Faz bem ao coração contemplar a face dos seguidores de Jesus que marcaram a história com uma vida entregue à causa do Reino de Deus. Santo Aníbal é um destes discípulos do Senhor que nos deixou um luminoso e cristalino testemunho de radical adesão ao Evangelho.

Terceiro filho da nobre família Di Francia, Aníbal nasceu na cidade de Messina, Sicília, Itália, no dia 5 de julho de 1851. Seus pais, o Cavalheiro Francisco Di Francia – Marquês de Santa Catarina de Jônio, vice-cônsul pontifício e capitão honorário da marinha – e a Sra. Ana Toscano, unidos em matrimônio no dia 2 de junho de 1847, cultivavam uma fé profunda e com fervor apresentaram o recém-nascido Maria Aníbal Di Francia, na igreja de São Lourenço para ser batizado. Em outubro de 1852, com quatorze meses de vida, de maneira repentina, Aníbal ficou órfão de pai e sua mãe, com apenas 22 anos de idade, ficou viúva e estava grávida do quarto filho. Frente a esta inesperada e difícil situação, embora fosse parte da aristocracia siciliana, a jovem Ana Toscano se viu obrigada a confiar o pequeno Aníbal aos cuidados de uma tia que vivia em um ambiente escuro e inadequado para o saudável crescimento da criança. Com sete anos de idade, Aníbal entrou no renomado Colégio Cisterciense de Messina. Mais tarde, ele acompanhou sua família para Nápoles, à casa de sua avó materna, a Sra. Matilde Montanaro Toscano. Embora motivado pela família para abraçar a carreira militar, Aníbal seguiu os seus estudos e discernimento vocacional. De volta à bela cidade de Messina, aos 17 anos de idade ele obteve de seu confessor a permissão e o privilégio para receber diariamente a santa Eucaristia. Começava a amadurecer no seu coração, habituado ao silêncio de adoração diante do Santíssimo Sacramento e à meditação da Sagrada Escritura, a inspiração de rezar pelas vocações, a inteligência e o zelo pelo carisma do Rogate conforme narra os evangelhos:

Ao ver as multidões, Jesus encheu-se de compaixão por elas, porque estavam cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor. Então disse aos discípulos: “A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi, pois, ao Senhor da colheita que envie trabalhadores para sua colheita!” (Mt 9,38; Lc 10,2).

O termo Rogate, verbo imperativo do latim que aparece no versículo bíblico que inspirou o jovem Aníbal, sintetiza o seu carisma e o ideal de sua vida. Sua vocação ao sacerdócio, descrita por ele mesmo como “repentina, irresistível e segura”, encontrou certa resistência de sua mãe, que talvez estava mais propensa a aceitar aquela de seu outro filho, Francisco Di Francia, que também será ordenado sacerdote. No dia 8 de dezembro de 1869, ocasião em que o Papa Pio IX abriu o Concílio Vaticano I em Roma, Aníbal e seu irmão Francisco receberam o hábito religioso no anseio de servir a Deus no próximo. Neste mesmo ano ele publicou seus “primeiros versos” expondo sua refinada veia poética.

No dia 26 de maio de 1877, o jovem Aníbal foi ordenado diácono pela imposição das mãos do Arcebispo de Messina, D. Guiseppe Guarino. Alguns meses depois, ele teve um encontrou providencial com o cego mendigo, Francisco Zancone. Após dar uma esmola ao pobre, Aníbal prometeu de ir visitá-lo no miserável bairro Avinhão na periferia da cidade. Aquelas cenas vistas em Avinhão ficaram gravadas na mente e no coração do jovem diácono que foi ordenado sacerdote no dia 16 de março de 1878, na igreja do Espírito Santo, em Messina. Imediatamente e renunciando às ambições de uma promissora carreira eclesiástica, o neo-sacerdote começou o seu apostolado junto aos pobres de Avinhão.

Em 1887 Pe. Aníbal fundou a congregação das Filhas do Divino Zelo, e dez anos depois a Congregação dos Rogacionistas do Coração de Jesus. Duas famílias religiosas que se espalharam pelos continentes para testemunhar e difundir o carisma do Rogate compreendido como uma moeda com os seus dois lados: o serviço aos pobres e a oração por todas as vocações.

O serviço aos pobres – a caridade – e o zelo pelo Rogate – a oração e a promoção das vocações – não foram abalados pelo violento terremoto que deixou 80 mil mortos na cidade de Messina, no amanhecer do dia 28 de dezembro de 1908. Dedicado a promoção dos menores abandonados e com profunda sensibilidade social, Pe. Aníbal era “obstinado” na difusão da oração pelas vocações – Rogate – no qual via o “remédio infalível” para multiplicar os operários e operárias da messe de Deus e alcançar a salvação da humanidade.

Pe. Aníbal faleceu com quase 76 anos de idade em Messina no dia 1 de junho de 1927. Seus filhos e filhas espirituais, os Rogacionistas e as Filhas do Divino Zelo, ao lado de muitos jovens, leigos e leigas membros da grande família carismática do Rogate, continuam as obras e levam adiante o sonho e o ideal de santo Aníbal, chamado pelo Papa João Paulo II, na homilia da missa de sua canonização (Roma, 16 de maio de 2004), de Apóstolo das vocações e pai dos pobres.

Pe. Gilson Luiz Maia, RCI