Será que os animais nos acompanharão ao paraíso? É possível ficarmos felizes no céu sem a presença de nossos estimados amigos animais, que na terra foram tão fiéis e amorosos conosco? Segundo o Papa Francisco, os animais nos acompanharão no paraíso e São João Paulo II disse que os animais também receberam do Criador o “hálito da vida” (cf. Gn 1,30). O Papa Paulo VI afirmou que veremos os animais na eternidade de Cristo e Bento XVI, contradisse essas afirmações falando que com a morte os animais diluem no nada. De modo sintético, os teólogos da Igreja se interrogam sobre esse tema e suas opiniões são variadas e divergentes.

Na Bíblia encontramos mais de três mil citações de animais como: serpentes, ovelhas, cabras, pássaros do céu, pombas, galinhas, dragões, escorpiões, raposas, camelos, leões, lobos, cavalos, asnos, bois, porcos, cachorrinhos, peixes… Recorda-se também a história da Arca de Noé, que recebeu ordens divinas de salvar também os animais (cf. Gn 7). O salmista reza: “Os homens e os animais tu salvas, Senhor” (Sl 36,7). Todos são preciosos e únicos. Todos são “obras das mãos de Deus” (cf. Sl 19).

Isaías, o profeta da esperança, aponta para o futuro com harmoniosa expectativa: Assim escreveu o profeta: “O lobo, então, será hóspede do cordeiro, o leopardo vai se deitar ao lado do cabrito, o bezerro e o leãozinho pastam juntos, uma criança pequena toca os dois, a ursa e a vaca estarão pastando, suas crias deitadas lado a lado; o leão, assim como o boi, comerá capim. O bebê vai brincar no buraco da cobra venenosa, a criancinha enfia a mão no esconderijo da serpente.” (Is 11,6-8). Também em Isaías, e não nos evangelhos, inspira-se a nossa tradição natalina de montar o presépio com a presença dos animais (cf. Is 1,3).

Nos evangelhos Jesus é identificado como o “Cordeiro de Deus” (cf. Jo 1,29.35) e no momento do batismo nas águas do Jordão, uma pomba pousou sobre ele para indicar a presença do Espírito Santo (cf. Mt 3,16; Mc 1,10; Lc 3,22; Jo 1,32). Em outras passagens ele é simbolizado por outras imagens e até por uma “serpente” que salva (cf. Jo 3,14-15; veja Nm 21,4-9). Os discípulos também são relacionados com animais. Recordam-se as negações de Pedro antes do cantar do galo (cf. Jo 13,37; 18,27) e do mandato missionário quando o Mestre disse que os enviava como ovelhas no meio de lobos e que deveriam ser “prudentes como as serpentes e simples como as pombas” (cf. Mt 10,16-17). O apóstolo Paulo, na epístola aos Romanos afirma: “toda a criação geme em dores de parto” e na carta ao Colossenses lemos: “Nele foram criadas todas as coisas, no céu e na terra, os seres visíveis e os invisíveis” (Cl 1,16).

Os quatro evangelhos, exceto o livro de Mateus representado por um homem para assinalar a origem ou a genealogia citada no primeiro capítulo desta obra (cf. Mt 1,1-17), são simbolizados por animais conforme uma passagem do Apocalipse: “Na frente do trono havia como um mar de vidro semelhante a cristal. No centro, em volta do trono, havia quatro seres vivos, cheios de olhos pela frente e por detrás. O primeiro ser vivo era semelhante a um leão; o segundo era semelhante a um touro; o terceiro tinha um rosto como de ser humano; o quarto era semelhante a uma águia a voar” (Ap 4,6-7; veja também Ez 1,5-21).

O evangelho de Marcos é representado pelo Leão, que assinala o “rugido” de João Batista no deserto com o qual começa essa obra (cf. Mc 1,1-11). Um touro simboliza o evangelho de Lucas para recordar o sacrifício do sacerdote Zacarias no templo de Jerusalém (cf. Lc 1,5-25). João, também conhecido como o quarto Evangelho, é considerado o “evangelho espiritual” e tem como símbolo uma águia.

Os animais são dons de Deus para a humanidade e na Bíblia aparecem como puros ou impuros (cf. Dt 14,3-21; Lv 11). Eles são presentes do Pai para os filhos que no livro do Gênesis foram chamados a dar nomes às criaturas (cf. Gn 2,20). Observa-se que na Sagrada Escritura dar nome não significa ter poder sobre os animais, mas cuidar, proteger e amar os dons recebidos.

Rezemos o cântico de Daniel: “Monstros do mar e tudo o que nada pelas águas, bendizei ao Senhor; aclamai e exaltai-o para sempre! Todas as aves do céu, bendizei ao Senhor; aclamai e exaltai-o para sempre! Animais silvestres e domésticos, bendizei ao Senhor; aclamai e exaltai-o para sempre! Filhos dos homens, bendizei ao Senhor; aclamai e exaltai-o para sempre!” (Dn 3,79-82).

Não maltrate o que Deus criou e tampouco despreze os dons do Senhor.

Pe. Gilson Luiz Maia, RCI.