Queremos uma Província em saída missionária / em conformidade com o magistério do Papa Francisco. Aqui, talvez percebemos uma certa tensão: entre aqueles que desejam e se dispõem em construir uma Província em Saída missionária de uma parte e aqueles que se assustam com a palavra “saída”. Dois verbos em tensão: sair e ficar. Avançar ou estacionar? (dar seta, parar e travar).

 

O que seria da nossa Congregação sem a missão? O que seria de nossa Província sem a missão? Sem as saídas / nem sempre serenas e algumas vezes com dores de parto / que fizemos para a missão? Saídas geográficas e saídas no interior de cada coração / de cada religioso. Saídas existenciais (Há resistências / mas também há testemunhas).

 

Temos também os desafios. Permanece, por exemplo / o desafio da formação inicial e continua, permanente. Pessoalmente sinto a necessidade de um acompanhamento mais sistemático, organizado, dos religiosos recém ordenados. Ou um companhamento mais adequado ou intenso dos irmãos leigos e leigas com quem partilhamos o Rogate. Podemos também continuar incrementando a sinodalidade da Província (e neste quesito também somos modelos para as outras / Epaf, EAR, Eage).

 

Realmente é uma grande graça / um privilégio / que o Senhor nos concedeu de sair para servir desde o governo geral. Moro na via Tuscolana, 167, Roma – Cúria Geral. Uma das maiores comunidades da Congregação: 28 pessoas de várias nacionalidades. Um parenteses: estamos com as contas no vermelho. Bem vermelho.

Somos chamados a dilatar o coração, a superar a tentação de olhar só para os próprios interesses, de adotar apenas critérios que atendem as necessidades pessoais ou regionais, às vezes, tão contraditórias e pequenas diante da mensagem do Evangelho.

Sabe / precisamos estar atentos para não reduzir o ministério / a vocação e até mesmo o carisma que acolhemos como dom do Espírito Santo. É forte a tentação que nos leva a perder a perspectiva da totalidade e nos conformamos com a parte. Pensamos em nossa comunidade e esquecemos da Província. Pensamos na Província e esquecemos da Congregação. Pensamos na Congregação e esquecemos da Igreja. Pensamos na Igreja e esquecemos do Reino. Outro risco que temos: reduzir o Carisma a inspiração do Rogate, a oração… e esquecer do Zancone. Ou vice versa. Nossa moeda, como todas as moedas, tem dois lados e não vamos nos contentar com apenas um deles. Queremos ser / somos / Profetas da Caridade (Zancone) à luz do Rogate (no tema capitular temos os nossos 2 ícones carismáticos).

Nossa Província tem mudado muito nestes tempos acelerados / líquidos e cada vez mais digitais. Antes éramos todos jovens e / alguns poucos / menos jovens. Atualmente/ já temos graças a Deus / o time dos seniors. Novas realidades vão surgindo e novas respostas precisamos elaborar juntos para responder aos novos desafios.

Hoje / talvez muito mais do que ontem / precisamos implorar – confiantes ao Espírito Santo – o dom do discernimento. Discernir sempre – a cada esquina da vida – o que Deus quer de nós.  No discernimento / humilde e sereno / pessoal e comunitário / se dá também a nossa conversão. Vem uma pergunta: onde podemos melhorar? O que ganhamos ao longo do nosso caminho enquanto vocacionados do Senhor e o que perdemos? Talvez ganhamos o que deveríamos perder e perdemos o que deveríamos conservar.

Que o Senhor nos ilumine / nos ajude a discernir sua vontade neste desafiador momento da história. De nossa parte / vamos oferecer o que temos de melhor para Jesus / à sua Igreja e à nossa família religiosa. O novo provincial / com o conselho que vamos eleger / não poderá fazer muito sem a nossa generosa e dedicada entrega à causa de Jesus / sem a nossa decisiva colaboração. Queremos ser / parafraseando o Papa Francisco / operários do Senhor com o cheiro da messe. Operários prontos para sair. Afinal / somos ou não somos profetas da caridade à luz do Rogate? Deus nos abençoe. Amém.

Pe. Gilson Luiz Maia, RCI.