O verbo Rogate, imperativo do latim que sintetiza o carisma e o patrimônio espiritual de santo Aníbal Maria e de seus filhos espirituais, a família carismática do Rogate, aparece nos evangelhos de Mateus e Lucas com uma alusão em João. O Rogate também se encontra no evangelho apócrifo de Tomé, que traz ditos atribuídos a Jesus, com certa semelhança com os que encontramos nos evangelhos canônicos. Para uma visão de conjunto apresentamos os versículos evangélicos na forma de sinopse.

Apócrifo de ToméMateusLucasJoão
“A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi, pois, ao Senhor da colheita que envie trabalhadores para sua colheita” (Tomé, 73)“A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi, pois, ao Senhor da colheita que envie trabalhadores para sua colheita” (Mt 9,37-38)“A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi, pois, ao Senhor da colheita que mande trabalhadores para sua colheita” (Lc 10,2)

“Não dizeis vós: Ainda quatro meses, e aí vem a colheita? Pois eu vos digo: levantai os olhos e vede os campos, como estão brancos, prontos para a colheita!” (Jo 4,35)


Canônicos e apócrifos são dois termos de origem grega que se contrapõem. O termo canônico deriva da palavra cânone e indica uma unidade de medida – “cana” / “vara” – para medir a extensão de alguma coisa. Assim, é considerado livro canônico aquele texto que a autoridade considera que está dentro da medida – conforme a regra estabelecida pela Igreja. Os textos que não correspondem às medidas ou critérios são considerados não canônicos, ou apócrifos por estar fora das regras da comunidade, sendo excluídos da liturgia e da catequese.

O evangelho apócrifo atribuído a Tomé com suas 114 sentenças é o mais famoso texto apócrifo encontrado em dezembro de 1945 por pastores beduínos próximos à cidade de Nag Hammadi, no alto Egito, à margem direita do Nilo. Importa observar, porém, que o manuscrito foi elaborado em grego, na Síria, entre os anos 40 a 140 d.C. Portanto após o tempo histórico de Jesus e do apóstolo Tomé, também conhecido como Dídimo (= gêmeo – cf. Jo 20,24).

Na sinopse fica evidente que as expressões de Mateus e Lucas se encontram também no evangelho apócrifo de Tomé, que é uma coleção de ditos do Senhor segundo uma visão gnóstica incompatível com o Novo Testamento. Os gnósticos formam uma corrente de pensadores que pregam a salvação mediante o conhecimento de verdades ocultas (gnosis – sabedoria suprema / conhecimento superior – iluminação). Eles se consideram destinatários da “sabedoria” de Cristo reservada aos eleitos e iniciados. Neste sentido, o Rogate é a oração dos eleitos, elemento fundamental no pensamento dos gnósticos, com o seu dualismo entre matéria e espírito e a oposição entre o Criador do mundo material (mau) e o Deus desconhecido, que é luz e bondade.

O Rogate é o imperativo do Verbo. Jesus é o Verbo, o Cristo do Rogate, a oração que implora a vinda de novos operários para trabalhar na messe do Senhor, os campos já maduros para a colheita espiritual que sinaliza para a missão. Rogai, pois…

Pe. Gilson Luiz Maia, RCI